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26 de agosto de 2018

HADDAH, MARINA E CIRO DEFLAGRAM DISPUTA NA ESQUERDA PARA HERDAR VOTO DE LULA



26/08 - A pouco mais de um mês das eleições, no entanto, ele ainda percorre as ruas do País quase como um desconhecido. Diante da insistência do PT em esticar ao máximo a candidatura de Lula mesmo sabendo que ela é ilegal e será interrompida antes de chegar às urnas eletrônicas, Haddad carrega todos os ônus da estratégia.

Como não é o candidato à Presidência, mas a vice, ele não participa de debates e não entra nos noticiários no momento de divulgação das agendas. Vira, assim, apenas mais um, hoje em desvantagem, a disputar o espólio da expressiva votação de Lula.

Se Haddad é o herdeiro oficial ainda não oficializado, Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) apostam na capacidade de atraírem eleitores de Lula por encarnarem perfis igualmente de esquerda. Ambos foram ministros dos governos de Lula. Ciro tem a seu favor o fato de ter sido, até o PT resolver abandoná-lo, um ferrenho defensor de Lula. Marina conta com o fato de ser uma fundadora do PT, aliada do ambientalista e líder político Chico Mendes.

Do total de 110 milhões de eleitores que devem de fato comparecer às urnas, cerca de 60 milhões estariam na órbita de influência do ex-presidente Lula. São os chamados votos sub judice. A pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira 22 indica que, se pudesse ser candidato, Lula teria 39% das intenções de voto.

Sem o petista, os votos atribuídos a ele distribuem-se entre vários candidatos, deixando, hoje, Haddad na rabeira da disputa, com somente 4%. Marina e Ciro dobram suas intenções de voto: ela pula para 16% e ele vai para 10%. Não é um cenário consolidado. Em um mês e dez dias, o quadro pode ser outro. O suficiente para esquentar a guerra fratricida no espectro político de esquerda de agora em diante.

O campo principal da batalha no qual Ciro, Marina e Haddad travarão pelos votos de Lula é o eixo Norte-Nordeste. Berço da desigualdade social mais profunda, o Nordeste tornou-se um divisor de águas nas últimas eleições e é lá onde reside a maior parte dos eleitores do Lula.

Justamente por conta disso, a região tem recebido nos últimos dias uma verdadeira romaria de candidatos. Na semana passada, Marina Silva (Rede) esteve em dois estados nordestinos. Visitou Fortaleza, capital do Ceará, na segunda-feira 20 e Recife, capital de Pernambuco, no dia seguinte. Para se viabilizar como desaguadouro dos votos da esquerda, Marina trabalha para desfazer a imagem de mulher frágil, cultivada em terrenos férteis há quase uma década, com uma importante contribuição dela própria. Agora, ela tenta demonstrar personalidade – quer personificar uma árvore típica de sua região: a biorana. “Experimenta bater com o machado: sai faísca e não verga”, repete Marina em vídeos que circulam na internet. A estratégia percorreu o debate RedeTV!/IstoÉ na sexta-feira 18.

Em dado momento da refrega, a candidata do Acre partiu para cima de Bolsonaro deixando-o sem ação. “Você acha que resolve tudo no grito”, reagiu diante de uma pergunta mais áspera do candidato do PSL.

Pesquisas internas revelam que a postura a levou a amealhar votos femininos. A mudança no perfil da candidata envolve aspectos visuais e estéticos. Nos últimos dias, Marina promoveu sutis mudanças no seu figurino, reduzindo o uso de ornamentos amazônicos.

Para manter-se em alta com as mulheres, Marina promete inseri-las no processo produtivo. Se eleita, ele promete investir em creches e escola de tempo integral e dará apoio ao empreendedorismo feminino. A candidata da Rede também acena viabilizar o acesso de mulheres ao microcrédito e oferecer assistência técnica para que elas possam abrir o próprio negócio. 

Assim como Marina, Ciro Gomes empreende uma guinada comportamental para conseguir herdar os votos de Lula. Só que no sentido inverso: Ciro modera o discurso. Apresenta-se mais “Cirinho paz e amor” do que nunca.

Depois de tropeçar seguidamente na língua, Ciro apareceu com posicionamento bem mais ameno nos primeiros debates, onde tem feito questão de começar suas perguntas elogiando o candidato adversário e o chamando de “amigo”. De outro lado, aposta em algumas propostas populistas. Como a de que vai resolver o endividamento de 63 milhões de pessoas. Se pudesse, convocaria Zeca Pagodinho para cantar em prosa e verso em seus comícios o samba “Eu vou tirar seu nome do SPC”. Ciro também pretende fazer um aceno de políticas públicas às mulheres, discutindo melhorias no sistema de saúde e de assistência educacional. 

Para seduzir o eleitorado do Nordeste, Ciro Gomes aposta na sua origem. Embora seja paulista, nascido na mesma Pindamonhangaba de Geraldo Alckmin, Ciro mudou-se criança para a cidade de Sobral, no Ceará. Sua fala carrega forte sotaque cearense. A teórica vantagem pode ser um problema para Ciro. Explica-se: no Ceará, ele tem convivência pacífica com o PT do governador Camilo Santana, candidato à reeleição. Em outros estados nordestinos, no entanto, a máquina petista trabalhou forte contra ele.

Um caso notório é Pernambuco, ponto central da intervenção feita pelo PT para evitar que o PSB virasse aliado de Ciro, robustecendo a sua candidatura. Assim, integrantes da campanha do pedetista acreditam que ele terá mais dificuldade justamente nos Estados em que o PT tem maior protagonismo, como Bahia e Piauí. 

Enquanto Ciro já colocou o pé na estrada há mais de um mês, o único herdeiro com a chancela oficial, Fernando Haddad começou a percorrer o País apenas na última semana e com a foto de Lula debaixo do braço. Os primeiros programas de TV a serem gravados pelo PT pretendem fazer uma fusão de frases nas quais se passará a ideia de que Lula transmuta-se em Fernando Haddad. Passam de “Lula e Haddad” para “Lula é Haddad”, em momento a ser definido. Seu problema será ser capaz de obter efeito para essa mensagem numa campanha de pouco mais de 30 dias, onde, oficialmente, ele começa não sendo o candidato. 

E o desafio é ainda maior porque as pesquisas mostram que Haddad é mais desconhecido justamente onde Lula tem mais votos. Os maiores índices de desconhecimento do ex-prefeito são no Norte e no Nordeste: 54% e 51%, respectivamente. Para petistas, como o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, Haddad não pode ser apenas o avatar de Lula na disputa. 

Precisa ter um perfil próprio colocado para o eleitor. “Não adianta querer vesti-lo de Lula. Ele (Haddad) não é o Lula”, afirmou. Há outro elemento importante pouco levado em consideração. A tragédia do poste 1 – Dilma Rousseff – permanece vivíssima na memória do eleitor. O eleitorado lulista arriscaria votar de novo num preposto dele, o poste 2, diante da profunda crise legada pelo poste 1? Para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília, Haddad pode até ser mesmo o maior beneficiário do capital político de Lula. Mas não numa parcela suficiente alçá-lo ao segundo turno. “Pelo tempo curto, a força de Lula não será tão grande como foi em 2010, quando ele elegeu Dilma Rousseff”, analisa. Para quem quer atrair o eleitorado lulista, Fleischer recomenda sola de sapato. 

“As campanhas de rua serão importantes porque os telejornais locais vão cobrir. É uma oportunidade”, salienta Fleischer. Em jogo, a tão acalentada vaga no segundo turno.

(Revista Isto É)

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