14/03 - “Pronto
para ser preso”. É o que afirmou, em entrevista para o livro “A verdade
vencerá: o povo sabe por que me condenam”, que será lançado na próxima
sexta-feira, 16, em São Paulo, pela editora Boitempo, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT).
“Eles
vão tomar a decisão, eu estou pronto para ser preso. É uma decisão deles”,
disse Lula em entrevista ao quarteto formado pelos jornalistas Juca Kfouri,
colunista do UOL, Maria Inês Nassif, pela fundadora e diretora da editora
Boitempo, Ivana Jinkins e pelo professor de relações internacionais da UFABC
(Universidade Federal do ABC) Gilberto Maringoni, que foi candidato ao governo
de São Paulo pelo PSOL em 2014.
Lula
deu tal declaração quando questionado por Kfouri se estava cogitando a
possibilidade de ser preso. O ex-presidente respondeu que sim. “Estou. O que
não estou preparado é para a resistência armada, nem tenho mais idade. Como sou
um democrata, nem aprender a atirar eu aprendi. Então, isso tá fora”, disse o
petista.
Mais
adiante na resposta, Lula diz: “Eu não vou sair do Brasil, eu não vou me
esconder em embaixada, eu não vou fugir. A palavra ‘fugir’ não existe no meu
dicionário. Vou estar na minha casa, chegando entre oito e nove horas da noite,
indo dormir às dez horas, acordando às cinco da manhã para fazer ginástica. Há
duas instâncias superiores a que a gente pode recorrer [STJ e STF], e vamos
recorrer.”
Sem
citar nomes, o ex-presidente afirma na entrevista que “esses caras sabem que o
que estão fazendo” com ele “é uma sacanagem política”. “Eu digo para meus
advogados todos os dias: ‘Quero que vocês saibam que estão defendendo um
inocente'”. Condenado em 2ª instância no chamado processo do tríplex, da
Operação Lava Jato, Lula pode ter sua prisão ordenada depois do julgamento dos
recursos no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre),
que ainda não tem data para acontecer.
“Não
me pegarão por corrupção”
Segundo
o MPF (Ministério Público Federal), Lula recebeu R$ 2,2 milhões em propina da
construtora OAS na forma de um tríplex no Guarujá (SP) e das reformas feitas no
imóvel. O dinheiro teria origem no esquema de corrupção da Petrobras desvendado
pela Lava Jato e que, para o MPF, era comandado pelo ex-presidente. A defesa de
Lula afirma que não há provas dos crimes imputados ao ex-presidente. Em dado
momento da entrevista, ao ser informado de que o tríplex havia sido avaliado
pela Justiça em R$ 2,2 milhões, Lula responde: “Ora, manda o [juiz Sergio] Moro
comprar por 2 milhões de reais! Acho que eles fazem tudo isso porque pensam: ‘É
isso que toca na alma nas pessoas’. Eu vou enfrentar. Eles não me pegarão por
corrupção.”
Na
mesma resposta, Lula ironiza e demonstra irritação com a acusação de que teria
comandado um esquema de corrupção. “Se sou o chefe de uma quadrilha, como eles
falaram, por que é que os meus ‘assaltantes’ roubaram tanto, 100, 200 milhões
de reais, e este babaca aqui ficou com um apartamento de cento e poucos metros
quadrados pra ele? Que chefe de merda é esse? Eu fico nervoso por isso, fico
profundamente irritado com isso.”
“Não
vou morrer com a pecha de ladrão”
Lula
também falou aos entrevistadores sobre a possibilidade de não ser candidato a
presidente nas eleições deste ano e afirmou que não se dará por satisfeito se
conseguir não ser preso, mas for impedido de disputar nas urnas. “Muita gente
diz: ‘Ah, Lula, se só tirarem você da disputa e não te prenderem, está bom’.
Está bom nada, porque pra mim é uma questão de orgulho e honra pessoal, de
comportamento de vida. Eles mexeram com quem não deveriam mexer. Eu não sou
maior do que a lei, mas eles mexeram com quem não deveriam mexer, e eu não vou
morrer com a pecha de ladrão”.
Líder
nas pesquisas de intenção de voto, o petista está, em tese, inelegível de
acordo com os critérios da Lei da Ficha Limpa, mas a legalidade da candidatura
depende de um julgamento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O livro com a
íntegra da entrevista, feita ao longo de três encontros em fevereiro, será
lançado em evento com a presença de Lula no Sindicato dos Químicos de São
Paulo, às 18h de sexta-feira, 16.
Também
ao longo da conversa, Lula fala sobre os processos que enfrenta na Justiça,
trata do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), lembra de como
queria que Eduardo Campos (PSB) – que morreu em 2014 – fosse o candidato
apoiado pelo PT em 2018 e aborda outros temas da política brasileira.
Além
da entrevista com o ex-presidente, que ocupa 124 das 216 páginas da publicação,
o livro conta com textos do escritor Luis Fernando Verissimo; de Luis Felipe
Miguel, professor de ciência política da UnB (Universidade de Brasília); do
jornalista e tradutor Eric Nepomuceno; do advogado Rafael Valim; e do
jornalista Camilo Vannuchi, que prepara uma biografia sobre a ex-primeira-dama
Marisa Letícia, morta no ano passado.
Com informações do Uol Notícias
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