31 de Jan 2020 - Casa em Orlando, nos Estados Unidos, com cinco suítes, piscina e jardim amplo: 6,7 milhões de reais. Residência “pé na areia” no Guarujá, no litoral paulista, com quatro suítes e seis banheiros: 7 milhões de reais. Mansão em condomínio fechado nos arredores de São Paulo, com fachada inspirada na arquitetura da Casa Branca: 15 milhões de reais. Complexo de estúdios de TV localizado em um terreno de 8 500 metros quadrados: 60 milhões de reais. Aplicações em bancos do Brasil: 190 milhões de reais. Esses itens fazem parte de uma lista que contempla apenas parte da herança deixada por Gugu Liberato. A relação é bem maior. Ele possuía dezenas e dezenas de imóveis, como galpões, prédios comerciais, casas, flats e terrenos. Também há participação em postos de gasolina, loja de conveniência, loteamento e aplicação em bolsa de valores. Isso sem falar em investimentos feitos nos Estados Unidos. O valor total do patrimônio do apresentador pode chegar a 1 bilhão de reais. É essa quantia, cuja totalidade ainda não foi apresentada à Justiça, o epicentro da cizânia familiar desencadeada horas após o enterro de Gugu, vítima de um acidente doméstico em uma de suas duas casas na Flórida, aos 60 anos. A partida de um dos maiores ídolos da TV do Brasil causou comoção no país. Caixão fechado, desencadeou-se uma guerra com acusações de oportunismo, alienação parental, assédio moral e constrangimento.
Antes de continuar lendo essa matéria, veja a família de Gugu, com a herança de R$ bilhão, a que cada um tem direito.
1 – Alexandre, sobrinho: 5% da herança
2 – Rodrigo, sobrinho: 5% da herança
3 – Alice, sobrinha: 5% da herança
4 – Sofia, filha: 25% da herança
5 – João Augusto, filho: 25% da herança
6 – Marina, filha: 25% da herança
7 – Amanda, sobrinha: 5% da herança
8 – André, sobrinho: 5% da herança
9 – Aparecida, irmã e curadora do espólio
10 – Amândio, irmão
11 – Maria do Céu, mãe: tem direito a pensão de 163 000 reais
12 – Rose Miriam, mãe dos três filhos. Luta para ser reconhecida como esposa.
No auge de sua carreira, em 2001, quando batia a Globo e Fausto Silva com seu Domingo Legal, no SBT, Gugu já contabilizava um patrimônio de 100 milhões de reais. Descendente de portugueses, o apresentador sempre teve em mente que dinheiro não aceita desaforo — ele gostava de comprar imóveis e não gastava com supérfluos. Na vida particular, agia com bastante discrição. Não queria se expor por ser astro de um canal popular e ter grande apelo entre o público infantil. Antes do acidente fatal, Gugu tinha em sua agenda um compromisso importante: uma reunião com Renata Abravanel, vice-presidente do SBT, para falar de um possível retorno à emissora onde fez história. Embora não gastasse dinheiro em vão, o apresentador cultivava uma pequena excentricidade. Em todas as suas casas, mesmo as de dois ou três pavimentos, havia elevador. A quem perguntasse a razão, ele respondia: “Para poupar as pernas. Quero viver até os 100 anos”.
Uma hora e meia após o sepultamento, em 29 de novembro, os familiares se reuniram para ler o testamento. Esse ritual burocrático costuma acontecer após a missa de sétimo dia. Feito em 2011, o documento distribuiu a herança da seguinte forma: 75% para os filhos (João Augusto, 18 anos, e as gêmeas Sofia e Marina, de 16) e 25% para os cinco sobrinhos. O documento assegura a Maria do Céu, de 90 anos, mãe do apresentador, uma espécie de pensão vitalícia de 163 000 reais. A parte mais surpreendente do testamento coube à ausência de qualquer menção a Rose Miriam di Matteo, a mãe dos três filhos da estrela da TV. Gugu, que a apresentava como “minha família”, não deixou em seu nome uma mísera quitinete. Como se não bastasse, registrou no testamento Aparecida Liberato como a responsável pelo espólio e curadora de seus filhos menores de idade. Ou seja, de acordo com a vontade de Gugu, Rose não tem autonomia sequer para cuidar das próprias filhas.
Rose assinou o documento sem expressar nenhuma revolta, mas depois se armou para a guerra. Ela contratou o advogado Nelson Wilians, dono do maior escritório de advocacia da América Latina, para entrar com uma ação de reconhecimento de união estável. Seu objetivo é anular o testamento para ficar com 62,5% de toda a fortuna. “Não posso aceitar um acordo em que não tenho dinheiro nem para fazer mercado”, afirma. Ela alega que estava exausta e sob efeito de remédios quando assinou o testamento. “Eu não dormia fazia dias e não tinha a dimensão do que isso representaria”, justifica-se. Jura também que, em caso de vitória, vai deixar o dinheiro para os três filhos. “Fiz um testamento para deixar expresso o desejo de doar tudo a eles”, garante. Para a família de Gugu, Rose e o apresentador eram apenas amigos que decidiram ter filhos. Daí a ausência e a não contemplação dela na herança.
Liev Tolstói escreveu no romance Anna Kariênina: “Todas as famílias felizes se parecem; cada família infeliz é infeliz à sua maneira”. O calvário dos Liberato virou caso de polícia. Alguns dias depois da leitura do testamento, Rose fez um boletim de ocorrência contra o advogado Carlos Regina, amigo de Gugu por muitos anos, alegando ter sido coagida a assinar o documento. Quase ao mesmo tempo, um novo B.O. foi registrado, dessa vez com uma acusação séria contra Rose. Detalhe: o boletim foi feito a pedido do filho mais velho dela, João, pela advogada criminalista Marina Coelho Araújo. O rapaz afirma que, na mesma noite do dia do enterro, Rose e o irmão dela, Gianfrancesco di Matteo, mentiram a ele dizendo que o levariam à casa de um amigo. Na verdade, João foi carregado pela mãe e pelo tio para a residência do advogado Nelson Wilians. Ao se ver diante do profissional que começaria a representar os interesses de Rose na discussão sobre a herança, o jovem sentiu cheiro de cilada e foi embora dali.
Por essas e outras, a relação entre mãe e filhos está bastante abalada. Eles ainda moram juntos, na mesma mansão em Orlando onde Gugu sofreu o acidente. Rose diz que João tem sido cooptado pela tia Aparecida, que, segundo ela, fica repetindo que a mãe vai roubar a parte da herança dos filhos. Por ser a curadora do espólio, Aparecida é quem administra hoje o dinheiro deixado por Gugu. Da tia, João tem recebido depósitos em uma conta aberta em seu nome, de cerca de 1 000 dólares por semana. O espólio se responsabiliza por todos os outros gastos, como imposto da casa e empregados. De todo modo, sem receita, Rose precisa pedir dinheiro ao próprio filho para suas despesas do dia a dia. Na semana passada, ela obteve vitória em uma ação de alimentos de 100 000 reais por mês, mas o valor ainda não começou a ser depositado.