17/03 - A
manifestação da desembargadora Marilia Castro Neves, dizendo que a
vereadora Marielle Franco estava “engajada com bandidos”, que ” eleita
pelo Comando Vermelho” e que tem “certeza de que seu comportamento”
foi “determinante para seu trágico fim” não é apenas um sinal dos tempos
de ódio, que merece ser repudiado por qualquer pessoa que tenha um mínimo de
respeito à vida humana e, também, aos mortos.
Ela
deve ser chamada a explicar com base em que faz essas afirmações e, se
não tem informações para fazê-as senão o que leu “no texto de uma amiga”,
responder cível e criminalmente por isso. Além, é claro, do processo
administrativo que deve sofrer no Conselho Nacional de Justiça.
Sequer
cabe discutir o que ela diz: ou explica porque o disse ou terá de se admitir
ter sido uma leviana. E mesmo a segunda hipótese basta para sofrer sanções,
porque não é possível que alguém que emite opinião pública sobre assunto tão
delicado com tamanha irresponsabilidade seja capaz de julgar pessoas.
O
mais grave é que a relativa inação do Judiciário, até agora, mostra que a
desembargadora não é apenas uma pústula na Justiça. É apenas a ponta de um
iceberg que aqui se apontou: a cumplicidade de parte da magistratura com a
manutenção dos esquemas subterrâneos que envolvem a falta de segurança pública,
dos quais, muito provavelmente, partiu a ordem de matar Marielli.
Não
se está falando aqui de cumplicidade material – embora haja sobre isso, casos
conhecidos – mas de cumplicidade moral com a cultura do extermínio legitimado.
A dona Marilia não é uma mocinha tresloucada, em favor de quem se possa invocar
a ingenuidade de repetir bobagens. Foi a desembargadora depois de quase 20 anos
exercendo a função de promotora de Justiça. Imagina-se, pelo teor de ódio
irresponsável que exala, com que critérios.
No
Facebook, como era de se esperar, ela manifesta seu “apoio incondicional”
(incondicional, para quem tem a lei como condição, já mostra muita coisa) a
Sérgio Moro e diz que “honra” a sua toga. Estanha Justiça onde honrar a toga é
vilipendiar por um “ouvi falar” a memória de uma mulher assassinada.
Fernando Brito - 17/03/2018
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