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22 de maio de 2013

UM DIA DE DOMINGO COM JAIME LIRA

Massapê, anos oitenta, pleno domingo de verão, sol causticante, temperatura de aproximadamente 30º na sombra, 9h da manhã, Jaime Lira inventou de fazer do seu amigo Caceteiro – um moreno de quase 2m de altura, uma espécie de táxi humano. Subiu nas suas costas (tutum) e, agarrado ao pescoço do rapaz, passeava de bar em bar. De repente, a dupla foi abordada em plena rua pelo delegado recém chegado à nossa cidade:

-        Eu sou o delegado daqui. Que negocio é esse? A escravidão já acabou faz tempo. Desça já das costas desse pobre homem!
-        Doutor, é o meu táxi. Eu estou pagando caro e adiantado. Hoje é domingo, bandeira 2 – se justificou Jaime Lira. E o Caceteiro emendou:
-        Doutor delegado, minha profissão é carreteiro. Eu passo o dia inteiro carregando sacos e mais sacos de farinha, açúcar, cimento, pra no final do dia ganhar uns “trocadinhos”. O passageiro aqui além de especial é bem magrinho, me paga e me trata muito bem, eu merendo e descanso em todas as paradas obrigatórias e, em questão de duas, três horinhas ele está completamente bêbado e eu estou liberado...
-        Não senhor. Este trabalho não é digno da pessoa humana. Final de corrida! Faça o seguinte seu Jaime: compre uma bicicleta e está resolvido o problema – disse o delegado.
De repente passa o nosso amigo Walter Baixinho montado numa bicicleta bem velhinha, mas bem velhinha mesmo. Jaime a comprou por vinte Cruzeiros e ao sentar se deu conta que a “magrela” não tinha garupa. Imediatamente foi com o seu amigo Caceteiro até a Bici-Clóvis:
-        Clóvis eu quero uma garupa novinha pra botar na minha bicicleta bem velhinha!
-        Jaime, eu tenho a simples que custa vinte Cruzeiros e tenho essa outra de aço inox, toda fornida e reforçada por quarenta Cruzeiros. Qual você quer? – disse Clóvis Albuquerque, proprietário do estabelecimento.
-        Eu quero a melhor, a mais cara, pois sou eu que vou sentar nela.
E assim foi feito. Passeando pelas ruas de Massapê, pedalando numa bicicleta velha, bem velhinha mesmo, o nosso coadjuvante Caceteiro e, sentado numa garupa nova, novinha em folha, o nosso personagem principal, Jaime Lira. A primeira parada foi no bar do Pipiu, lá no Alto da Boa Vista; a segunda, no bar do Zé Romão (na rua Sete); a terceira no bar do Pé de Louro lá no bairro do Ginásio (atualmente Educador Luiz da Hora Pereira); a quarta no bar do Zé Canuto (centro) e assim por diante. Ao passarem defronte a Igreja Matriz, Jaime solicita uma parada para vê o que se passava no interior do recinto. Estacionam a bicicleta na calçada e os dois, juntos, adentram a igreja. Celebrava-se naquela ocasião, missa de corpo presente de uma velhinha que morreu de velhice. Isto mesmo, morreu de velhice. Só se ouvia os comentários: “ela morreu que nem um passarinho”; “morreu bem velhinha”; “coitadinha da velhinha”; “morreu que nem um passarinho”. Nesse momento Zé Bode se aproxima do Jaime e pergunta:
-        Parea, do que foi mesmo que essa velhinha morreu?
-        Meu amigo Zé Bode, pelo que eu estou percebendo, ela morreu foi de uma pedrada de baladeira!
- Como assim? – indagou Zé Bode.
- Eu só escuto o povo dizer que ela morreu que nem um passarinho...
Pois bem, ao terminar a missa, desceram pelos degraus da igreja, e de repente rolando degraus abaixo, o Negão do Zé Bureta com os seus mais de 100 quilos. Jaime desviou e o Caceteiro gritou:
-        Jaime, porque tu não segurou o homem?
-        Eu não! Pensei que ele estava pagando promessa!...
E ao saírem, se deram conta que a bicicleta foi roubada. Imediatamente Jaime dispensou seu motorista particular e, não restando-lhe outra alternativa, sentou-se nos degraus da igreja e começou a chorar. Chorava copiosamente, quando descia pelos degraus, o padre, que também era novato e que acabara de celebrar missa de corpo presente daquela velhinha. E vendo o rapaz aos prantos, logo tratou de consolá-lo:
-        Tente se conformar, meu filho. A vida é um dom de Deus. Ela já estava bem velhinha...
-        Mas a garupa era nova, seu padre! – respondeu, desconsolado, Jaime Lira.
Do livro: As Anedotas do Jaime Lira – O Parea. Autor: Ferreirinha de Massapê.
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