11/02 - Líderes
políticos, poderosos ou não, em decadência ou não, costumam ser rodeados por
dois grupos distintos de auxiliares: os que lhe falam verdades difíceis de
serem ditas e aqueles que, de suas bocas, só escapam sinfonias para os ouvidos
do interlocutor – ou seja, os que só pronunciam palavras aveludadas, aquelas
que seu líder mais gostaria de ouvir.
O
senador Jorge Viana (AC) se enquadra nesse segundo time. Viana virou uma
espécie de grilo falante de Lula para assuntos de desacato
à Justiça e tentativas de driblar a lei. Há dois anos, foi dele a sugestão,
registrada em escuta telefônica com autorização judicial, para que Lula
afrontasse publicamente o juiz Sergio Moro de modo a virar um “preso político”.
Como o diálogo se tornou público, Lula não levou a ideia adiante, nem Moro caiu
nessa.
Agora,
é da lavra de Viana outra indecente manobra que, nos últimos dias, ganhou
fôlego no seio do PT. É semelhante à primeira na essência: para escapar da
prisão, hoje iminente, Lula buscaria o asilo diplomático em países camaradas.
De lá, discursaria ao seu séquito como “exilado político”, até retornar ao
Brasil em momento de mais calmaria – ou depois de costurar um acordão
político-jurídico que o livrasse definitivamente da cadeia. Embora tenha dito,
recentemente, que “a palavra fugir não existe” em sua vida, Lula gostou do que
ouviu – como não.
E
passou a considerar seriamente a hipótese. A proposta de Viana foi recepcionada
no partido como cafezinho quente e açucarado em sala de espera. Tanto que logo
ganhou adeptos no petismo: o ex-ministro José Dirceu, também condenado em
segunda instância, mas que ainda segue livre, foi um dos que endossaram a
“saída pelo asilo”, à revelia da lei. Na última semana, passou a propagar a
tese, que se espalhou no PT como rastilho de pólvora.
Entre
as nações dispostas a receber Lula, estariam a Venezuela, Bolívia, Equador e
Cuba, além de países do continente africano onde o petista poderia fixar
residência como Argélia e Etiópia. Este último, destino para onde o
ex-presidente tinha até viagem marcada. Lá daria uma palestra sobre corrupção,
tema que, a julgar pelas recentes decisões judiciais, ele domina como poucos.
Mas capitulou, depois que o juiz Ricardo Leite cassou-lhe o passaporte – já
devolvido. Face à impossibilidade de se dirigir aos etíopes pessoalmente, Lula
gravou um vídeo em que dourou a narrativa persecutória – o suficiente para
angariar apoios e receber convites de hospitalidade.
Em
sua argumentação em favor da idéia do asilo, Viana lapida a articulação.
Argumenta que, se um país aceitar conceder refúgio ao ex-presidente, não há
possibilidade de extradição, pois reconheceria que a situação não é somente
jurídica, mas política.
A vantagem
para Lula seria a possibilidade de, solto, seguir na toada de entrevistas e de
alguma forma se manifestando sobre o processo. Se decidisse partir para
Venezuela, Bolívia ou Equador, Lula não precisaria ir de avião nem muito menos
de passaporte. Bastaria pegar um carro que chegaria ao destino livremente,
beneficiado pela longa área de fronteira que circunda o território brasileiro.
Para
convencer a chancelaria vizinha a lhe conceder o asilo, Lula teria de
justificar sua fuga. Um bom argumento, na visão dos petistas entusiastas da
tese, seria declarar ser vítima de perseguição política, discurso que o partido
vem usando desde que se ventilou o nome dele em denúncias de corrupção. Apesar
de a maioria dos nossos vizinhos ter acordo de extradição com as autoridades
brasileiras, o processo que o levaria ao caminho de volta não seria rápido, o
que daria para ele continuar dando as cartas e capitaneando a militância, mesmo
que de longe.
OS
ARTICULADORES
O
mentor da tese de que Lula deve driblar a lei para escapar da prisão e buscar
asilo diplomático numa embaixada amiga é o senador Jorge Viana (PT-AC), mas a
hipótese já havia sido aventada pelo ex-ministro Ciro Gomes, candidato a
presidente pelo PDT. O ex-ministro José Dirceu também endossa a ideia.
Isto É
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