A
maior crise econômica da história do país ainda pesa na estrutura de renda das
famílias brasileiras. No segundo trimestre deste ano, o Brasil tinha 15,2
milhões de lares onde ninguém trabalhava, 2,8 milhões a mais do que no mesmo
período de 2014 - um incremento de 22%. Isso significa que um em cada cinco
domicílios (21,8% do total) não tinha renda fruto do trabalho.
O levantamento foi feito a
pedido do Valor pelos pesquisadores Samuel Franco e Suiani Febroni, do
Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets) e da Oportunidades,
Pesquisa e Estudos Sociais (OPE Sociais), a partir dos microdados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE)
"A crise colocou muitos
chefes de família para fora do mercado de trabalho. Em muitos lares, cônjuges e
filhos também foram demitidos. Membros da família tiveram que buscar emprego
para recompor a renda, mas poucos conseguiram. Esse é o motivo mais provável
para o resultado da pesquisa. São lares que estão agora sem renda do trabalho e
que passam por um momento difícil.
De acordo com o IBGE, 2,6 milhões de pessoas
perderam seus empregos entre o fim de 2014 e o segundo trimestre deste ano.
Nesse período, a taxa de desemprego nacional passou de 6,5% para os atuais 13%
da força de trabalho. O país tinha 13,5 milhões de pessoas desempregadas no
segundo trimestre, mais do que o dobro apurado pelo instituto nos três últimos
meses de 2014 (6,4 milhões)
No entanto, o número total de
pessoas sem renda do trabalho é maior, porque há aqueles que apesar de estarem
sem emprego não estão sequer procurando e ainda aqueles que vivem de outras
rendas, incluindo aí os aposentados e pensionistas; além daqueles que recebem
benefícios de programas de transferência de renda. Segundo o IBGE, o país tinha
64 milhões de pessoas fora da força de trabalho no segundo trimestre.
O envelhecimento da população explicaria apenas uma pequena parcela do aumento do número de residência em que ninguém trabalha. Ao se aposentar, as pessoas deixam de receber a renda do trabalho. Pelas projeções do IBGE, o número de idosos (60 anos ou mais) cresceu 8% de 2014 a 2017 - ou seja, mesmo se todos tivessem se aposentado, a variação seria bem inferior aos 22% encontrados.
Segundo o levantamento, a crise
foi mais cruel para as famílias mais pobres. No segundo trimestre, não havia
ninguém empregado em 12% dos lares em que o chefe de família cursou o ensino
superior (1,4 ponto percentual a mais que o verificado no segundo trimestre de
2014). Quando o chefe de família tem o ensino fundamental incompleto, a
proporção era de 32% (cinco
pontos acima de 2014)
Para os pesquisadores, as
estatísticas mostram, assim, a importância dos programas de transferência de
renda em momentos de crise no mercado. "O indicador chama atenção para a
importância do funcionamento eficiente das políticas assistenciais, de forma
que as famílias que perderam sua fonte de renda possam se manter até recuperar
a situação ideal", diz Franco.
O quadro mais drástico está na
região Nordeste. Dos domicílios nordestinos, 27,2% (cerca de 5 milhões de lares)
não têm ninguém empregado. A situação é pior em Alagoas: 35% dos lares no
Estado não têm renda do trabalho. O resultado tem origem nos problemas crônicos
da região (baixa escolaridade, falta de oportunidades), agravados pela crise
econômica.
As estatísticas menos
desfavoráveis estão na região Norte (16,8%), segundo a pesquisa. No Sudeste, a
proporção é bem próxima da média nacional: 20,6%. No Estado de São Paulo, o
indicador está em 18,7% - mais alto que no primeiro trimestre (18,6%) e em
processo de piora desde o fim de 2016. São 2,9 milhões de famílias paulistas
sem ninguém empregado.
Existe, porém, uma sinalização positiva do levantamento: na média nacional, o número de lares sem ninguém empregado parou de piorar. Ainda que seja prematuro apontar uma tendência favorável, essa proporção declinou para 21,8% no segundo trimestre, de 21,9% no primeiro trimestre deste ano. Essa variação pode ser considerada, estatisticamente, como estabilidade.
Existe, porém, uma sinalização positiva do levantamento: na média nacional, o número de lares sem ninguém empregado parou de piorar. Ainda que seja prematuro apontar uma tendência favorável, essa proporção declinou para 21,8% no segundo trimestre, de 21,9% no primeiro trimestre deste ano. Essa variação pode ser considerada, estatisticamente, como estabilidade.
"Isso tem a ver com os sinais positivos recentes do emprego. Apesar de ainda estatisticamente não significativo, é possível verificar uma possível estagnação, ou declínio, do número de residências sem nenhuma renda do trabalho. Mas é cedo para vermos isso como uma tendência. A crise política no Brasil continua", afirma Franco.
Do primeiro para o segundo trimestre deste ano, 1,3 milhão de pessoas conseguiram se ocupar no país. Segundo Cosmo Donato, economista da LCA, esses trabalhadores foram absorvidos pelo mercado informal. São trabalhos por conta própria e empregos sem carteira assinada, espécie de válvula de escape para recompor a renda de casa.
"Quando analisamos
especificamente as estatísticas dos chefes de família, percebemos que 1,6
milhão deles perderam emprego desde o fim de 2014. No segundo trimestre, 123
mil conseguiram voltar a se ocupar, principalmente na informalidade. Falta
muito para recuperar as perdas, mas foi um primeiro passo positivo",
considera Donato.
Mas a redução no número de lares sem ninguém empregado não se deu uniformemente no país. Ao mesmo tempo em que recuou frente ao primeiro trimestre nas regiões Norte (de 17,5% para 16,8%), Sudeste (de 20,8% para 20,6%), Sul (de 20,7% para 20,5%) e Centro-Oeste (de 17,6% para 16,9%), cresceu no Nordeste (de 26,9% para 27,2%).
Fonte: Valor Econômico
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