Quem nasce na Argentina é argentino e
não argentineiro; quem nasce em Angola, é angolano e não angolaneiro; quem
nasce na Bolívia, é boliviano e não boliveiro; quem nasce em Portugal, é
português e não portugueseiro, e assim por diante, com todos os países, apenas
uma exceção. O Brasil é o único país do mundo, cujos habitantes são chamados
por uma designação profissional – brasileiro. Como em regra, pasteleiro,
engenheiro, livreiro, bombeiro, etc. São exceções: médico, advogado, servente,
etc. Sabe-se a razão disso. No início do século XIX, no processo de colonização
do Brasil, os profissionais que lidaram com a exploração do pau-brasil, eram
denominados “brasileiros”, e daí, por extensão, aplicou-se aos naturais do
nosso país, conquanto, deveríamos ser chamados de “brasilianos”. No idioma italiano
e gentílico do mesmo nome e não, italianeiro, em “Me Gioconda”, ouvimos
“...brasiliano”. Pois
bem. Quem nasce em Massapê além de massapeense é “Comedor de Defunto”. Calma!
Eu explico: tudo começou na década de cinqüenta. Zé Podoia, andarilho e
pedinte, de invejável porte físico, entretanto, de raquítico QI, dormia no
porão do prédio que abriga o Educandário Nossa Senhora do Carmo. Vivia de
prestar serviços braçais de qualquer natureza, notadamente àqueles que exigiam demasiada
força física. Seu porte atlético nos fazia lembrar o protagonista do seriado Tarzan.
Em meados da década sessenta, sentado em um parapeito assistindo ao espetáculo
de um reisado, Zé Podoia se levantou, deu meia volta e ao retornar encontrou
Luiz Siridó (tio do comerciante Gerardo Siridó) naquele mesmo local que ele
costumava ficar, defronte ao Armazém José Vasconcelos. Agindo instintivamente,
como um animal acuado defendendo seu território, o brutamonte se apoderou de
uma pedra de 28 kg e jogou-a por sobre a cabeça daquele homem que ali se
encontrava, causando-lhe morte instantânea. Recolhido exclusivamente a uma das
celas da Cadeia Pública de Massapê, pouco tempo depois o inimputável foi solto,
ocasião que havia falecido uma criança com cerca de seis anos de idade, que ele
(Zé Podoia), tinha afeto e admiração. E, ao retornar ao seu convívio social (se
assim podemos dizer), Zé Podoia soube do ocorrido, que já havia se passado uma
semana. Não pensou duas vezes, aliás, ele não pensava. Foi ao cemitério São
José e lá, por conta própria fez a exumação do corpo do garoto, com o intuito
de apenas e tão somente prestar-lhe o seu último adeus. Os sobralenses
aproveitando-se daquele fato um tanto quanto inusitado, pois, já se sentiam
ofendidos com a alcunha dada por nós, a de “Comedores de Muriçoca”, aproveitaram
a revanche e nos apelidaram justificadamente de “Comedores de Defunto”. Para
ilustrar o histórico episódio, senão trágico, cômico, certa vez alguns jovens
sobralenses estacionaram seus carros defronte ao Bar Zé Canuto no centro de
Massapê, e após consumirem bastante cerveja naquele tradicional estabelecimento
comercial, encorajados pelo teor etílico, um deles solicitou ao garçom em alto
tom de voz, um tira-gosto de “carne de sol de defunto”, o suficiente para muitos
massapeenses que ali se encontravam, se sentirem ofendidos e, em legítima
defesa da honra, iniciarem uma verdadeira guerra, que só terminou com a
influência e intermediação do saudoso prefeito, à época, Beto Lira. Segundo o
Selo UNICEF 2005 histórias como essa retrata cultura na acepção mais aprofundada
do termo, pois, registra uma época no tempo e no espaço, que deve ser contada
para preservar a identidade cultural de um povo, inclusive, servindo como fonte
de pesquisa para as futuras gerações. Fruto exclusivamente da vã filosofia
popular, os apelidos dado às pessoas fazem parte da nossa rica cultura
nordestina. A relação abaixo é um retrato fiel de como esses massapeenses foram
ou são conhecidos no seio da nossa sociedade. Os apelidos dados aos munícipes
são reais, inclusive, alguns acrescentados ao próprio nome, facilitando a
identidade do cidadão, servindo de referência. Excluídos dessa diminuta relação,
os apelidos de cunho ofensivo. Por amostragem, a seguir, 213 alcunhas em ordem
aleatória (com ou sem aspas, como é conhecido e jogo da velha, falecido):
-
O fazendeiro do Mirim “Branquinho”# & o empresário “Zé Preto”;
-
O Chiquinho Galo & o João “Pé-de-Galinha”#;
-
O Zé Galo & o Expedito Galinha D’Água#;
-
O Vicente “Bacurim” & o Oswaldo “Barrão”;
-
O Chico Porco & o Antoezé Porquinho;
-
O José “Barrote” & o Francisco “Chiqueiro”;
-
O Louro da Granja, o Pedro Galinha & o Zé Pinto#;
-
O “Neguim Come Beiço”# & o Olivan “Beiço Mole”;
-
O Zé Piroca & o Chico Cu;
-
O Chico Rola & a Maria “Rolinha”;
-
O Zé Maria Priquitim & o João Pomba;
-
O Francisco “Estantina” & o João Pílula de Mato;
-
O Zé Cueca & o Antonio “Caganeira”;
-
O Gerardo Babão# & o Marco Aurélio “Babim”;
-
O Chico “Lamparina” & o Paulo Vagalume;
-
O músico “Kung Fu” & o comerciante “Chao Lin”;
-
O Chico Olho de Touro & a Maria “Vaca Braba”;
-
O Luiz da Nalpa & o Luiz da Odete;
-
Em família: Dona Beleza, Mocinha, Zé do Bar & Saúde;
-
O Cão Grande# & o Brinquedo do Cão;
-
O João do Pulo & a Maria “Pinote”#;
-
O Antonio “Sabão” & o Tarcisio “Sabonete”;
-
O João “Cara de Cachorro” & o Jorge “Cachorro Preto”;
-
O Zé Gato & o Chico Rato;
-
O João “Espirro” & o Francisco Antonio “Catarro”;
-
O Luiz da Gata# & o Itamar “Gatim”#;
-
O Valdir “Gato Preto” & o Francisco “Rato Branco”;
-
O Carne Assada# & o Tijolo Cru;
-
O Chico Macaco# & o Ivan “Tarzan”#;
-
O comerciante “Pé-de-Louro” & o pescador “Pé-de-Foice”;
-
O Chico Pezão# & o Zé Sapatão;
-
O Assis da Chinela & o Zé “Botinha”;
-
O Demar “Feim” & o Danilo “Fofo”;
-
O Ferreirinha “Neto do Governo Preto” & o Antonio “Neto do Arteiro”;
-
O Chico Jóia & o Assis Joalheiro#;
-
O Zé do Poço# & o Joaquim da Pedra#;
-
O Zé “Caixa D’água” & o Amadeu “Bebeu”;
-
O Antonio Cuscuz & o Raimundo Leite;
-
O Batista Carceireiro & a Maria da Cadeia#;
-
O Manoel de Barro & e o Bastião do Lama;
-
O pedreiro “Cabo Hélio” & o mecânico “Tenente”;
-
O Capitão Zé Tomaz# & o Coronel Chico Lopes#;
-
O Pante “Finado” & o Antonio Coveiro;
-
O Expedito Praga & o Antonio “Sagrado”;
-
O Luiz “Muriçoca” & o Nonato “Cabatão”;
-
O Chico da Santa & a Chica da Sinhá;
-
O Zé Bode & a Fátima Fussura;
-
O Dourado & o Ferrugem#;
-
O Antonio “Sapo” & o Juscelino “Cururu”;
-
O Zé Maria Dentista & o Expedito “Boca Rica”#;
-
O Raimundo Canapum# & o Hélio Rosa;
-
O Zé “Arroz” & o Raimundo Luis “Macarrão”;
-
O De Assis Olho de Touro# & o Raimundo “Olho de Cabra Morta”;
-
O Zé “Coração de Macaco” & o Nonato “Titela”;
-
O Édson Paulista & o Nonato Carioca;
-
O Raimundo “Peruzinho” & o Francisco “Pato”;
-
O João “Itapajé”# & o Zé Massapê;
-
O João Bahia & o Raimundinho do Iraque;
-
O Antonio “Sobralense” & o Prudêncio Maranhense;
-
O Batista “Venta de Boi” & o Pedro Ventaça#;
-
O Zé Pequeno & o Francisco “Miúdo”;
-
O Ernesto “Melado”# & o Antonio “Mela-Pau”;
-
O Antonio Bispo & o Jorge Bento;
-
O Chico Rio & o Francisco “Reprezão”;
-
O Zé Mauro “Biro-Biro”# & o Antonio “Pelé”;
-
O Luiz da Hora# & o Paulo “Derradeiro”;
-
O Valter “Pneu” & o Carlos Alberto “Carrim”;
-
O Antonio “Catepilar”# & o João “Camburão”;
-
O Luiz “Coca” e o Zé Wilson “Tampinha”;
-
O Francisco “Mão Seca”# & o Zé Marques “Mão de Onça”#;
-
O Antonio “Arena”, o Pedro “Carrasco” & o Zé Leão;
-
O Nonato “Fera” & o Zé Frouxim;
-
O Antonio “Sardinha” & a Maria Camarão#;
-
O Chico da Bodó & o Zezim do Peixe#;
-
O João Piranha# & o Zé Pescada;
-
O João Bezouro & o Zé Barata;
-
O Antonio Pote & o Adriano “Potim”;
-
O César “Peba” & o Paulo “Mocó”;
-
O Lázaro “Pepita” & a Maria “Esmeralda”;
-
O João do Correio# & o Dudu do Fórum;
-
O Adauto da Cagece & o Luizão da Coelce;
-
O carpinteiro “Pincel” & o Toim Figura;
-
O “Cará” da Marambaia & o “Carazinho” do Tamanduá;
-
O Zé Maria “Cachacinha” & a Raimunda Meiota;
-
O Marcinho “Cabeludo” & o Antonio “Careca”;
-
A Nêga do Tasso & a Neguinha do Gerardo Galo;
-
O “Carrim” da Rodagem & o “Carrim” da Cartucha;
-
O “Pinha” do Carne Assada & o “Mamão”# do Mazuca;
-
O Silva “Cigano” & o José “Pirata”;
-
O Luiz “Cupido” & o Fernando Quem-Quem;
-
O Miguel Passarinho# & o Gilson Paparoz;
-
O Neguim Celeiro & o Chico Borracheiro;
-
O Lambreta & a C 10;
-
O Batista Canapum# & o Antonio “Cebola”;
-
O Zé Bolacha & o Francisco “Manteiguinha”;
-
O Idelfonso “Galo Velho” & o Edílson “Galinha Morta”#;
-
O “Luiz Doidim” & a Chica Doida;
-
O “Negão” Clementino & o “Negão do Zé Bureta”;
-
O Nêgo da Hilda & o “Nêgo” do Batista Carcereiro;
-
O Raimundo “Salobão”# & o Adriano “Azedim”;
-
O Fernando “Bigodim” & o Zé Maria Bigodão#;
-
O Chico Buchão & a Maria Buchim;
-
O “Zé Filho de Quenga” & o Samuel “Filho de Nossa Senhora”;
-
O Osvaldo “Bola 7” & o Antonio “21”;
-
O Francisco “Carrapato” & o Antonio “Cascudo”;
-
O Boi & o Boínha;
-
O Zé Pereira & o João Miolo;
-
O Belmiro “Tio”, o Antonio “Paizim” & o Zé Vovô;
-
O Zé Promotor & o Zé Júnior “Barão”;
-
O Francisco “Paquito” & a Marilza “Xuxa”#;
Do
livro: Estórias & Casos com Causos & Histórias de Massapê – do escritor
e historiador Ferreirinha.
SIMPLESMENTE SENSACIONAL
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