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31 de julho de 2011

POR E-MAIL, FERREIRINHA ENVIA AO BLOG NOTA COM O TÍTULO: "ADEUS, CHITÃO DOS POBRES"

ADEUS, CHITÃO DOS POBRES
Com a morte do meu saudoso e querido pai Expedito Ferreira (*22.12.1922 +01.07.2008) – o fundador do Chitão dos Pobres de Massapê (1948), de grata herança recebi o seu maior legado, qual seja, a continuidade do Chitão dos Pobres, preservando a nossa cultura popular regional, pois, esse evento há 63 anos estava inserido no calendário festivo anual da nossa cidade. Nas três últimas edições, 2009, 2010 (287 pagantes) e 2011 (210 pagantes) o Chitão dos Pobres foi fracasso de público, de modo que, os prejuízos financeiros foram se acumulando, ao ponto de não mais suportar a responsabilidade dos compromissos firmados. É bem verdade que ao longo de sua existência sempre tivemos ajuda de colaboradores firmando parcerias com pessoas física e jurídica, que foram tantos. Entretanto, essa ajuda não foi de forma mais substancial e contundente. Por outro lado, o público cativo – que foi a maior razão da existência e sucesso do Chitão dos Pobres, não compareceu em peso como nas outroras edições. A exemplo do carnaval de salão que nas últimas três décadas passou por um processo de transformação, sendo paulatinamente substituído pelo carnaval de rua, semelhante processo está ocorrendo nessa última década com o chitão de salão, sendo substituído pelo chitão de rua, com até três noites de festa animada por grandes bandas e montada toda uma infra-estrutura com palco, iluminação, segurança, cidade cenográfica, etc., tudo de forma gratuita.  O Chitão do Centro Social Massapeense (78 anos de tradição), bem como, o Chitão dos Pobres de Massapê (63 anos de tradição), infelizmente estão com os seus dias contados. Prova é, o fracasso de público dessas duas tradicionais festas nas suas recentes edições. Pagamos, ainda, um preço caro pelo fato de no repertório do Chitão dos Pobres não tocar essa variação moderna do forró – o forró eletrônico, na maioria das vezes fazendo apologia ao sexo banalizado, as drogas e um afronta com total desrespeito a mulher, ferindo à moral e aos bons costumes da nossa sociedade. “Chupa que é de uva”, “senta que é de menta”, “relaxa que é de borracha” e “não vou não, não quero não, minha mulher não deixa não”, nunca fizeram parte do nosso repertório, que sempre foi recheado de baião, xaxado, xote e o forró pé-de-serra. Não pretendo nesse ato, apresentar justificativas ainda que plausíveis para o fim dessa tradicional festa. Pelo contrário, só tenho a agradecer a Nação Forrozeira Massapeense e além fronteiras (dançarinos e parceiros) que sempre nos prestigiaram e estiveram conosco até o fim. Somos todos sabedores de uma louvável e merecida parceria firmada esse ano com o Governo Estadual do Ceará dispondo liberação de verba através da lei de incentivo à cultura, para custear duas bandas que não se apresentam por menos de vinte mil Reais, destinada ao Chitão do Centro Social Massapeense, conquanto, seu interlocutor liberou apenas e tão somente a ínfima importância de quinhentos Reais para o Chitão dos Pobres. Da nossa parte, somos grato e nosso muitíssimo obrigado. Mas alguém me disse: - “Ferreirinha, são dois pesos e duas medidas”. Como na melodia “Me Gioconda” em que a protagonista anteveu a triste partida do seu amado para servir patrioticamente ao seu país na segunda grande guerra mundial, numa jogada e estratégia de marketing, como que antevendo o fim do Chitão dos Pobres, tive a idéia de plagiar o radialista Robério Mendes Carneiro, o qual apresenta o programa “Tudo a vê com você” na Marques Liberal FM de Massapê, com sucesso absoluto de audiência. E como toda sexta-feira é início de balada ele assim a descreve com a dramatização que sempre lhe foi peculiar: - “Hoje é sexta-feira! É dia de afogar o ganso até o tronco, sem dó e sem piedade! Mas isso é pra quem tem! Pra quem não tem, é passar a mão em cima e dizer de viva voz: eu já fui pai dégua nisso. Mas meus amigos, a idade é irreversível. Não deixe cair o bico do seu ganso” Pois bem. O plágio, inclusive com sua própria voz, feito para veiculação na Marques FM e nos carros de som, consistiu da seguinte forma: - “Hoje é sábado! É dia de Chitão dos Pobres! No Clube dos Operários, com Tchesco Oliveira e Negão do Norte! São 63 anos de tradição, com valiosos prêmios pra você! Um computador, uma bicicleta e uma TV! Mas isso é pra quem vai! Pra quem não vai, é dar a volta por cima e dizer de viva voz: no próximo ano eu vou! Mas meus amigos, esse é o último suspiro! Vingou, vingou! Se não vingar, adeus! Não deixe essa peteca cair ”. O comercial apelativo não funcionou. É... O Chitão dos Pobres ficou só no papel e também por enquanto na internet. O primeiro, a Associação para Desenvolvimento Cultural de Massapê Expedito Galinha D’água, nome fantasia Associação Chitão dos Pobres, CNPJ nº 12.833.573/0001-85, presidente Raimundo Ferreira Sousa – Fereirinha, e o segundo, www.chitaodospobres.com.br. Que pena. Os gestores públicos (municipal e estadual) deveriam abraçar com mais comprometimento essa instituição viva, que ao longo da sua história sofreu as intempéries da vida, pois, seu embrião germinou no final da década quarenta do século XX - uma época em que vivíamos uma sociedade preconceituosa e racista, resquícios do Brasil Império, com a abolição da escravatura, onde “pobres e negros” não tinham acesso às dependências do chitão do Centro Social Massapeense – um clube destinado a um seleto grupo de sócios (ricos e brancos).  E meu pai, imbuído de um sentimento de justiça social, concluiu: ora, se existe o Chitão dos Ricos, porque haveria de existir o Chitão dos Pobres? É essa a origem do nome “Chitão dos Pobres”. Com sacrifício fiz a minha parte, sem medir esforços, para manter viva parte da história de Massapê. Despeço-me de cabeça erguida e com a consciência do dever cumprido, apesar da triste e dolorosa decisão. E eis que um ombro amigo disse-me baixinho no meu ouvido: - “Ferreirinha, no mundo nada se acaba; tudo se transforma”. E respirando fundo eu fiquei a matutar com os meus botões...     
O forrozeiro órfão, Ferreirinha, 30 de julho de 2011.
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