O mês era novembro e o ano
2006. Um cenário já conhecido. Castelão lotado, torcida em polvorosa. A entrada
do Ceará em campo acompanhada da entoação vibrante do hino. Papéis jogados ao
campo. Euforia, festa e união. Um caldeirão em preto e branco. Não, não
era uma final, a comemoração de um título, de um acesso à primeira divisão.
Eram as últimas rodadas da Série B, e o Alvinegro estava ameaçado pelo
implacável e inédito rebaixamento. Ano problemático, apesar do título estadual
após três anos. Salários atrasados, indefinição e a certeza de muita
dificuldade.
A partida, longe dos
áureos confrontos contra os mais tradicionais clubes brasileiros, era contra o
São Raimundo. Time modesto do estado de Amazonas. Mas naquele dia, era o mais
temido e, porque não dizer, um adversário à altura daqueles históricos, das
grandes finais, durante os mais de 90 anos do clube (à epoca). E a vitória
tinha que vir. Pressão, gols perdidos. Desespero. Perder naquele momento
significaria ir além do fundo do poço. Então, ela entrou em campo. Tal como se
fosse o dia mais importante da vida. Foi a torcida do Ceará que carregou o time
nas costas e o levou à vitória, por um sofrido 1 a 0.
Alguém perguntaria? Como
um time em péssima fase consegue lotar um estádio contra um pequeno? Como que
uma crônica como essa relembra um jogo tão sem glamour? O que tem de especial
nisso? A resposta é fácil. São episódios como esse que explicam a conexão entre
a torcida do Ceará, o time e os seus 100 anos de história. Não importa quem
está do outro lado do campo. Quem conhece a torcida alvinegra sabe o quanto ela
faz parte do organismo do clube. Um espécie de guarda-costas, um centurião
pronto a defender e erguer o clube nos momentos em que ele mais precisa.
E é por isso que o Ceará
não precisa de Flamengos, Corinthians nem outros grandes, nem mesmo uma
campanha fantástica, para ter o melhor da sua torcida. É isso que faz do
Alvinegro de Porangabuçu uma instituição centenária, uma das maiores equipes de
futebol brasileiro.
Foi da torcida que
partiu, pouco mais de um ano depois, a iniciativa de mudar os rumos da situação
difícil. E em quase 3 anos após o jogo 'histórico' contra o São Raimundo, a
mesma massa que marcou presença no Castelão para apoiar a equipe rumo à
permanência na Série B, carregou os jogadores nos ombros na chegada ao
Aeroporto Pinto Martins, após a vitória e o acesso contra a Ponte Preta.
Nestes 100 anos do
Alvinegro de Porangabuçu, a única certeza que temos, é que este time de camisa
em preto e branco, batizado carinhosamente de Vovô, nada mais é que união dos
seus netinhos por uma causa. Maior que o futebol, maior que os adversários.
Torcer pelo Ceará é, como diz o hino, ter a 'certeza da vitória assegurada',
mas não obrigatoriamente no campo. Em todas as partidas, independente do
resultado, o Vovô conquista mais 3 pontos no coração da sua apaixonada torcida.
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