11.06.2019 - Conversas entre o então
juiz federal Sergio Moro e o
coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, foram divulgadas pelo portal The Intercept
Brasil nesse domingo, 9. Na troca de mensagens, Moro chega a consultar o
procurador sobre a investigação do caso do triplex do Guarujá (SP), que
resultaria na prisão de Lula. Os arquivos foram revelados em três reportagens e
um editorial do The Intercept, separando as conversas em fases
diferentes.
A ENTREVISTA DE
LULA
Preso na sede da Polícia
Federal desde 2018, Lula foi autorizado a dar entrevista por decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF), que teria gerado clima de revolta entre os
procuradores, segundo o Intercept.
A mensagem de uma pessoa
identificada apenas como Carol PGR de forma privada para Dallagnol diz:
"Ando muito preocupada com uma possível volta do PT, mas tenho rezado
muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve".
"PODE ELEGER
HADDAD"
A procuradora Laura Tessler
chegou a dizer no grupo de procuradores da Lava Jato que uma coletiva antes do
segundo turno poderia eleger Fernando Haddad (PT), que assumiu a liderança da chapa
após a impossibilidade de Lula. Para diminuir o impacto da entrevista,
procuradores ventilaram medidas como uma exclusiva para a jornalista Mônica
Bergamo, da Folha de S.Paulo, ou uma entrevista coletiva.
DELTAN DALLAGNOL
TINHA "RECEIO"
Em setembro de 2016, dias
antes da denúncia contra Lula ser apresentada, Deltan Dallagnol assumiu
"receio" quanto à acusação sobre o triplex do Guarujá. Restava dúvida
na relação do triplex do Guarujá enquanto propina para o ex-presidente nos
casos de corrupção da Petrobras.
"Falarão que estamos
acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis… então é um item que
é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da
ligação entre Petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram to com
receio da história do apto… São pontos em que temos que ter as respostas
ajustadas e na ponta da língua", escreveu o procurador.
POWER POINT
A matéria "Caso Bancoop:
triplex do casal Lula está atrasado" publicada pelo O Globo em 10 de
setembro de 2010 projetava de que forma o imóvel poderia atrapalhar Luiz Inácio
Lula da Silva. Dallagnol buscou o contato da repórter para transformar a
informação em depoimento.
"Vcs não têm mais a mesma
preocupacção que tinham quanto ao imóvel, certo? Pergunto pq estou achando top
e não estou com aquela preocupação", escreveu o procurador no grupo
Incendiários ROJ. "Acho que o slide do apto tem que ser didático tb.
Imagino o mesmo do lula, balões ao redor do balão central, ou seja, evidências
ao redor da hipótese de que ele era o dono".
"LÍDER
MÁXIMO"
Em uma conversa com Sergio
Moro, em janela privada, Dallagnol diz que se refere a Lula como "líder
máximo" do esquema de corrupção para relacionar o ex-presidente aos R$ 87
milhões de propina pagos pela OAS.
INFLUÊNCIA NA
INVESTIGAÇÃO
Também em 2016, Moro chegou a
sugerir inverter a ordem do que o Ministério Público havia planejado
inicialmente. Antes, havia questionado a Dallagnol por que o Ministério Público
Federal recorreu da condenação de três pessoas, classificando o recurso como
"obscuro".
O GRAMPO DE LULA E
DILMA
Em março de 2016, Moro
derrubou sigilo e divulgou grampo de ligação entre Lula e Dilma. Em uma
conversa privada, Dallagnol e Moro tratam a abertura do conteúdo como
estratégia. "A liberação dos grampos foi um ato de defesa. Analisar coisas
com hindsight privilege é fácil, mas ainda assim não entendo que
tivéssemos outra opção, sob pena de abrir margem para ataques que estavam sendo
tentados de todo jeito", escreveu o procurador. Moro respondeu: "Nao
me arrependo do levantamento do sigilo. Era melhor decisão. Mas a reação está
ruim".
O Povo
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