24.04.2019 - Filho do presidente Jair Bolsonaro
(PSL), o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC) manteve os ataques
contra o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) nas redes sociais mesmo depois
de o general Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidência da República, ter
lido um comunicado em que o presidente pede para que se ponha um fim na
discussão.
Apesar dessa manifestação do pai, Carlos
Bolsonaro voltou à carga na noite desta terça-feira, 23, compartilhando duas
reportagens com comentários do vice-presidente. Em uma, também de ontem, Mourão
diz que “decisão do Judiciário não se comenta”, uma vez instado a se posicionar
sobre a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que condenou o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no caso do tríplex, mas reduziu a
pena imposta ao petista.
“Vale lembrar que o STF sentiu a pressão da
internet e ruas ao analisar estranho caso de liberdade de expressão. Decisão se
cumpre, mas também se comenta. Qualquer outra interpretação mais uma vez
demonstra a paixão camuflada”, escreveu o vereador sobre o assunto.
Essa segunda publicação teve anexada uma
reprodução da segunda matéria, de janeiro, quando Mourão criticou a chamada
“despetização” promovida pelo ministro Onyx Lorenzoni na Casa Civil. Na época,
o vice manifestou preocupação que a demissão em massa de funcionários da pasta
sem que outros fossem contratados imediatamente poderia provocar uma paralisia
parcial dos serviços da Casa Civil.
Se por um lado Jair Bolsonaro pediu o fim da
briga entre o filho vereador e Mourão, por outro é verdade que o comunicado
deixou claro que ele “sempre estará ao lado” de Carlos, apesar de ter “apreço”
pelo vice-presidente. Da mesma forma, Bolsonaro não utilizou as redes sociais
para falar sobre o assunto, como costuma fazer em temas em que possui posição
mais enfática.
A mensagem através do porta-voz, assim, acaba ganhando contornos
mais simbólicos e burocráticos, sem representar uma oposição concreta do
presidente às opiniões manifestadas pelo filho.
Aliás, filhos. Em entrevista ao jornal O
Estado de S.Paulo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) transferiu
para Mourão a responsabilidade pela crise. “O que tem causado bastante ruído
são as sucessivas declarações do vice-presidente de maneira contrária ao
presidente da República”, afirmou.
Eduardo também criticou o fato de o general
ter curtido uma publicação da jornalista Rachel Sherezade, em tom crítico a
Bolsonaro, nas redes sociais.
O confronto entre Carlos Bolsonaro e Hamilton
Mourão é produto de um outro desentendimento público, entre os militares do
governo, como o vice, e o escritor Olavo de Carvalho, autor conservador que é
seguido por diversos atores políticos do entorno de Bolsonaro, incluindo os
filhos Carlos e Eduardo.
Olavo tem feito publicações fortemente
críticas aos integrantes das Forças Armadas que ocupam postos-chave do governo,
em especial o vice-presidente e o ministro-chefe da Secretaria de Governo,
general Santos Cruz.
Também causaram desconforto as falas do
escritor de que a ditadura militar, ao interferir pouco no campo da cultura no
campo da redemocratização, abriu caminho para a hegemonia da esquerda nesse
segmento, fenômeno que o escritor classifica como “marxismo cultural”. Um vídeo
dele com falas nessa linha chegou a ser publicado, e depois apagado, da conta
oficial do próprio presidente no domingo, 22.
Para Eduardo Bolsonaro, “tanto Olavo quanto
Carlos estão apenas reagindo a isso tudo que salta aos olhos de quem acompanha
a política”.
“Bolsonaro fala que é contra o aborto, ele
fala que é a favor. Olha, tudo bem, é uma opinião dele. Mas, vice-presidente, a
função dele não é dar opinião, ele já deu. Ele já apareceu neste tempo aí
somado mais que José Alencar, Marco Maciel, Itamar Franco e o Temer, que eram
vices”, disse, em referência aos ocupantes dos cargos nos governos Lula,
Fernando Henrique Cardoso, Collor e Dilma Rousseff, respectivamente
Fonte: Veja
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