11/04 - Reportagem
de Reynaldo Turollo Jr, na Folha, a mais lida neste momento em seu portal, dá
ideia da monstruosidade que se formou nas elites deste país. Quando se chega ao
ponto de que uma figura sombria e autoritária acaba em porta-voz da dignidade
humana, é sinal de que as instituições tornaram-se mais que tolerantes,
verdadeiras cúmplices da barbárie.
O
ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse nesta
terça-feira (10) que pessoas que ficam indignadas com o fato de a cela do
ex-presidente Lula ter um vaso sanitário, por considerarem isso um privilégio,
sofrem de algum tipo de perversão.
“Onde estamos com a cabeça? Aonde foi a nossa sensibilidade? É um tipo de perversão que pessoas que foram alfabetizadas, tiveram três ou quatro alimentações durante toda a vida, se comportem dessa maneira, animalesca”, afirmou.
É
assustador que um homem de direita, conservador e elitista seja um dos poucos
que tem espaço para dizer esta verdade evidente, porque os demais “donos da
voz” neste país revezam-se, quase todos, nos jornais e televisões para chamar
de “privilégios” os direitos que deveriam se de qualquer ser humano.
Aliás,
chega-se ao ponto de um candidato (e não só um) dizer que alguém preso já não é
um ser humano.
Óbvio
que remendam essa monstruosidade dizendo que os outros não têm. Neste caso,
como há pessoas com fome, deveríamos abolir seus “privilégios” de comer três
vezes por dias?
Isso
não brotou do nada. Embora a semente do mal, dizem alguns, esteja disseminada
em muitos, ela só viceja se lhe dão alimento e temperatura para romper a casca
de civilização que, há milênios, a humanidade vem formando.
A
classe dominante brasileira – e nesta não está só o capital, o rentismo, mas
também os estamentos que a ele se agarram como cracas, inclusive na minha
profissão – volta a assumir os seus jamais esquecidos ares de senhores de
engenho, onde a senzala e o eito bastavam para os escravos e, num gesto de
liberalidade, algo melhor só se alcançaria pela docilidade que os fizessem
mucamas e feitores.
Esta
deformação se reproduz em parte da classe média – até com mais desfaçatez.
Outro
dia um cidadão foi mostrado, nas redes sociais, lamentando não se poder mais
“pegar uma menina de 13, 14 anos” no interior, pô-la a trabalhar como
doméstica, pagar-lhe com comida e trapos e, pasmem, ainda correr o risco de ser
um violador por fazer sexo com ela.
O
século 19 é no 21.
O chicote desta nova servidão é, ninguém duvide, a mídia.
E
quem o brande são os senhores promotores e juízes, transformados em
bestas-feras, que sequer disfarçam mais o ódio, com seu discurso hipócrita.
Tão
hipócrita que faz de Gilmar Mendes, o tosco ministro, alguém melhor, do ponto
de vista humano, do que os Fachins e Barrosos.
Por Fernando Brito - 11/04/2018
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