Nesta semana, os bastidores da política cearense foram dominados, mesmo com uma certa dose de incredulidade, por insistentes comentários sobre um possível reatar de entendimentos entre o grupo liderado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT) e o do PMDB do senador Eunício Oliveira, hoje presidente do Congresso Nacional.
Eles estão rompidos desde o início de 2014, quando
Cid negou apoio à postulação de Eunício para o Governo do Estado, vindo
posteriormente a indicar, como candidato ao posto, Camilo Santana (PT), o
eleito. A disputa pela chefia do Executivo estadual cearense foi acirrada. E
virulentas foram as acusações pessoais, continuadas até bem pouco tempo, entre
Ciro e o senador.
Os atores principais, pelo menos até agora, ainda
distante do momento de consolidação das alianças políticas para a sucessão
estadual, até podem fazer-se de alheios, desinteressados e distantes das
reservadas conversações autorizadas de aliados seus interessados no
entendimento, por razões outras além daquelas de terem que encarar as normais
críticas do realinhamento, após tantos desaforos trocados. Ambos os lados têm
dado sinalização de ser possível voltarem a fazer campanha juntos.
A não definição de um segundo nome para senador, na
chapa de Camilo, como reportado neste espaço no último sábado, se não tinha o
objetivo primeiro de atrair Eunício para uma aliança, sem dúvida foi a abertura
para o entendimento já não tão distante. Abstendo-se dos discursos do senador
sobre sucessão estadual, as condições políticas do momento não lhes parecem
favoráveis para a repetição da disputa de 2014. O acordo, portanto, lhe
facilita renovar o mandato.
Agora, por último, além dos acenos de ajuda ao
Governo do Estado e à Prefeitura de Fortaleza, com ações do Governo Federal, o
senador estancou o processo de expulsão de três deputados estaduais do PMDB:
Agenor Neto, Audic Mota e Silvana Oliveira, hoje no grupo do Governo.
A emenda constitucional de Eunício, garantindo a
manutenção do TCM, se aprovada meses atrás, poderia até ser questionada, por
ferir o princípio federativo, no entanto seria um grande empecilho para
extinguir aquele Tribunal, além de produzir um ganho político para Domingos
Filho, pretenso candidato ao Governo, ampliando sua capacidade de fustigar o
governador e também ao próprio Eunício, que o teve como concorrente, no mesmo
grupo, para ser candidato a sucessor de Cid no Governo.
Se formada a aliança, Domingos fica com espaço
muito restrito para disputar um cargo majoritário. A não expulsão dos deputados
também pode se relacionar à perspectiva do acordo. Expulsos, eles no Governo
poderiam criar dificuldades para votar na chapa situacionista com o
peemedebista.
Os observadores mais atentos do quadro político
local têm leituras mais aproximadas das pretensões dessas lideranças,
enxergando, portanto, situações compatíveis com os interesses dos pretendentes
aos diversos cargos abertos à disputa, que fora da política seriam
inimagináveis de acontecer.
Ao PDT, ao PT de Camilo, e ao PMDB de Eunício, o
acordo ora badalado tem grande valia. Para o governador, é menos um forte
adversário que desaparece, além da garantia de mais tempo para a propaganda
eleitoral no rádio e televisão, um ponto a ser considerado em qualquer campanha
majoritária. Para o senador, será uma oportunidade de disputar a reeleição com
melhores perspectivas de vitória.
Aparentemente, efetivando-se tal quadro,
enfraquecida ficará a oposição à reeleição de Camilo. Ledo engano. A oposição
tem facilidades de vez por outra fazer a eleição ser realmente disputada,
principalmente quando tem um bom nome que inspire confiança e consiga atacar a
vulnerabilidade do governante na disputa do segundo mandato. Eunício foi
oposição em 2014, conseguiu levar a disputa para o segundo turno. Camilo era o
candidato da situação, com Cid no Governo, lhe emprestando todo o apoio que o
Poder pode oferecer aos seus.
O PSDB do senador Tasso Jereissati, com
representantes de outras siglas que deram musculatura à candidatura de Eunício
em 2014, pode motivar o eleitorado a reagir contra essa pretensa aliança, e,
como resultado, fortalecer os nomes que venham a ser apresentados para a chapa
majoritária oposicionista.
Os tucanos terão candidato ao Governo do Estado,
não apenas pelo fato de o partido, disputando o cargo de Presidente da
República, precisar de um palanque no Estado, mas, sobretudo, pela determinação
de querer derrotar Camilo por ser petista e apoiado por Ciro e Cid Gomes.
Preferencialmente, se não houvesse obstáculo em relação às alianças no pleito
federal, Eunício seria o nome das oposições.
Sem ele, o PSDB construirá sua própria candidatura.
Há tempo suficiente para desenvolver esse projeto, porém o partido precisa
decidir logo e começar a andar com o escolhido pelo Interior do Estado para
fazer o contraponto com Camilo, constantemente em missão administrativa que se
confunde com campanha política.
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