01/11 - Nesta época chamada de pós-moderna, muito tem se
discutido sobre os rumos das relações humanas e do amor. Apesar de seu
prestígio cultural, o amor deixou de ser um puro momento de encanto para se
tornar um peso: “Quando é bom, não dura, e quando dura, já não entusiasma” O
ideal do amor no qual a sociedade é fixada, herdado do romantismo, tornou-se
contraditório com a "paixão pelo efêmero", e a necessidade de
reinventá-lo.
Foi o disse Zygmunt
Bauman, um sociólogo, pensador, professor e escritor polonês, uma das vozes
mais críticas da sociedade contemporânea. Criou a expressão “Modernidade
Líquida” para classificar a fluidez do mundo onde os indivíduos não possuem
mais padrão de referência.
Segundo, Bauman “no mundo de furiosa
“individualização”, os relacionamentos são bênçãos ambíguas “oscilam entre o
sonho e o pesadelo, e não há como determinar quando um se transforma no outro”,
ressalta. Ele acredita que hoje em dia as atenções humanas tendem a se
concentrar nas satisfações que esperam obter das relações precisamente porque,
de alguma forma, estas não têm sido consideradas plena e verdadeiramente
satisfatórias. E, se satisfazem, o preço tem sido considerado excessivo e
inaceitável”.
Relacionar-se é caminhar na neblina sem a certeza
de nada. A frase foi escrita em "Amor Líquido", livro no qual alerta
para a crescente fragilização das relações sociais e afetivas no mundo moderno.
Nessa contextualização, em um ano, entre 2016 e
2017, no Ceará, o número de divórcios aumentou e de casamentos diminuiu, assim
como sua duração, o que reverbera a teoria do sociólogo. Fortaleza é a terceira
capital brasileira no total de separações legais. Entre 2016 e 2017, houve um
aumento de 7%, passando de 5.619 para 6.016.
Enquanto isso, em igual período, os casamentos
recuaram 12% no Ceará: Em 2017, 38,8 mil casais, seja homem/mulher ou do mesmo
sexo, formalizaram união no Estado. Em 2016, foram 44,1 mil. Na Capital
cearense, a redução foi menor, de 5,9%, sendo 14.036 no ano passado e 14.912,
em 2016. Os dados fazem parte das estatísticas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas ontem (31).
A Região Sudeste apresentou a maior taxa geral de
divórcio (2,99%). Entre as capitais, São Paulo lidera com 20,7 mil, seguida
pelo Rio Janeiro, que somou 10,6 mil. Em quarto lugar ficou Salvador, com 4,5
mil dissoluções do matrimônio. Entre os estados, o Ceará foi o segundo do
Nordeste, com 13.419 separações. A Bahia contabilizou 17,2 mil em igual
período.
As idades médias na data do divórcio era de 43 anos
para os homens e 40 anos para as mulheres. Entre 2007 e 2017, o tempo médio
entre a data do casamento e a data da sentença ou escritura do divórcio caiu de
17 para 14 anos.
Mesmo com a queda no número de casamentos, o Ceará
é o terceiro do Nordeste com o maior número de uniões registradas no ano
passado: 16% do total. Bahia lidera o ranking da região, com 64.578 (26,76%)
matrimônios realizados, seguida de Pernambuco, com 47.864 (19,83%).
No Brasil, foram pouco mais de um milhão. A
tendência de redução foi constatada em todo o País que teve 2,3% de diminuição
em relação a 2016. O IBGE também informa sobre as uniões entre pessoas do mesmo
sexo.
Entre mulheres, o Ceará lidera o Norte/Nordeste,
sendo o sétimo do Brasil, com 125 uniões homoafetivas. São Paulo encabeça, com
1.495 formalizações, seguido por Rio de Janeiro, com 299; Minas Gerais, com
250; Paraná, com 135 e Rio Grande do Sul, com 128. Em todo o Brasil foram 3,3
mil. O Ceará também lidera as uniões homoafetivas no Norte e Nordeste, com 92
casamentos realizados no ano passado. No Brasil, foram 2,5 mil. São Paulo somou
1.002; Rio Grande do Sul, 121; Santa Catarina, 215; Rio de Janeiro, 109 e Minas
Gerais, 197.
"Como mesmo diz Bauman, as fragilidades dessas
relações estão cada vez mais em evidência. É fácil casar, é mais fácil ainda se
separar por motivos muitas vezes superficiais. Sem falar que o empoderamento
feminino e a aceitação social de que a mulher não precisa mais casar obrigatoriamente
indicam novos conceitos".
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