04/12 - O
que vivemos atualmente no Brasil não pode sequer ser chamado de democracia de
baixíssma intensidade. Se tomarmos como referência mínima de uma democracia sua
relação para com o povo, o portador originário do poder, então ela se nega a si
mesma e se mostra como farsa.
Para as decisões que afetam profundamente o povo, não se discutiu com a sociedade civil, sequer se ouviram movimentos sociais e os corpos de saber especializado: o salário mínimo, a legislação trabalhista, a previdência social, as novas regras para a saúde e a educação, as privatizações de bens públicos fundamentais como é, por exemplo, a Eletrobrás e campos importantes de petróleo do pré-sal, bem como as leis de definem a demarcação das terras indígenas e, o que é um verdadeiro atentado à soberania nacional, a permissão de venda de terras amazônicas a estrangeiros e a entrega de vasta região da Amazônia para a exploração de variados minérios a empresas estrangeiras.
Tudo
está sendo feito ou por PECs, decreto ou por medidas provisórias propostas por
um presidente, acusado de chefiar uma organização criminosa e com baixíssimo
apoio popular que alcança apenas 3%, propostas estas enviadas, a um parlamento
com 40% de membros acusados ou suspeitos de corrupção.
Que
significa tal situação senão a vigência de um Estado de exceção, mais, de uma
verdadeira ditadura civil? Um governo que governa sem o povo e contra o povo,
abandonou o estatuto da democracia e claramente instaurou uma ditadura civil.
Assim pensa um de nossos maiores analistas politico Moniz Sodré, entre outros.
É exatamente isso que estamos vivendo neste momento no Brasil.
Na
perspectiva de quem vê a realidade política a partir de baixo, das vítimas
deste tipo novo de violência, o país assemelha-se a um voo cego como um avião
sem piloto. Para onde vamos? Nós não sabemos. Mas os golpistas o sabem: criar
as condições políticas para o repasse de grande parte da riqueza nacional para
um pequeno grupo de rapina que segundo o IPEA não passa de 0,05 de populacão
brasileira, (um pouco mais de 70 mil milhardários) que constituem as elites
endinheiradas, insaciáveis e representantes da Casa Grande, associadas a outros
grupos de poder anti-povo, especialmente de uma mídia empresarial que sempre
apoiou os golpes e teme a democracia.
Transcrevo um artigo de um atento observador da realidade brasileira, vivendo no semi-árido e participando da paixão das vítimas de uma das maiores estiagens de nossa história: Roberto Malvezzi. Seu artigo é uma denúncia e um alarme: Da ditadura civil para a militar.
“Antes do golpe de 2016 sobre a
maioria do povo brasileiro trabalhador ou excluído, já comentávamos em
Brasília, num grupo de assessores, sobre a possibilidade de uma nova ditadura
no Brasil. E nos ficava claro que ela poderia ser simplesmente uma “ditadura
civil”, sem necessariamente ser militar. Entretanto, como em 1964, ela poderia
evoluir para uma ditadura militar. Naquele momento pouquíssimos acreditavam que
o governo poderia ser derrubado”.
Para
mim não há dúvida alguma que estamos em plena ditadura civil. É um grupo de 350
deputados, 60 senadores, 11 ministros do Supremo, algumas entidades
empresariais e as famílias donas da mídia tradicional que impuseram uma
ditadura sobre o povo.
As
instituições funcionam, como dizem eles, mas contra o povo e apenas em favor de
uma reduzidíssima classe de privilegiados brasileiros. Claro, sempre conectados
com as transnacionais e poderes econômicos que dominam o mundo.
Portanto,
nós, o povo, fomos postos de fora. Tudo é decidido por um grupo de pessoas que,
se contadas nos dedos, não devem atingir mil no comando, com um grupo um pouco
maior participando indiretamente.
Acontece
que o golpe não fecha, não se conclui, porque a corrupção, velha fórmula para
aplicar golpes nesse país, hoje é visível graças a uma mídia alternativa
presente e cada vez mais poderosa. E a corrupção está em todos os níveis da
sociedade brasileira, sobretudo nos hipócritas que levantaram essa bandeira
para impor seus interesses.
Mas,
a corrupção é apenas o pretexto. Segundo a visão de Leonardo Boff, o objetivo
do golpe é reduzir o Brasil que funcione apenas para 120 milhões de
brasileiros. Os 100 milhões restantes vão ter que buscar sobreviver de bicos,
esmolas e participação em gangs, quadrilhas e tráfico de armas e drogas.
Então,
começam aparecer sinais do verdadeiro pensamento de quem está no comando, uma
reunião da Maçonaria, um general falando a verdade do que vai nos bastidores, a
velha mídia com a opinião de “especialistas”, nas mídias sociais os saudosos da
antiga ditadura dizendo que “quem não é corrupto não precisa ter medo dos militares”.
Enfim,
estão plantando a possibilidade da ditadura militar. Para o pequeno grupo que
deu o golpe ela é excelente, a melhor das saídas. Nunca foram democráticos. Não
gostam do povo. Inclusive nessa Câmara e nesse Senado, poucos vão perder seus
cargos ou ir para a cadeia.
O
pior de uma ditadura civil ou militar é sempre para o povo. As novas gerações não
conhecem a crueldade de uma ditadura total.
É de
gelar a alma o silêncio da sociedade diante daa declarações do referido
general”. Que Deus e o povo organizado nos salvem.
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