Dinheiro não garante educação
Estudo do governo federal mostra que escolas públicas de cidade pobre
conseguem, com boa gestão, resultados superiores aos dos municípios mais ricos
do País
Duas cidades médias brasileiras com cenários educacionais e recursos
orçamentários bem diferentes. Uma é Sobral, no sertão cearense. Terra do
humorista Renato Aragão e do músico Belchior, o município é conhecido por um
evento curioso: lá foi testada a Teoria da Relatividade de Albert Einstein, em
1919. Como outras localidades do semiárido, tem à disposição um orçamento
modesto e uma extensa lista de problemas sociais seculares a resolver. A outra
é Barueri, na Grande São Paulo. Ali está Alphaville, espécie de Beverly Hills
brasileira, onde residem várias celebridades, de cantores sertanejos a
apresentadores de tevê.
Mas, se Barueri é rica, Sobral é bem educada. Explica-se: para tentar
entender o impacto da riqueza dos municípios nas melhoras obtidas na educação,
João Carlos Teatini, diretor de educação a distância da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), cruzou o indicador usado
pelo Ministério da Educação para avaliar a qualidade do ensino, o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), e o Produto Interno Bruto (PIB) per
capita dos 159 municípios brasileiros com mais de 150 mil habitantes. A
constatação foi de que os municípios brasileiros não estão transformando seu
dinheiro em melhoria na educação. Barueri é um exemplo. Sobral, ao contrário,
com poucos recursos, melhora seus índices a cada ano.
Sobral e Barueri chamaram a atenção de Teatini por representar extremos. A
cidade cearense apresentou o maior crescimento no Ideb, embora figure apenas na
114ª posição no ranking do PIB per capita.
O que se vê em Sobral pode servir de exemplo para gestores de educação de todo
o País. Em 2001, três a cada cinco
alunos estavam em série incompatível com a idade. No segundo ano do ensino
fundamental, mais da metade das crianças não sabia ler nem escrever. Uma década
depois, os indicadores educacionais não lembram em nada os do passado. A
distorção entre idade e série caiu para 7,7% e praticamente todos os alunos
(96%) já sabem ler no segundo ano. A nota no Ideb, de 6,6, faz Sobral cumprir
mais de dez anos antes a meta do Ministério da Educação (MEC) – de até 2022
atingir média acima de seis no Ideb.
O mais impressionante é que a cidade cearense subiu de patamar sem mexer no
orçamento: pouco mais de R$ 60 milhões para 35 mil alunos – em Barueri, são
mais de R$ 500 milhões para 60 mil. Além do recurso controlado, a cidade
cearense tem à frente o desafio de reverter décadas de falta de investimento na
educação. Dos estudantes que hoje lotam as salas de aula do município, 40% têm
pais que estudaram menos de quatro anos. “Esses dados reforçam a tese de que
quem fez a diferença na melhoria dos indicadores foram as escolas”, analisa o
pesquisador Antônio Gomes Batista, do Centro de Estudos e Pesquisas em
Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). Para Batista, o segredo da
evolução positiva do município está na homogeneidade das instituições da rede. Em Sobral, das 39 escolas que participaram do
último Ideb, apenas uma teve nota abaixo de seis. De Sobral muito se sabe, pois
há vários especialistas tentando explicar tamanho avanço em espaço de tempo tão
curto.
Fonte: Revista Isto É
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