16/02 - Depois de ter alta do Hospital Albert Einstein, em
São Paulo, onde se recuperava da cirurgia para a retirada da bolsa de
colostomia, o presidente Jair Bolsonaro inverteu a lógica aeronáutica. Embarcou
em São Paulo, fez um voo tranquilo e desembarcou na turbulência.
O retorno à Brasília para ocupar a Presidência da República parece da mesma forma inverter a lógica da política. Bolsonaro tem à frente como principal missão aprovar a reforma da Previdência, algo que exige quorum qualificado em duas votações na Câmara e no Senado e que já esbarrou em problemas num passado recente. Ou seja: ele deveria buscar um ambiente de união na sua base. Ao contrário, o presidente acionou a usina de crises via redes sociais alimentada por seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro. Ao descer na capital federal na quarta-feira 13, Bolsonaro, com a ajuda de Carlos, torrava em fogo altíssimo seu ministro da Secretaria Geral, Gustavo Bebianno.
É sobre Bebianno, antigo comandante do PSL, o partido do presidente, que recaem as principais suspeitas pela montagem de um esquema de laranjas — a mais vistosa é Fabrício Queiroz, o ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro, que segue desaparecido e sem dar explicações.
Na última semana, a Folha de S. Paulo publicou mais uma face desse esquema ao revelar que o partido destinara R$ 400 mil para a campanha de Maria de Lourdes, uma candidata a deputada estadual que obteve apenas 300 votos. O rastreio do dinheiro chegou na contratação de uma gráfica de fachada.
Bebianno parece ter muito a explicar no novo caso. E se Bolsonaro o considera responsável pelo rolo, deveria tê-lo demitido. Afinal, uma das características que a sociedade parece ter enxergado no presidente era a autoridade. Mas preferiu o caminho de fritura do ministro com a ajuda do filho Carlos. Acuado, na quarta-feira 13, Bebianno tentou diminuir a pressão sobre ele dizendo que tinha conversado com o presidente no hospital sobre a situação e que tudo estava esclarecido.
Para surpresa dele e do País, Carlos Bolsonaro reagiu violentamente à declaração. Postou nas redes sociais que era uma “mentira absoluta” que Bebianno tivesse conversado com o presidente. Seguindo a surpresa, publicou um áudio em que Bolsonaro despacha Bebianno e se recusa a falar com ele. A capacidade de surpreender não parou aí. Na sequência, o próprio Jair Bolsonaro publicou na sua conta pessoal do Twitter a postagem de Carlos Bolsonaro, endossando o que o filho dissera.
Mais tarde, o próprio presidente, em entrevista à
TV Record, disse que, se for comprovada a responsabilidade de Bebianno, não
haverá outra alternativa senão o ministro “voltar às origens”.
E determinou que a Polícia Federal investigasse o episódio. Na manha de quinta-feira 14, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, comunicou que o pedido será atendido. Se era uma senha para que Bebianno pedisse demissão, ele próprio não atendeu. Permanecerá no cargo.
O PSL ficou desnorteado. Bebianno foi o braço direito de Bolsonaro durante a campanha e, mais do que ninguém, é ele quem sabe como se distribuíram os recursos que elegeram os parlamentares que compõem a base do partido. Bebianno disse a amigos estar magoado com a forma como o presidente e seu filho o expuseram.
No Congresso, parlamentares do PSL tentavam entender a tática usada para a fritura de Bebianno. “Filho de presidente é filho de presidente”, criticou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). “Temos que tomar cuidado para não fazer puxadinho da Presidência dentro de casa para expor um integrante do governo dessa forma”, continuou. “Governo é governo. Família é família”, reforçou o líder do governo, Delegado Valdir (GO).
O problema para o presidente é amainar essa turbulência diante da complicada tarefa de aprovar a reforma da Previdência e dar curso às demais demandas que terá de enfrentar.
Uma coisa, porém, é consenso sobre seu governo. Ele é emocionante. Desnecessariamente emocionante.
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