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2 de fevereiro de 2019

PACIENTE COM CÂNCER GENITAL É CURADA COM PELE DE TILÁPIA


02/02 - Com apenas um ano de casada, a professora Elisane Gusmão foi diagnosticada com câncer genital. Era abril de 2009. Um sangramento durante o ato sexual foi o primeiro sintoma que a fez procurar um médico. O profissional indicou sessões de radioterapia e braquiterapia.

Contudo, após o término do tratamento, uma outra surpresa nada agradável: os tecidos da sua cavidade vaginal haviam sido fechados, o que a impediria de menstruar e ter relações. Este foi o início de uma saga árdua em busca da cura que a trouxe quase dez anos depois da descoberta da enfermidade ao Ceará, pioneiro em reconstrução do canal vaginal com pele de tilápia.

Elisane, 41, é natural de Medina, no Vale do Jequitinhonha (MG). Muito antes de desembarcar em Fortaleza, percorreu inicialmente o Sudeste do País. Como numa peregrinação, de hospital em hospital, a educadora seguia para cada consulta movida pela "fé e a esperança" de reverter o quadro de saúde.

Hospitais particulares de Belo Horizonte e clínicas escolas em São Paulo a receberam. Em todas elas, para sua infelicidade, tentativas frustradas.
Tilápia
A solução para o caso de Elisane veio da água doce. A pele de tilápia, que já era utilizada como prótese biológica para pacientes vítimas de queimaduras, ganhou outra importante finalidade.

Desta vez, na área de ginecologia. Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) recorreram à membrana do peixe para ajudar mulheres nascidas com a síndrome de Rokitansky ou agenesia vaginal, que atinge uma em cada cinco mil pessoas do sexo feminino. Nelas, a parte externa do órgão é normal, mas o canal interno é curto ou não existe. 10 mulheres já passaram por cirurgia desta natureza na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac).

No entanto, a educadora mineira não está incluída nesse perfil, já que nasceu com as funções normais da vagina e desenvolveu o problema somente após a descoberta de um câncer. Por outro lado, foi a partir de Elisane Gusmão que a pesquisa da UFC evoluiu para um outro patamar, mais precisamente no dia 21 de novembro de 2018. De forma inédita, uma equipe de saúde realizou a cirurgia de reconstrução de vagina com pele de tilápia em mulher submetida a radioterapia pélvica.

"É a primeira vez na história que se usa uma prótese de animal aquático em substituição à pele natural; nesse caso específico, nas mulheres pós radioterapia. Esse tratamento destrói os tecidos, gerando o fechamento completo do canal da vagina, então é uma reconstrução muito difícil de ser feita. A pele de tilápia funciona como um novo tecido, estimulando o crescimento de células novas e reconstruindo o canal vaginal", explica o professor de Medicina e cirurgião Leonardo Bezerra.

Cura
Se, para a ciência, o feito é avaliado como um avanço, já que a partir dos estudos, a pele de tilápia tem mostrado resultados concretos no campo cirúrgico, para Elisane tem um "valor transformador". Depois de obedecer ao pré-operatório com exame de sangue completo, ultrassonografia, ressonância pélvica e mamografia, a professora anotou no calendário e registrou na memória aquela data não só como uma nova aposta, mas, sobretudo, como o fim de um ciclo de tristeza, aflição e incertezas. Era tempo de dar as boas-vindas ao tão sonhado momento.
(Diário do Nordeste)
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