Nestes dias que antecedem às eleições 2014 para
presidente da República e governador do estado do Ceará (2º turno), remexi no
fundo do meu baú de recordações e vejam só o que encontrei: rabiscos, fotografias
e alguns santinhos. Em 1983 Gonzaga Mota foi eleito governador do Ceará
(15/03/1983-15/03/1987) pelo PDS – Partido Democrata Social, derrotando a fortíssima
chapa composta por dois pesos pesados da política cearense: os senadores Mauro
Benevides e Ozires Pontes (*19.08.1918 +01.09.1985), este último, pai do
ex-senador Luiz Pontes, ambos, orgulhos massapeenses. No finalzinho do seu mandato,
o ilustre governador (que é pai do doutor Mota, secretário de Governo da
prefeitura de Massapê - 2013/2016), aterrissou em um avião cesna bimotor no
aeroporto de Sobral (foto 1), acompanhado do deputado estadual Paulo Lustosa
(foto 3), para participar das cerimônias de inaugurações de obras naquela
vizinha e próspera cidade, conforme recepção calorosa dos políticos da região
noroeste (vereadores, prefeitos e deputados), com apresentação artística da banda
de música municipal (foto 2), registradas na lente de uma máquina fotográfica
Kodak, pelo retratista amador Ferreirinha, que deu uma de repórter fotográfico,
causando certa intranqüilidade aos seguranças particulares da comitiva
governamental, em conformidade com o flagrante da foto 3. Radicado em São Paulo
desde 1980, na ocasião Ferreirinha gozava férias em Massapê – terra que sua
parteira “Mãe Tonha” enterrou no monturo o seu cordão umbilical e por lá ele estive,
para recepcionar o digníssimo governador, a convite dos correligionários das
duas grandes forças políticas aliadas de Massapê: coronel Chico Lopes (*29.10.1935 +28.09.1989), prefeito por duas
legislaturas (1967/1971 e 1973/1976) e Beto Lira (*08.10.1931 +20.10.1986)
prefeito que também exerceu dois mandatos (1964/1967 e 1977/1982). Nilson Frota
(PMDB) era o prefeito de Massapê (1983/1988) e acabara de derrotar nas urnas
seu rival político Chico Lopes (O FLA 82), que tinha como vice Jacques
Albuquerque, conforme foto 4 (santinho). E, numa demonstração de união de
forças até então jamais vista em nosso município, as duas lideranças políticas
oposicionistas (Chico Lopes e Beto Lira) fizeram convite informal ao
governador, para uma estratégica visita em Massapê, notadamente na sede da
fazenda Arraial (distante 9 kms da sede), de propriedade do ex-prefeito Chico
Lopes, que por lá já hospedou dezenas de convidados especiais (influentes políticos
e astros da MPB), dentre o quais, os governadores: coronéis César Cals, Adauto
Bezerra e Virgílio Távora, bem como, os cantores Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga
e Marinês, inclusive, com pernoite. Dizem à boca miúda que referida visita
política (há até quem conteste que nunca existiu) foi, na verdade, uma reunião
secreta, restrita a alguns correligionários e assessores próximos, para preparar
e lançar na próxima eleição municipal, um candidato forte, um novo líder que
tivesse força suficiente para derrotar o imbatível poder situacionista. Foi tiro
e queda. Por unanimidade Jacques Albuquerque (tio do atual prefeito de Massapê
Antonio José e irmão do presidente da AL, Zezinho Albuquerque) foi o candidato indicado,
tendo como vice o ex-deputado federal doutor Aurimar Pontes (*07/02/1922
+28/03/2006), sendo eleito prefeito de Massapê para exercer o mandato
compreendido no período de 1989 a 1992, derrotando a chapa composta por dois jovens
advogados visionários, imbuídos de ideais e aspirantes na política, os doutores
Jilson Canuto e Gerardo Soares. De lá pra cá se passaram 31 anos, de modo que,
surgiu mais uma renovação, um novo líder que engatinha na política, mas que
desponta para construir um futuro promissor e deixar sua marca registrada nos
anais da história de Massapê, com a gestão “A Força do Novo Tempo”. E o que
tudo isso tem a ver com o título dessa crônica? Calma!... Como a visita governamental
foi de improviso e às pressas, já no crepúsculo vespertino, o governador
Gonzaga Mota (que encerrou o ciclo dos coronéis governadores do Ceará), diga-se
de passagem, tem formação humanista e é dotado de raro sentimento de humildade e
simplicidade franciscanas, foi abordado pela esposa do caseiro da fazenda Arraial
– dona Maria Inocência (86 anos), que trazia nas mãos uma enorme cesta contendo
aproximadamente uns cinqüenta ovos de galinha caipira. Abaixo, transcrição do
diálogo entre os três protagonistas, vazado nos seguintes termos:
-
Siô governadô, na capitá num tem dessas
coisa não. Aceite de bom grado, estes zovos de galinha caipira?...
-
Muitíssimo obrigado – agradeceu educadamente
o digníssimo governador, emendando – quanto
custa estes ovos?
-
Voismicê num raí pagá nada não.
-
E se eu fosse pagar, quanto custaria estes
ovos fresquinhos de galinha caipira?
-
Quatrocentos Cruzeiros- (equivalente
à moeda atual, uns 200 Reais) – respondeu a rude doméstica Maria Inocência, que
faz jus ao próprio nome, sucedendo de largos e intermitentes sorrisos, que contagiou
os presentes àquela aprazível morada (histórica e centenária), que já foi palco
escravocrata, abrigando, no início do século XIX, uma senzala.
-
Coronel Chico Lopes, galinha por aqui é
raridade? – insistiu o governador.
-
Não é não, vossa excelência – se
justificou o conceituado político massapeense, que tinha apurado senso de humor.
-
E que ovos tão caros são esses???
-
É que a “pé duro” da bendita chocadeira é
nada mais e nada menos, que “A Galinha dos Ovos de Ouro” – respondeu com um
copo na mão e largo sorriso o nosso saudoso coronel
Chico Lopes, falecido precocemente aos 54 anos, conseqüência de cirrose
hepática, que, a exemplo de Abraham Lincoln, um simples lenhador que chegou à
presidência dos EUA, tal qual, foi considerado um grande estadista, reservadas
as devidas proporções. Quiçá, foi este, um dos seus últimos atos de prestígio
político da mais alta relevância, junto aos governadores do Ceará, pois tinha passe
livre nas pautas de reuniões, sem protocolo de agendamento no Palácio do
Governo Estadual com os seguintes mandatários: coronel César Cals (1971/1975), coronel
Adauto Bezerra (1975/1978) e coronel Virgílio Távora (1979/1982). Coronel pra
cá, coronel pra lá, é fruto do seu prestígio a genérica patente militar,
outorgada pela vã filosofia popular.
Foto 1:Ferreirinha posando ao lado do avião do governador |
Foto 4: santinho do Chico Kopes (campanha eleitoral de 1982) |
Ferreirinha é historiador e escritor, ex-coordenador cultural,
ex-assessor técnico e atualmente não sei mais o quê, da Prefeitura Municipal de
Massapê.
Do livro: Histórias & Causos com Casos &
Estórias de Massape – autor: Ferreirinha de Massapê.
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