10/02
- Na sexta-feira, o porta-voz do Planalto fez questão de relatar à imprensa que
Jair Bolsonaro havia conversado por telefone com Hamilton Mourão. O governo
preferiu ser vago. Informou apenas que os dois discutiram “alguns assuntos” e
trocaram impressões sobre uma nebulosa “integração de ações governamentais e de
planejamentos futuros”.
Não
se sabe se a ligação durou mais do que os 40 segundos gastos pelo assessor para
dar a notícia. Ninguém contou, também, se a dupla teve tempo de trocar algumas
palavras sobre o inesperado encontro de Mourão com dirigentes da CUT.
Ao
abrir o Planalto para um grupo historicamente alinhado ao PT, o vice reforçou a
sensatez com que exerce o cargo, mas também cometeu um ato quase transgressor
para demarcar mais uma diferença em relação a Bolsonaro. A distância política
entre os dois é cada vez maior.
O
presidente nunca escondeu seu desapreço pelas centrais trabalhistas. Em
novembro, após vencer a eleição, ele ironizou essas corporações: “A vida de
sindicalista é muito boa. É ficar lá, só engordando”. Meses antes, o filho
Eduardo fizera um discurso na Câmara em que chamava integrantes da CUT de
“vagabundos”.
Mourão,
ao contrário, disse aos sindicalistas que gostaria de liderar a interlocução do
governo com movimentos sociais, segundo o relato de um dos participantes do
encontro.
A
última semana delineou uma ruptura entre o núcleo bolsonarista e o vice. Depois
que a revista Época noticiou que Mourãohavia debochado dos livros de Olavo de
Carvalho, o ideólogo chamou o general de “charlatão desprezível”. No dia
seguinte, os filhos Carlos e Eduardo mostraram de que lado estão: apoiaram
Olavo e disseram que ele foi responsável pela vitória de Bolsonaro.
Quando
João Figueiredo se internou nos EUA para uma cirurgia em 1981, ele recebeu 72
ligações durante 16 dias. Nenhuma delas partiu do vice Aureliano Chaves, com
quem o presidente mantinha uma relação de desconfiança. Bolsonaro e Mourão ao
menos ainda se falam ao telefone.
A folha
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