Destituído da relatoria do processo de cassação de
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) após manobra patrocinada pelo presidente da Câmara, o
deputado federal Fausto Pinato (PRB-SP) afirmou, em entrevista à Folha, ter
recebido, em três oportunidades, oferta de propina relacionada ao seu parecer.
Desde que foi escolhido como relator, Pinato já
indicava que iria dar um parecer favorável à continuidade do processo de Cunha.
O parlamentar disse não conhecer as pessoas que
fizeram a oferta.
O deputado voltou a dizer que recebeu, de deputados
aliados de Cunha, conselhos para tomar cuidado com a confecção de seu
relatório. Ele não cita nomes, porém.
Quando o sr. assumiu a relatoria, foi
procurado por emissários do presidente da Câmara, Eduardo Cunha?
Fausto Pinato - No começo foi assim: 'olha, isso é uma bucha, cuidado'. Normal.
Fausto Pinato - No começo foi assim: 'olha, isso é uma bucha, cuidado'. Normal.
Depois começaram aconselhamentos: 'Veja bem o que
você vai fazer... o Cunha é um deputado influente, com vários deputados, domina
praticamente todas as comissões da Casa'. Mas até aí tudo bem, faz parte né?
Tomei a cautela de não omitir nenhum tipo de opinião de mérito.
Fui tirado da relatoria porque eu sou uma pessoa
que estava fazendo um trabalho sério e independente.
O sr. encarou esses aconselhamentos como ameaça?
Então, por exemplo, eu fui abordado em aeroporto...
Então, por exemplo, eu fui abordado em aeroporto...
Por parlamentar?
Não, pessoas estranhas. Eu não sei nem quem era. 'Você que é o Pinato? Olha, pensa bem, pode mudar sua vida [faz sinal de dinheiro com as mãos]'. E eu recebi também uns dois telefonemas. 'Pensa bem na tua família'. Eu sou um cara de cidade pequena de 70 mil habitantes acostumado a falar só em rádio AM.
Não, pessoas estranhas. Eu não sei nem quem era. 'Você que é o Pinato? Olha, pensa bem, pode mudar sua vida [faz sinal de dinheiro com as mãos]'. E eu recebi também uns dois telefonemas. 'Pensa bem na tua família'. Eu sou um cara de cidade pequena de 70 mil habitantes acostumado a falar só em rádio AM.
Ofereceram dar ajuda para sua próxima campanha?
Diretamente, não. Mas por telefone e pessoalmente no aeroporto, eu cheguei a ter propostas, sim: 'Você não quer pensar na tua vida? Pensar em você?'. Mas eu não sei se era para arquivar ou para condenar. Eu já cortava e saía.
Diretamente, não. Mas por telefone e pessoalmente no aeroporto, eu cheguei a ter propostas, sim: 'Você não quer pensar na tua vida? Pensar em você?'. Mas eu não sei se era para arquivar ou para condenar. Eu já cortava e saía.
Mas o senhor sabia de onde partia essas ofertas?
Não. No telefonema falaram para pensar na família e salvo engano umas duas vezes no aeroporto.
Não. No telefonema falaram para pensar na família e salvo engano umas duas vezes no aeroporto.
Proposta insinuando vantagem?
'Pensa bem, você pode arrumar tua vida, tal' [faz sinal de dinheiro com as mãos]. Umas coisas nesse sentido. Mas como eu cortava. Sempre tentei me esquivar.
'Pensa bem, você pode arrumar tua vida, tal' [faz sinal de dinheiro com as mãos]. Umas coisas nesse sentido. Mas como eu cortava. Sempre tentei me esquivar.
Os parlamentares não chegaram a lhe oferecer
dinheiro?
Não, não falaram nada. Era 'pensa bem, vê o que vai fazer'. Não chegaram a ser tão incisivos, até porque alguns são até meus amigos, tinha relacionamento pessoal de sair com eles.
Não, não falaram nada. Era 'pensa bem, vê o que vai fazer'. Não chegaram a ser tão incisivos, até porque alguns são até meus amigos, tinha relacionamento pessoal de sair com eles.
Eu era cercado de amigos [dentro da Câmara dos
Deputados] e me tornei o cara mais solitário do mundo.
Mas tem um pessoal aqui que tem uma coerência, que
tem uma hombridade, não tem como generalizar.
O senhor ouviu rumores de oferta de dinheiro para
deputados votarem contra seu relatório?
Ouvi falar isso um monte, rádio corredor fala sempre. Tanto é que está uma discussão muito acirrada, né? Não querer nem deixar abrir o processo?
Ouvi falar isso um monte, rádio corredor fala sempre. Tanto é que está uma discussão muito acirrada, né? Não querer nem deixar abrir o processo?
Mas o sr. testemunhou essas supostas ofertas?
Como eu virei relator e a pressão era muito forte, o que eu fiz? Eu não conversei com ninguém do Conselho [de Ética]. Eu vou fazer o que é certo e a minha parte dentro da minha consciência.
Como eu virei relator e a pressão era muito forte, o que eu fiz? Eu não conversei com ninguém do Conselho [de Ética]. Eu vou fazer o que é certo e a minha parte dentro da minha consciência.
O que os aliados de Eduardo Cunha conversaram com o
senhor? Eles faziam parte desse pessoal que fazia o aconselhamento?
Também, né? Porque aqui, a verdade é a seguinte: um ou outro você sabe [de que lado está], mas existe um exército camuflado. Imagine um cara igual a eu, que é de primeiro mandato, chega, não sabe se tá lá ou cá.
Também, né? Porque aqui, a verdade é a seguinte: um ou outro você sabe [de que lado está], mas existe um exército camuflado. Imagine um cara igual a eu, que é de primeiro mandato, chega, não sabe se tá lá ou cá.
Houve ameaça?
Não, só aconselhamento. 'Vai devagar, pensa bem, não é tudo que a mídia fala que é verdade, tem que tomar cuidado, tem que pensar aqui dentro da Casa'.
Não, só aconselhamento. 'Vai devagar, pensa bem, não é tudo que a mídia fala que é verdade, tem que tomar cuidado, tem que pensar aqui dentro da Casa'.
Tomar cuidado com o quê?
Pra não se queimar, e tal. Aconselhamento, entendeu?
Pra não se queimar, e tal. Aconselhamento, entendeu?
(A Folha)
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