José Edimar
Gomes, (54 anos) – popularmente conhecido no seio da sociedade massapeense por
Zé Bode, adquiriu a alcunha ainda criança, em face da gagueira. O menino
balbuciava suas primeiras palavras imitando o berro do caprino: beeee, beeee.
De José para Zé Bode foi um pulinho. Dentre tantas qualidades que lhe são peculiares,
o bom rapaz é autodidata, historiador por natureza, exercendo esporadicamente a
profissão de técnico-eletricista e manutenção de pequenos motores. Desde tenra
infância adquiriu gagueira de forma moderada, mas que se acentua demasiadamente
nos momentos de embriaguez, inquietação e profunda irritação, sendo que, nunca
foi submetido a tratamento com médico especialista em fonoaudiologia. Em plena
segunda-feira do Carnaval de 2012, Zé Bode se divertia, bebendo “Umas & Outras”,
em um bar próximo à rotatória (anel viário) de acesso a avenida Senador Ozires
Pontes, e no exato momento de montar na sua motocicleta cor de abóbora, marca Kansas,
150 cilindradas, equipada com duas caixinhas de som contrabandeadas do Paraguai,
foi abordado por um casal que ocupava um daqueles carrões importados com design futurístico. Antes de entrarmos
no mérito da questão, é bom frisar que no referido logradouro público inexistiam
placas de sinalização indicando as vias de acesso às cidades de Santana do
Acaraú (CE 232 – rodovia Dermeval Carneiro Vasconcelos) e de Senador Sá,
Uruoca, Martinópolis, Granja e Camocim (CE 362), de modo que, os motoristas
ficavam sem saber para onde ir e, via de regra, dependiam de uma informação precisa
para seguir tranquilo ao seu destino. Abaixo, transcrição do diálogo entre os
três personagens, vazado nos seguintes termos:
- Bom, bom, bom, bom, bom,
bom... dia? – cumprimentou o motorista do veículo, por incrível que pareça, coincidentemente
também era gago, complementando:
- Ca, ca, ca, ca, ca, ca, ca, ca,
ca... Camocim, fi... fi, fi, fi, fi, fi, fi, fi, fi, fi, fica pra onde?
Zé Bode não titubeou, fechou
os olhos, soltou o verbo, ou melhor, a gagueira, e cortesmente foi prontamente
respondendo:
- Ca... ca, ca, ca, ca, ca,
ca, ca, ca, ca, ca... Camocim, fi... fi, fi, fi, fi, fi, fi, fi, fica nesta
di... di, di, di, di, di, di, di, di, direção... – disse Zé Bode, inicialmente com
o braço articulado em forma de “v” e em seguida na horizontal, apontando com o
dedo indicador, o rumo daquela aprazível cidade praiana.
- Você respeita o meu marido,
seu sem vergonha! – retrucou a senhora enfurecida, do assento do carona.
- E... e, e, e, e, e, e, e, e,
e, e, e, eu, num fiz n-nada!!! – respondeu Zé Bode já bastante irritado e cheio
de razão. Foi quando o motorista do carro (que deveria ser uma autoridade),
comprou a briga e indagou:
- Po... po, po, po, po, po, po,
po, por acaso, vo, vo, vo, vo, vo, vo, vo, vo, vo, você sabe com quem, e-está,
fa, fa, fa, fa, fa, fa, fa, fa, fa, fa, falando???
- E, e, e, e, e, e, e, e, e, é
claro que eu sei. É com um ga... ga, ga, ga, ga, ga, ga, ga, ga, ga, ga... gago
que nem eu. Refeitos do susto, ambos seguiram seus caminhos. O casal partiu com
destino a Camocim e Zé Bode, tradicional consumidor etílico da cachaça Ypioca e
saudosista que é, sem lenço e sem documento, continuou peregrinar de bar em bar,
ouvindo e curtindo as marchinhas dos carnavais de outrora, tipo o refrão: ♫ Você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não, cachaça vem do
alambique, e água vem do ribeirão...
Zé Bode e sua Kansas 150 cilindradas
Do livro: Histórias & Causos com Casos &
Estórias de Massape – autor: Ferreirinha.
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