Luiz Ferreira Neves nasceu em Massapê aos 17 de março de
1924. Desde 2005 adotou a aprazível e hospitaleira Meruoca – terra de monsenhor
Nel, como seu segundo torrão natal. Ama esta cidade como se realmente cidadão
dela fosse. Filho de humildes agricultores, desde tenra infância, trabalhou na
roça e dela dependeu das boas quadras invernosas, para o cultivo da agricultura
de subsistência. E por falar em água, a atual crise hídrica que assola o
sudeste e parte do nordeste do Brasil, me fez lembrar relatos da famigerada
seca nos acuados anos de 1915, conhecida por “Seca do 15”, há exatamente 100 anos,
ocasião que a nossa fauna e flora foram quase dizimadas e muitos cearenses
passaram fome. O terrível cataclismo serviu de inspiração para a escritora
cearense Rachel de Queiroz, publicar em 1930, um romance intitulado “O Quinze”.
Alguns conterrâneos mais afoitos, desesperados, fugiram daquela grande seca e
arriscaram a sorte na Amazônia, trabalhando no 2º ciclo da borracha – eram os
Paroaras. Até os dias atuais, ainda se ouve falar, da pessoa raquítica, de peso
abaixo do padrão comum, ser apelidada pela vã filosofia popular de “Seca do
15”. Bem mais recente, em 1958, nossa região enfrentou mais uma castigada seca,
e o nosso povo guerreiro, com muito sofrimento, sobreviveu mais uma vez, sem
ajuda de políticas públicas de inclusão social, exemplo, o Bolsa Família. Não
por menos, atualmente vivenciamos algumas regiões do Brasil, enfrentando
grandes estiagens. Em contraponto a tudo isso, lembrei-me de um fato um tanto
quanto curioso: ocorrido em janeiro de 2009. O otimista Luiz Luiz capinava seu
roçado no Pé da Serra, mais precisamente no sítio Olho D’água do Leandro – de
propriedade da família Neves, meio ao sol causticante e sem nuvens
derramadeiras, quando foi abordado por um agricultor descrente que disse: Luiz
Neves, nesta terra seca se plantar milho, nasce pipoca. E filosofando, tio Luiz
respondeu: - Eu estou esperando a Neta de 74. Sem noção de interpretar a
metáfora, o colega foi embora e não arriscou o plantio. Um mês após baixou um
toró d’água. A Neta de 74 a qual Luiz Neves se referia, é que em 1974 tivemos
um grande inverno (a avó); em 1983 outro bom inverno (a mãe) e em 2009 mais
outro excelente inverno (a neta). A tão sonhada Neta de 74. É que além de
agricultor e benzedeiro, Luiz Neves é considerado um profeta popular. Dia
desses sussurrei ao seu ouvido, indagando-o: - Tio Luiz, o senhor previu a Neta
de 74 com 100% de acerto. Já não é hora de recebermos a bisneta de 74? Sabe o
que ele me respondeu? – Meu sobrinho, por acaso você é cego??? Não vês que a
bisneta de 74 chegou já faz mais de mês? E, pelo o que vemos, contrariando as
previsões pessimistas da Funceme, ao menos na nossa região, a Bisneta de 74
veio para ficar, resgatando a alegria dos povos do campo e da cidade. E como em
todo bom inverno, na ordem natural das coisas, temos o relâmpago seguido do
trovão. Em sendo assim, que Deus continue lhe iluminando com o clarão dos
relâmpagos e com a energia dos trovões. Com vigor físico invejável e dieta
balanceada, sem uso do chá da catuaba, do melaço do amendoim, da gemada do ovo
de pata, da tal pílula azul, de energéticos e/ou congêneres, Luiz Neves (viúvo
pela 2ª vez), me fez um pedido, que eu não poderia deixar de torná-lo público.
Cá entre nós, mais parece anúncio de classificados – sessão relacionamentos:
“Procuro esposa entre 18 a 50 anos, interessadas em um relacionamento sério,
para casar de véu e grinalda, nesta igreja. As candidatas, falar com Luiz
Neves”. Além de pai dedicado e extremoso, vivendo exclusivamente para a
família, filhos, netos e bisnetos, a quem legou os mais nobres sentimentos de
honradez e amor ao trabalho, os amigos e o povo meruoquense, rendem-lhe
homenagens sincera e espontânea, por ocasião da celebração de missa alusiva aos
91 anos de Luiz Neves, nesta histórica e centenária igreja matriz de Nossa
Senhora da Conceição, domingo, 22 de março de 2015.
Ferreirinha é escritor, historiador e presidente da
Associação de Desenvolvimento Cultural de Massapê Expedito Galinha D’água –
nome fantasia Chitão dos Pobres de Massapê, fundado em julho de 1948, sob o
CNPJ n. 21.833.573/0001-85.
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