Em
meados do século XX Francisco Assis Joalheiro era conhecido no seio
da sociedade massapeense por Assis Joalheiro – O Governo Preto.
Nasceu em Massapê no final do século XIX, mais precisamente em
1.898, e faleceu dia 12 de outubro de 1964, aos 66 anos, acometido de
próstata. Seu corpo foi sepultado no cemitério São João Batista,
em Fortaleza. Era casado com Inácia Pinto Joalheiro, falecida em
1974 no estado do Rio de Janeiro, aos 86 anos. O casal teve uma prole
de oito filhos, dentre os quais, Maria Adília Joalheiro (87 anos),
mãe do Ferreirinha. O varão nas décadas 20, 30 e 40 foi próspero
comerciante, atuando no ramo calçadista, (fabricação própria),
com duas lojas estabelecidas no centro da nossa cidade e um depósito
para vendas, respectivamente no varejo e atacado (estados do Piauí,
Pernambuco e Alagoas). Além de comerciante, Assis Joalheiro foi
eleito o primeiro presidente do Clube Social e Artístico dos
Operários de Massapê, fundado em 25 de março de 1948, a partir de
um terreno doado pelo então deputado estadual Ozires Pontes
(*19.08.1918 +01.09.1985). Até 1965 as dependências daquele clube
sediou uma escola de ensino fundamental, cuja professora foi Maria
Gerarda Pinto (*02.10.1923 +03.02.2010), mãe do sapateiro Dedé
Pinto e irmã de Inácia Pinto Joalheiro (minha avó materna). O
clube dos Operários que vovô Assis tanto lutou para fundá-lo era
um contraponto ao Centro Social Massapeense, freqüentado por ricos e
brancos. Assis Joalheiro foi, ainda, membro integrante do conselho
deliberativo da Associação educativa denominada Educandário Nossa
Senhora do Carmo (escola de referência), fundada em agosto de 1928
(atual diretor, o educador Roberto Frota). Vovô Assis tinha como
“hobby”,
colecionar moedas antigas e raras (falsificadas?), bem como, nos
finais de semana bancar caipira com jogo de dados (lavagem do
dinheiro falso?), no centro da nossa cidade. Até então, cidadão
digno de ser apresentado como modelo, e homem de refutada e ilibada
conduta social, sem que nada o desabone pelos seus atos, Assis
Joalheiro foi acusado de falsificar dinheiro (moedas cunhadas),
conforme denúncia anônima, com instauração de inquérito
policial, ao final, arquivado por falta de provas testemunhal e
material. Mas isto é outra história, digna de um curta metragem de
fundo de quintal com roteiro (pronto), direção e produção de
minha autoria, ou quiçá, uma minissérie da Globo, pois a história
é intrigante e instigante. Realidade ou lenda, pois os fatos
históricos são deformados pela imaginação popular, não a toa que
o clã dos Joalheiros (os descendentes da 3ª geração), foi
justificadamente apelidado pela vã filosofia, com a expressão
popular de “O Neto do Governo Preto”. “Neto”, notadamente
pela linha sucessória terceira; “Governo” pelo fato do meu avô
Assis, literalmente, ter a posse da Casa da Moeda e, “Preto”,
tendo em vista, a cor da sua pele, demasiadamente escura. Em tenra
infância, interpelado dessa pejorativa forma, Ferreirinha brigava
com unhas e dentes, em defesa da própria honra e da família também.
As más línguas dizem à boca miúda, que a geringonça engolia e
derretia moedas sem valor monetário e, concomitantemente, as
devolvia, novinhas em folha com valores nominais atualizados,
primando por uma riqueza de detalhes. Era algo simplesmente
impressionante e espetacular, inclusive, sem margem de erro, de o
perito juramentado distinguir qual falsa, qual original. Dizem,
ainda, que meu avô Assis Joalheiro tinha um amigo (comparsa?) de
alcunha Paraibano; e que as moedas eram fabricadas (cunhadas) dentro
de um quarto reservado na sua própria residência. Uma vez em
funcionamento, a máquina fazedora de dinheiro emitia um barulho que
despertava qualquer Tio Patinhas da vida, imaginem a inocência de
uma criança. Em pesquisa de campo, relatos dão conta que uma das
suas filhas – uma criança de oito anos de idade, muito curiosa,
aproveitando o descuido paterno, adentrou à sala, pegou uma moedinha
e em seguida foi correndo até a bodega mais próxima comprar
guloseimas: pirulito, coxão de moça e quebra queixo (é o novo?!).
O incauto comerciante, alcunhado por Tio Toim Pinto (cunhado do
Professor Pardal de Massapê), ao atender sua sobrinha, indagou: “-
Mas que moeda novinha?!”
Criança, que via de regra, não costuma se omitir, a resposta foi
curta e grossa: “- Foi o
papai que acabou de fazer”.
De tal modo que, dessa forma, os boatos correram por toda a cidade de
Massapê, chegando aos ouvidos das autoridades policiais e judiciais
de Fortaleza, que enviaram uma equipe da Guarda Nacional (atualmente
equivalente à Polícia Federal), para investigação dos fatos na
nossa então pacata Massapê. De sobremaneira que, nos dias atuais,
tenho o orgulho de ser descendente do meu avô materno Assis
Joalheiro, neto de português. É que o avô do meu avô (meu
trisavô) foi um, dentre os cerca de 10 mil convidados do rei de
Portugal Dom João, que fugiu em 1808 para a sua maior colônia
(Brasil), com medo da iminente invasão do poderoso e destemido
exército francês de Napoleão Bonaparte, saindo às pressas,
auxiliado pela aliada Inglaterra. Os livros de História do Brasil
contam que foram empregadas 8 naus, 5 fragatas e 30 navios mercantes
para transportar em alto mar, durante 3 meses, integrantes e fidalgos
da coroa portuguesa, notadamente a elite e a burguesia dominantes,
para povoar e colonizar o Brasil, tais como, escritores, poetas,
colecionadores, engenheiros, mestres de obra, padres, freiras e
jesuítas, desbravadores, bandeirantes, parteiras, comerciantes e
ourives (um deles, o meu trisavô, que fabricava e vendia jóias, daí
o nome “Joalheiro”, que foi incorporado ao seu próprio
sobrenome), com suas riquezas e documentos, pratarias e porcelanas
portuguesas, mobílias, bibliotecas, coleções de artes, jóias e
tudo mais que puderam transportar. Entretanto, referidos livros
didáticos não mencionam que a banda pobre sob o jugo português foi
anistiada pela realeza, e “convidada” a sair das prisões pelos
crimes cometidos, para alcançar a tão almejada e sonhada liberdade
aqui nos trópicos. Deu no que deu: fomos colonizados por bandidos e
larápios que surrupiaram e continuam surrupiando o erário público.
A conclusão para origem do nome “Joalheiro”, lógica e por
dedução, histórica e centenária, tem sentido para nós,
historiadores, por quatro motivos. Primeiro, porque Dom João após
aportar no Brasil em 1808, convidou seu patrício Amaro José Arruda
para colonizar a região noroeste da província do Ceará, se
estabelecendo, por meio de uma mapa, na margem esquerda do rio Raiz
do Canto (Oiticará-Massapê) e com ele, decerto, veio meu trisavô
de nome Joalheiro; segundo, porque nomes desta natureza (Joalheiro)
são ímpares em um país que foi colonizado pelos portugueses e que
aqui só tinha caboclos, sertanejos, índios e escravos que formaram
uma raça miscigenada, onde eram comuns nomes lógicos e similares,
sem quaisquer familiaridades consangüíneas, tais como, Maria das
Dores, José dos Santos, José Maria, etc. e etc; terceiro, porque
consultando a Circular 559 do Banco Central, com milhões de nomes
execrados, “Joalheiro” jamais constou nas suas páginas. E,
quarto, porque no Brasil, somos os únicos remanescentes com o nome
Joalheiro (minha querida mãezinha Adília Joalheiro e suas quatro
irmãs radicadas no Rio de Janeiro). Oportunamente acrescentarei ao
meu sobrenome, o nome Joalheiro, por motivo de profundo orgulho e
preservação da estirpe. Esta é uma justa homenagem in
memoriam, que “O Neto do
Governo Preto” Ferreirinha, dedica ao seu avô Assis Joalheiro, em
alusão às Bodas de Diamante, referente aos exatos 60 anos do seu
precoce falecimento. Massapê – domingo, 12 de outubro de 2014.
Foto
histórica da fachada original do Clube Social e Artístico dos
Operários de Massapê, com os alunos perfilados da escola primária
- Profª Maria Gerarda Pinto (a penúltima do lado direito). O
garotinho Ferreirinha, aos cinco anos de idade, é o 8º (da esquerda
para a direita).
Ferreirinha
é historiador e escritor, ex-coordenador cultural, ex-assessor
técnico e atualmente, não sei mais o quê, da Prefeitura Municipal
de Massapê - Do livro: Histórias & Causos com Casos & Estórias de Massapê
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