De domínio público, a
estória de um rei que reinava mas não governava sua terra natal – uma pequena província
imperial bem distante. Via de regra, vossa majestade mantinha o poder dominante
do seu povo, que desde sempre pagava seus impostos em dia. Por décadas, o rei que
reinava mas não governava, sempre indicava, alternando seus príncipes na linha
sucessória, para governarem por longo tempo, evidentemente com o apoio de outro
poderoso rei – O Rei dos Reis, que vivia no seu pomposo palácio bem distante
dali, mas que mantinha à cabresto, o controle monárquico de todos os reis daquela
região, e que em triste sina, baldes chorou, pois que, infelizmente, um certo
dia ele foi deposto. Mais que deposto, foi banido da vida pública. Mas como diz
um velho adágio popular: Quem é rei nunca perde a majestade. Convocada nova
eleição naquele pequeno reinado, o poder situacionista uniu forças para, desta
feita, até que enfim, manter no poder o seu tão respeitado e admirado rei, que
até então reinava mas não governava. A quatro paredes foi marcada uma reunião
com a cúpula dos Conselheiros da Nobreza Real no Palácio Provinciano, para a
indicação natural, aguardada ansiosamente pela classe plebéia, daquele que
seria o próximo sucessor, o próprio rei. Foi quando o rei que teimava em reinar
mas não queria governar, disse em alto e bom tom de voz, a histórica e suicida frase:
- “Diga ao povo que não!” Às pressas,
lançaram para compor aquela rejeitada chapa, em tempo hábil, dois humildes plebeus
que surgiram repentinamente “do povo, para o povo”. Quão ingênuos seriam eles
àquela altura, para dizer a verdade, dois bodes expiatórios, que, na utopia de
Alice no Pais das Maravilhas, mergulharam fundo naquela disputada campanha, de
corpo e alma, crentes que sufragariam vitoriosos, com os parcos recursos conquistados,
quiçá, também retirados do próprio bolso. Não imaginavam os jovens e bem
intencionados aspirantes, que aquele Rei dos Reis que há algum tempo foi deposto,
perdeu o trono para outro Rei dos Reis bem mais audacioso e ambicioso, que
pessoalmente indicou um elegante príncipe e uma bela princesa escolhidos a
dedo, para, juntos, concorrerem e conquistarem definitivamente, o tão almejado trono
de ouro. Em questão de tempo, se tornarão rei e rainha. Acontece que, aquele
rei situacionista, que reinava mas não governava, conhecia o poder de fogo do
forte inimigo e sabia muito bem desse divisor de águas a seu desfavor, daí, não
ter tido a coragem suficiente para enfrentá-lo no campo de batalha, frente a
frente, se acovardando e saindo pela tangente, de forma sábia e triunfal, pois,
dada a sua larga e comprovada
experiência, antevia com os seus botões, uma amarga e histórica derrota,
nunca vista naquele reinado. E deu no que deu. O povo escolheu para reinar
aquele longínquo reino onde o Judas perdeu as botas, situado na cápsula do tempo
como “A Idade da Pedra”, dois jovens Mensageiros do Apocalipse, inspirados com “a
força do novo tempo”. Quanto àquele reizinho, que não é rei morto, muito menos
rei deposto; que certa feita no afã e
clamor do seu discurso em praça pública, perdeu as estribeiras, ou melhor, o
decoro monárquico; que sempre reinou mas nunca governou e não haverá mais de
reinar, muito menos governar; que fugiu, saindo de cena para não cavar sua
própria sepultura, e que fez homens probos e de bem se equipararem a ratos de porão,
me fez lembrar, nos dias atuais, de conhecida frase comumente dita no jargão
policial, quando a indefesa vítima é levada ao sacrifício pelo seu algoz, despistadamente
para “O Cheiro do Queijo”. Do livro: Estórias &
Casos com Causos & Histórias de Massapê – autor: Ferreirinha.
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