Prezado amigo Aldenis Fernandes, por
E-mail lhe enviei matéria intitulada “DA IDADE DA PEDRA PARA A FORÇA DO NOVO
TEMPO”, postada gentilmente no seu blog dia 12 de outubro de 2012, sexta-feira.
Entretanto, acidentalmente você postou erroneamente o título, da seguinte
forma: “DA PEDRA PARA A FORÇA DO NOVO TEMPO”, omitindo o início da frase, qual
seja, “DA IDADE”, de tal modo que, desconfigura o nexo do título com o contexto
da matéria. Por favor, republique-a na íntegra, nos moldes desse E-mail. Muito
obrigado. Ferreirinha.
DA “IDADE DA PEDRA” PARA “A FORÇA DO NOVO
TEMPO”
Parabéns aos mais jovens eleitos
prefeito e vice-prefeita de Massapê, os primos carnais Antonio José Albuquerque
e Kelvya Albuquerque, que conquistaram triunfalmente as eleições municipais de
2012, com expressiva e histórica vantagem de 1078 votos. O povo massapeense,
desta feita, um “Rei com Memória”, sabiamente escolheu, para administrar sua
cidade no quadriênio 2013/2016, dois jovens que se despontam na vida pública.
Se para eles o primeiro e pequeno passo no universo político, para nós, um
grande salto com relação ao progresso e bem-estar da atual e das futuras
gerações. Tudo, no ciclo da vida, tem o seu tempo, isto é uma concepção
naturalista. Após dezesseis anos no poder, a coligação “Do Povo para o Povo” se
despede, diga-se de passagem, de cabeça erguida, quiçá, com a consciência do
dever cumprido. Mas muito tem que ser feito, ainda. E essa é a bola da vez. Sob
todos os aspectos sociais, esperamos avanços na saúde, educação, segurança, habitação,
geração de renda e emprego, etc., não se esquecendo da nossa cultura, que
sempre foi renegada ao longo do tempo. A seguir, faço algumas considerações e
referências com conhecimento de causa, sobre a referida pasta. Uma secretaria
da Cultura, que serve apenas e tão somente de cabide de emprego; que tem no seu
quadro de pessoal, mais de dez funcionários e que apenas uns três bodes
expiatórios batem cartão de ponto, é inconcebível. E os que marcam presença,
ficam o dia inteiro, coçando o “sapo”. Os demais só aparecem no final do mês (lá
no banco), para receberem seus proventos, pois que, têm outras atividades
profissionais, portanto, sem tempo para conciliar dois e até três empregos,
gerando, de tal forma, a famigerada concentração de renda. Enquanto os cargos
de confiança neste país (nas três esferas) forem concedidos levando em
consideração critério meramente político e não técnico, continuaremos sendo o
país do futuro, só do futuro. A partir de 2013, espera-se a formação de uma
equipe de colaboradores comprometida com o resgate da nossa rica cultura, que
não se restringe apenas às festas juninas, carnaval, reisado e malhação do
Judas. Depoimentos e entrevistas feitas em campo, com cidadãos de idade
avançada e figuras folclóricas com o dom e a arte de contação de histórias, são
necessárias, para trazer à tona, algo mais sobre os fatos e acontecimentos que
chamaram a atenção dos massapeenses, e que ficaram registrados de forma verbal,
na nossa história. Só para ilustrar: O Governo Preto, A Saga de Milton &
Cléa, Cruz da Joana, Gruta da Nega, Aguiar X Cunha – O Confronto Fatal, Índios
Tapuios & Olho D’água da Racha, Os Teixeira - Remanescentes de Quilombolas,
etc., merecem a atenção do poder público, para o resgate e preservação da nossa
cultura, através de apoio logístico com registros escritos e documentários em
áudio e vídeo. A memória do nosso histórico e centenário município, está
intrinsecamente correlacionada com a história do Brasil (pouquíssimas pessoas
sabem disso). Em um dos meus seis livros escritos e não publicados – “Histórias
que me contaram de Massapê”, eu descrevo, justificando com prova documental e
material, que o 1º prefeito (e não o 1º intendente) de Massapê – Coronel João
Arruda (1915 a 1918), é bisneto do português Amaro Dias Arruda – “O Patriarca
dos Arruda no Ceará”. Em qualquer livro de História do Brasil, lemos:
“Em 1807 Napoleão Bonaparte decretou o
chamado Bloqueio Continental, que visava enfrentar e enfraquecer a Inglaterra.
Nessa ocasião, Portugal era governado pelo regente dom João, que governava no
lugar de sua mãe, dona Maria I, reconhecida como louca e, portanto impedida de
governar. Coube a ele a decisão de manter o comércio com a Inglaterra e
desobedecer ao Bloqueio Continental, dessa forma desafiando os anseios de
Napoleão, pois, tal atitude significava a invasão de Portugal pelos franceses.
Para o príncipe regente dom João existiam apenas duas possibilidades: A de
permanecer em Portugal e ser dominado por Napoleão Bonaparte, ou refugiar para
o Brasil, sua maior colônia. A ameaça de invasão determinou a escolha pela fuga
de dom João e toda família Real e da sua Corte para o Brasil, antes da chegada
do poderoso exército francês. Saído às pressas de Portugal, auxiliado pela
Inglaterra, dom João veio para o Brasil acompanhado de mais de 10.000 ( * )
pessoas, entre elas: ministros, conselheiros, oficiais do Exército e da
Marinha, comerciantes, membros da nobreza, entre outros. Foram usadas 8 naus, 5
fragatas e 30 navios mercantes para transportar toda essa gente, com suas
riquezas, documentos, bibliotecas, coleções de arte e tudo mais que puderam
embarcar. Em 22 de janeiro de 1808, após dois meses de viajem, chegaram
primeiramente em Salvador e, em seguida, dirigiram-se para o Rio de Janeiro. E,
no dia 7 de março de 1808, a pequena cidade Carioca foi transtornada pela
invasão repentina de milhares de visitantes ricos e ilustres, que eram membros
da Corte Real portuguesa e que fugiram do avanço das tropas de Napoleão na
Europa”.
( * ) O
português Amaro José Arruda – “O Patriarca dos Arruda no Ceará”, dentre àquelas
10.000 pessoas, foi um dos convidados especiais do rei Dom João VI para
colonizar o Brasil, em 1808 se instalando a noroeste da então província do Ceará, notadamente na margem
direita do rio Raiz do Canto (desde 1907, margem direita do açude Acaraú-Mirim),
na localidade denominada Oiticará, Massapê. Recebeu da Coroa Portuguesa títulos
e mais títulos de terra, tornando-se senhor feudal, dono de vários escravos.
Casas foram construídas num raio de aproximadamente 500 metros do monumento dos
Arrudas, conforme nos deparamos com alguns alicerces. Uma das fontes de renda
dos Arruda consistia no curtimento de couro, conforme catalogamos seis tanques
de pedra, localizados próximos às suas residências.
Prova in contesti da influência portuguesa em
Massapê, é a arquitetura em estilo colonial apresentada nas fachadas dos nossos
casarões e solares, históricos e centenários. O prédio que abriga o Educandário
Nossa Senhora do Carmo, dentre tantos outros, ao meu ver, é a “Jóia Rara” da
arquitetura colonial massapeense, pela riqueza dos detalhes arquitetônicos.
Vestígios
da mão-de-obra escrava, atualmente em ruínas, é a cerca de pedra para demarcar
divisas, localizada ao lado do Monumento Histórico, Cultural e Religioso dos
Arruda no Oiticará, conforme foto abaixo.
Até nas
lápides centenárias que se encontram em estado de abandono no cemitério São
José, conhecido por Cemitério Velho, nos deparamos com a marca registrada da
arquitetura européia. Jazigos em estilos clássico, colonial, gótico e arábico,
nos faz lembrar uma herança do Velho Continente. Os cemitérios dos países
desenvolvidos, com seus sepulcros suntuosos e a obra prima dos seus mausoléus,
são atrações à parte e estão incluídos
no roteiro turístico dos visitantes que vão até ao Leste Europeu. Quanto aos
nossos, bem que poderiam se tornar um patrimônio público e histórico do nosso
município, não fosse o total desconhecimento cultural, que, por conseqüência,
recai no precário estado de abandono. Uma vez abandonados pelas famílias, esses
túmulos, podem, por lei, serem confiscados pela prefeitura. Se faz necessário
aos nossos sepulcros abandonados, uma restauração, seguida de pintura, para
exposição à visitação pública, não só no Dia de Finados, mas o ano inteiro.
Seria, também, uma atração à parte.
Nos primórdios da nossa cidade, as residências eram
eqüidistantes uma da outra, formando-se pequenos povoados. Em 31 de dezembro de
1881 com a inauguração da estrada de ferro interligando Sobral, via Massapê até
Camocim, os engenheiros, sabiamente fizeram o traçado da via férrea em linha
reta, passando por onde hoje é o bairro Nossa Senhora de Fátima, com a
construção da estação ferroviária ao lado da avenida senador Ozires Pontes,
dando seqüência em linha reta sentido Senador Sá, pelo bairro Rodagem. Trajeto
esse muito bem arquitetado pelos engenheiros, por questão de contenção de
despesas, com economia de matéria prima, tempo, mão-de-obra e recursos
financeiros, pois, não teria lógica alterar o traçado para passar pelo Oiticará
(em forma de V), tornando o trecho da obra inviável financeiramente. Ocorreu
que os moradores da região do Oiticará, notadamente os Arruda, migraram e se
estabeleceram nas imediações da estação ferroviária, para usufruírem do
progresso, dando início à concentração de um pequeno povoado. Não fosse isto, a
localização da sede do município de Massapê, seria no Oiticará. A elevação do
povoado à categoria de vila provém da lei nº 398, de 25 de setembro de 1897,
com o nome de Vila da Serra Verde, tendo sido instalada a 5 de fevereiro de
1898, com a elevação à categoria de município, ou seja, se emancipando
politicamente, tendo como 1º intendente o cidadão João Adeodato Ferreira (1898
a 1899). “Intendente” foi uma designação que até o final do século XX se deu
aos chefes do poder executivo municipal, hoje prefeitos.
Não é a toa
que o primeiro prefeito de Massapê (nomeado), foi o coronel João Arruda,
administrando nossa cidade no período compreendido de 1915 a 1918. João Arruda
nasceu em Massapê, dia 04 de julho de 1877 e faleceu em Fortaleza-CE, dia 29 de
março de 1949, aos 71 anos de idade.
Placa em
auto relevo no busto do coronel João Arruda: “A cidade de Massapê – ao seu
primeiro prefeito iniciador do progresso do município”.
Filho do
capitão Miguel Arruda, neto de João José Arruda e bisneto do português Amaro
José Arruda (o patriarca dos Arrudas no Ceará), o prefeito coronel João Arruda,
recebeu merecida homenagem póstuma na administração do prefeito Antony Frota
Aguiar (nomeado em 1945 e eleito de 1951 a 1955), com seu busto, erguido na
praça que leva o seu nome, até meados da década setenta mais conhecida por
Praça da Estação, onde atualmente abriga o Parque das Crianças.
A árvore
genealógica dos Arrudas, consta em auto relevo no monumento dos Arrudas, no
Oiticará, restaurado em 25 de setembro de 2005, com missa campal celebrada por
dom Antonio Fernando Saburido (5º bispo da diocese de Sobral) e padre Zenóbio
Gomes da Silveira. Na alusiva comemoração, estiveram presentes as autoridades
municipais, bem como, expressiva concentração de fiéis católicos massapeenses e
de outras plagas.
“Oiticará: o alicerce de Massapê e o berço
dos Arrudas no Ceará” -
(Ferreirinha).
Cultura, é também resgatar um passado ainda
que longínquo, que remonta séculos, quiçá, milênios, conforme a existência de
três sítios arqueológicos encontrados em Massapê: A Pedra do Sino e a Pedra da
Viola, localizadas no Tucuns dos Arrudas; a Pedra do Pavão na localidade Terra
Nova e o Paredão do Córrego da Onça, com inscrições e gravuras rupestres feitas
pelos índios Tapuios.
Enfim, como já dizia a letra de uma música
da campanha vitoriosa, “é tempo de ter coragem e tomar decisão!” O cidadão
massapeense, aguarda, ansioso, a instalação de um governo municipal, pautado pela
força do trabalho e não pela retórica. Um povo se identifica pela sua cultura,
daí a feliz combinação do título da matéria: Da Idade da Pedra para A Força do
Novo Tempo.
Raimundo
Ferreira Sousa (Ferreirinha) – formado bacharel em Direito pela FMU/SP, é
artista plástico, escritor e historiador.