QUINTA, 20 de AGOSTO 2020: Aqui estão as principais notícias para você começar o dia bem-informado



14 de janeiro de 2010

MULHER SE PRODUZ PRA QUEM? PRA HOMEM?

Cena comum a todos os homens: a espera pela mulher que se arruma. E a gente sempre tem o consolo de que aquela ‘outra’ mulher que vai irromper na sala se embelezou se fez outra, diferente da mulher de todo dia, pra sair conosco. Em outras palavras, se produziu para nós. E você já reparou como a diferença é grande? Não é só no perfume sensual, no brinco escolhido a dedo, no cabelo exuberante, no calçado, na roupa sofrida, escolhida, vestida e por fim curtida com deleite e prazer. Não, a mulher que recebemos com olhar entre encantado, orgulhoso e ciumento é outra por dentro também.

Nós homens nunca vamos saber o que sente uma mulher produzida, que se acha bonita e gostosa, pronta pra sair pro mundo e enfeitiçá-lo. Mas não se engane: ela não se arruma pra você. Antes, no tempo da obediência, da subserviência, da dependência do homem, até podia ser. Afinal, ele tinha que gostar aprovar. Ele era o dono dela. Até no nome, que ela passava a assinar com o sobrenome dele, pra marcar a propriedade. Mesmo assim ouso arriscar que ela não se fazia mais bela só pra ele. Hoje, então, nem se fala. Verdade um, nesse século 21: mais do que nunca a mulher se produz pra ela mesma. Verdade dois: Não pensa um segundo em você. Ou só pensa um.

Lipovetsky diz no livro A terceira mulher que a mulher do século 21 está muito mais na dela do que na dos homens, quer dizer, busca nas roupas e acessórios muito mais uma coisa, um sentimento, “para-a-moda do que um para-o-desejo- masculino”. Hoje, a mulher busca a beleza mais para satisfazer a si mesma. Primeiro, bonita e gostosa para ela mesma. Depois, para as outras mulheres, eternas e odiosas concorrentes; e bem depois, por último, para os pobres homens, que querem ficar ricos só por causa delas.

Essa mudança toda se deu na consequência lógica de uma sociedade de consumo cada vez mais centrada no lazer, no prazer, na individualidade. A nova cultura “desvalorizou um modelo de vida feminina mais voltada para a família do que para si mesma, legitimou os desejos de viver mais para si e por si”. A mulher vai para o trabalho, conquista sua individualidade, constrói seu prazer. E aqui não estou julgando se isso é bom ou ruim, ou o que isso tem de bom e de ruim.

Então, meu parceiro de gênero, gozo e sofrimento, prepare-se a cada dia para essa “terceira mulher” que já chegou. E aceite que não é pra você que ela se produz. Elas são de outro planeta. Vinicius de Moraes já tinha sacado isso em Testamento.
FONTE: Coluna/Olho Na Rua De O Povo
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário