10/02 - Atividades
físicas, sociais e de lazer praticadas por idosos e pacientes com doença de
Alzheimer podem ajudar a preservar funções cognitivas e a retardar a perda da
memória, mostra novo estudo desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP) e
na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Os
estímulos promovem mudanças morfológicas e funcionais no cérebro, que protegem
o órgão de lesões que causam as perdas cognitivas.
A
descoberta foi feita por meio de um experimento com camudongos transgênicos, os
quais foram alterados geneticamente para ter uma super expressão das placas
senis no cérebro. Essas placas são uma das características da doença de
Alzheimer. Os animais foram separados em três grupos: os transgênicos que
receberiam estímulos, os transgênicos que não receberiam e os animais-controle
que não têm a doença.
“Quando
eles estavam um pouquinho mais velhos, por volta de 8 a 10 meses, colocamos
parte desses animais em um ambiente enriquecido, que é uma caixa com vários
brinquedos, e fomos trocando os brinquedos a cada dois dias”, explicou Tânia
Viel, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP e
coordenadora do projeto.
O
experimento durou quatro meses e, após esse período, eles foram submetidos à
avaliação de atividade motora, por meio de sensores, e de memória espacial, com
um teste chamado labirinto de Barnes. Os resultados mostram que os camudongos
transgênicos que foram estimulados com os brinquedos tiveram uma redução de
24,5% no tempo para cumprir o teste do labirinto, na comparação com os animais
que não estiveram no ambiente enriquecido.
Também
foram analisados os cérebros dos camundongos. Ao verificar as amostras do
tecido cerebral, os pesquisadores constataram que os animais transgênicos que
passaram pelos estímulos apresentaram uma redução de 69,2% na densidade total
de placas senis, em comparação com os que não foram estimulados.
Além
da diminuição das placas senis, eles tiveram aumento de uma proteína que ajuda
a limpar essa placa. Trata-se do receptor SR-B1, que se expressa na célula
micróglia. O receptor faz com que essa célula se ligue às placas e ajude a
removê-las. “Os animais-controle, sem a doença, tinham essa proteína que ajuda
a limpar a placa, inclusive todo mundo produz essa proteína. Os animais com
Alzheimer tiveram uma redução bem grande dessa proteína e os animais do
ambiente enriquecido [que tiveram estímulos] estavam parecidos com os
animais-controle”, explicou Viel.
A
pesquisadora diz que o trabalho comprova hipóteses anteriores e que agora o
grupo trabalha para ampliar a verificação em cães e seres humanos. Para isso,
será necessário, inicialmente, descobrir marcadores no sangue que apontem a
relação com a doença de Alzheimer.
“Em
ratos, a gente analisa o cérebro e o sangue para ver se esses biomarcadores
estão tanto no cérebro quanto no sangue. Quando a pessoa perde a memória, há
algumas proteínas que aumentam no cérebro e outras que diminuem. Nos cães e nos
seres humanos, a gente está vendo só no sangue”, justificou.
Com a descoberta desses marcadores no sangue, será possível fazer experimentos similares ao do camundongo, com testes motores e de memória, para confirmar ou descartar as alterações em cães e seres humanos após os estímulos.
Para
Tânia Viel, como não se sabe qual ser humano desenvolverá a doença, quanto mais
aumentar a estimulação na vida dele, melhor vai ser para a proteção do cérebro.
“É mudar a própria rotina.
Muita gente fala que não teve tempo para fazer outras coisas, mas se a pessoa tiver condições e puder passear no quarteirão, já começa por aí, fazer uma atividade física e uma atividade lúdica, passear com cachorro, com filho, curso de idiomas, de dança. Isso ajuda a preservar o cérebro”, sugere.
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