28/01 - Pode
ser que, lendo um pouco mais, ache-se algo de análise política nos
jornais que vá além do primário exercício aritmético de especulações sobre o
destino dos votos de Lula.
Delírios
que não são só dos analistas, mas alguns candidatos, os com menos decoro,
como Marina Silva que, em O Globo, sugere ao PT, PSDB, PMDB e ao DEM
o que ela própria faz, que decretem “quatro anos sabáticos” para reler
seus programas e, talvez, fazerem uma “elevação espiritual”. Típico de Marina,
sem nenhum outro compromisso que não com a sua própria ambição e que não hesita
em fugir da luta política e apostando em uma possível megassena eleitoral, com
seus números vencendo porque os outros foram retirados do “sorteio”.
O
Globo estima que 53 milhões de votos só nas cidades do interior o butim que se
abre com a exclusão de Lula e os analistas de pesquisa ouvidos pelo jornal
deveriam, sobre eles, recordar a frase atribuída a D. Maria Maluf, quando os
futuros herdeiros brigavam pelo controle do grupo Eucatex, pertencente à
família: “não se depena a galinha ainda viva”.
Agora,
pior ainda, porque agora se trata, em autodefinição, de uma jararaca e só mesmo
os muito tolos descuidam dela mesmo depois de um golpe aparentemente fatal.
Não
é visível, neste momento, que alguém, exceto Jair Bolsonaro, tenha saído
vitorioso deste episódio. O autoritarismo que representa, ao menos
institucionalmente, venceu e, sendo a truculência dos “homens da lei” aceita
como ordem adequada à sociedade, por que não elevar um deles ao
ex-primeiro-cargo da República (embora isso esteja fora de moda, depois da
atribuição de poderes totais a qualquer juiz de 1ª instância?).
Claro
que todos terão algum incremento em seus números de pesquisa: afinal, haveria
de tudo em quase 40% dos votos que detém o ex-presidente. Marina, porém, deixou
sequelas com sua postura desde 2010, agravada em 2014 pelos afagos a Aécio
Neves. Já Ciro, com uma correção de rota ao final, tem cicatrizes mais
recentes, embora curáveis, com o lulismo. De
Alckmin, Meirelles e Maia, nem é preciso falar.
É
por isso que a “solução Huck” voltou à liça eleitoral. Contra o “outsider”,
porém, pesam sua amizade baladeira com o mesmo Aécio, o escancarado oportunismo
e a marca da Globo tatuada à testa.
Falta,
porém, a estes cálculos, o ronco surdo no sentimento do povão, que é difícil
precisar, o artificialismo da situação política a que fomos levados e que, se
não normalizado – ainda que não por espírito democrático, por medo de onde pode
nos levar – deixa tudo com a solidez de um castelo de cartas e,
finalmente, se não voltar a lucidez, o efeito imprevisível do “ele
disse”.
Lembra a história que, num tempo com muito menos poder de comunicação, um “ele merece os nossos sufrágios” de Getúlio Vargas, a poucos dias da eleição, levou uma reconhecida inaptidão à vitória em 1945.
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