|
|
Do grande pensador, dramaturgo e poeta alemão, Bertoit
Brecht (*10/02/1898 +14/08/1956), a seguinte reflexão: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem
participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o
preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio,
depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se
orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de
todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das
empresas nacionais e multinacionais”. Nas eleições municipais do ano 2000,
Raimundo Alves do Nascimento – O Peruzinho, conhecido comerciante de Massapê no
ramo gastronômico (Comes & Bebes), levou corda dos amigos e resolveu se
candidatar a uma das nove vagas do Poder Legislativo. Cadastrado na Justiça
Eleitoral sob o número 23.555, tinha como dilema “Tratando Gente, como Gente”. O número 23 é da sua legenda e 555 é gato no Jogo do Bicho, conquanto peru
seria de 77 a 80. Dizem que é por isso que ele não foi eleito. Ferreirinha, seu
contemporâneo e amigo de infância, radicado em São Paulo desde 1981, e que por
aqui gozava férias, foi nomeado informalmente, assessor do jovem e inexperiente
político, que havia reservado para sua campanha um fundo financeiro de valor
ínfimo para os gastos de um candidato que se declarava antecipadamente eleito,
face sua grande popularidade junto ao eleitorado. Durante a campanha política,
todos os dias, Peruzinho enchia um bolso da sua bermuda com Santinhos e no
outro bolso, generosa quantidade de dinheiro em notas de R$ 2,00 e saía
caminhando pelas ruas da cidade, cumprimentando todos à sua volta. Cerca de uma
hora após, os santinhos se esgotavam e o dinheiro... Bem, quanto ao dinheiro,
se evaporava, não se sabe como. Pois bem. Tijolo Cru – uma espécie de Tarzan em
miniatura, trabalhador da construção civil, exercia o ofício de servente e em
causa própria o de pedreiro. Desempregado, havia alguns meses, precisava
construir a calçada da sua humilde residência. Procurou Peruzinho e solicitou
deste, três sacos de cimento para execução da obra, com a promessa de que o
recompensaria, com o seu voto e o da sua esposa. O acordo foi imediatamente
fechado. No momento da abordagem, Peruzinho estava acompanhado de outro
assessor, que para se conscientizar da veracidade das afirmações, solicitou dos
dois eleitores, seus títulos eleitorais e anotou em uma pasta reservada, o
número da secção de votação. Não deu outra. Um dia após as eleições, feita a
apuração dos votos, coincidentemente naquela secção, Peruzinho não havia
sufragado nenhum voto, significando dizer, que Tijolo Cru e sua esposa descumpriram
o acordo. Chateado com a derrota, conquistando menos de uma centena de votos,
uma semana após, o outrora candidato a vereador foi até a residência do Tijolo
Cru tomar satisfações. A seguir, transcrição do diálogo, vazado nos seguintes
termos:
- Oi de casa?
- Oi de fora! – respondeu Tijolo Cru –
meu vereador Peruzinho! Me diga que você foi eleito, diga? Eu lhe dei dois
votos, o meu e o da minha esposa!
Peruzinho fez careta, meneou a cabeça
de forma negativa, coçando-a, e foi direto ao assunto:
- Tijolo Cru, toma vergonha nessa tua
cara. Nem tu e nem a tua esposa votaram em mim. Olha aqui! Na secção que vocês
votaram eu não tirei nenhum voto!...
Tijolo Cru, meio desajeitado, tentou se
justificar:
- Mulher, me traz uma picareta e
suspende o café. Me desculpe, meu amigo Peruzinho. Eu não posso fazer mais
nada. Tome esta picareta e leve seus 3 sacos de cimento, mas por favor, deixe a
areia, porque é de outro candidato.
Peruzinho deu meia volta, e desabafou
com o seu assessor:
- O negócio é tratar “Gente como
Indigente”.
E para consolá-lo, o seu assessor
alfinetou:
- Voto não tem preço. Voto tem
conseqüências. É Peruzinho 2000: 1000 meu com 1000 teu.
Ele, mais uma vez meneou negativamente
a cabeça e o dedo polegar, esboçando um sorriso amarelo, com a cara de poucos
amigos. Bertoit Brecht agradece o aprendizado do aluno eleitor, que
não se deixou enganar pelos políticos, pelo contrário, os enganou. Quanto ao nosso amigo Tijolo Cru, após as
eleições, boatos correram por toda cidade, dando conta de que o esperto
eleitor, enganou para mais de dez candidatos a vereador, que arriscaram comprar
o seu voto. Não à toa, conseguiu construiu sua casa em curto período de tempo,
nas eleições municipais do ano 2000. Do livro: Estórias & Casos com Causos &
Histórias de Massapê – autor: Ferreirinha