Considerado um dos
prefeitos mais populares de Massapê, João Alberto Siqueira Campos (*08.10.1931
+20.10.1986) – conhecido por Beto Lira, exerceu dois mandatos: 1964/1967 e 1977/1982.
Sua popularidade extrapolava limites. Com todo o respeito, ele fazia da Praça
da Matriz, a prefeitura; do banco da praça, o gabinete e do seu colo, o birô. O
político, no período matutino, despachava diretamente do banquinho da praça
Coronel João Pontes, à sombra de uma frondosa castanholeira, defronte ao
mercado público. Ali, era o seu gabinete improvisado, em contato direto com o
povo, dispensando o conforto da sala com ar condicionado do Paço Municipal. Extrovertido
e brincalhão, eram qualidades e virtudes inerentes à sua pessoa. Na vigência do
seu segundo mandato, Beto Lira construiu um enorme viveiro (5m X 10m), em um
dos canteiros da referida praça, com capacidade para abrigar dezenas de
pássaros silvestres que compõe o cenário da nossa rica fauna do semiárido
nordestino. Cão Grande (de saudosa memória), era o funcionário responsável pela
manutenção do viveiro, efetuando a limpeza e alimentando os pássaros com água fresca
e bastante frutas coloridas. Um certo dia, em plena quadra invernosa, Cão
Grande aparece com um enorme Carão – pássaro de médio porte, carnívoro, que se
alimenta de pequenos peixes, insetos e principalmente buzos (nome popular de um
molusco protegido por uma concha). Durante o inverno, até que foi fácil
alimentar o esfomeado animal, pois, bastava Cão Grande dar um pulinho até o
nosso rio Contendas, que trazia generosa quantidade do crustáceo. Entretanto,
com a chegada do verão, sumiu o alimento predileto do Carão. Foi quando Cão
Grande apelou para o prefeito comprar carne vermelha. E assim foi feito. De dois
em dois dias, Beto Lira entregava ao Cão Grande, o dinheiro correspondente para
compra de ½ kg de carne de terceira. Cerca de três semanas após, Cão Grande
solicitou do prefeito, justa reivindicação do animal, que queria porque queria,
só comer carne de primeira. O prefeito prontamente atendeu o pedido, e mais
ainda: autorizou a compra da carne na banca de conhecido magarefe, Messias
Trajano, que no final do mês recebia o dinheiro. Quando do pagamento da carne
fornecida ao Carão no segundo mês, o prefeito se assustou com o valor, que foi
o dobro do primeiro. Indagado, o conceituado açougueiro se justificou, dizendo
que Cão Grande passava na sua banca todo santo dia para levar ½ kg de carne de
primeira. Não deu outra. Imediatamente o prefeito cancelou o fornecimento a
prazo do alimento e voltou a pagar à vista. O funcionário, que foi advertido,
tentou se justificar, alegando que Carão estava em fase de crescimento,
portanto, demandava mais e mais proteínas, além da dieta balanceada dos
carboidratos. O político, que não era bobo, abriu uma espécie de sindicância.
Incumbiu outro funcionário da prefeitura – o Oscar Leruá do Maneiro-Pau, que
era o jardineiro responsável pela arborização da praça. Durante três dias,
Oscar seguiu os passos do Cão Grande, que todo dia comprava a carne, entrava no
viveiro e disfarçadamente alimentava o Carão com dois, três miúdos pedaços, (do
tamanho de uma azeitona), deixando o coitadinho do animal só na vontade, com
água na boca. Depois, pegava sua bicicleta e levava a carne para ser preparada
na sua residência e servida logo mais no almoço. Enfim, a farsa foi descoberta.
No quarto dia, muito cedo, como de costume Cão Grande se dirige ao prefeito:
- Seu
Beto, o Carão quer comer carne!
- Cão
Grande, a partir de hoje, o Carão vai comer carne, mas só se for a carne do teu
fiofó.
Ferreirinha agosto (de
carne de primeira), 2011.
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