02 de MAI 2020 - Pesquisas na
França e na China apontam que os fumantes de cigarro estão menos sujeitos a
desenvolver sintomas da covid-19. A nicotina é a suspeita.
Cigarro e
coronavírus: uma das possíveis teorias é que a nicotina, reconhecidamente
danosa, teria efeito contra o patógeno
Entre os inúmeros
estudos em curso tentando mapear a penetração do coronavírus em diferentes
estratos da população, um em específico tem chamado a atenção — pesquisadores
franceses mapearam que um percentual pequeno dos doentes são fumantes. Um
quarto dos adultos franceses fumam, mas apenas 8,5% de 11.000 pacientes
internados em hospitais parisienses são fumantes.
A estatística
corrobora outra pesquisa, feita na China e publicada no fim de março pelo New
England Journal of Medicine, que mostra que apenas 12,6% de 1.099 doentes eram
fumantes, ante uma média de 28% da população adulta da China. É sinal de que,
de alguma forma, o cigarro é uma proteção contra a covid-19?
Para os
pesquisadores franceses, a resposta é sim. O motivo tem intrigado médicos por
ser inédito nas pesquisas de saúde feitas com doenças respiratórias. Os
fumantes, segundo a pesquisa, são tão suscetíveis a contrair o vírus quanto
qualquer pessoa. Mas fumantes infectados costumam ter menos sintomas graves a
ponto de dar entrada em hospitais. O estudo tem um resultado oposto de uma
pesquisa publicada pelo European Respiratory Journal, que mostra que fumantes
correm mais risco de vida pelo novo coronavírus.
Reportagem da
revista Economist sugere que o mais provável é que a nicotina tenha algum efeito
contra o coronavírus. Para evitar uma corrida pela nicotina, o governo francês
chegou a suspender a venda online da substância no dia 24, além de limitar as
vendas em farmácias. Agora, os autores do estudo, que incluem a prestigiosa
universidade Sorbonne e o não menos renomado Instituto Pasteur, vão oferecer
nicotina a grupos controlados de doentes.
A nicotina,
reconhecidamente danosa, pode proteger os fumantes por envolver membranas
celulares e evitar o ataque do vírus invasor. Também pode suavizar inflamações,
uma característica já conhecida da substância.
Entre os vários
outros tratamentos em andamento o mais promissor é o feito com o remédio
Remdesivir, usado para tratar doenças como o ebola. A pesquisa pela vacina mais
avançada parece ser a coordenada pela Universidade Oxford, no Reino Unido, com
distribuição prevista para meados de 2021, se tudo sair conforme o previsto.
A preocupação do governo francês é que os
dados iniciais do estudo levem a uma corrida pelo cigarro, o que seria uma
consequência surrealista da pandemia que já fez 3 milhões de vítimas pelo
mundo. O novo estudo deve trazer respostas em três semanas.
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