19/09 - O câncer avança e 18,1 milhões de novos casos serão
registrados em 2018 no mundo, com um total de 9,6 milhões de mortes. Os dados
foram publicados nesta quarta-feira, 12, pela Agência para a Pesquisa do
Câncer, uma entidade ligada à organização Mundial da Saúde (OMS).
O levantamento alerta que, se nada for feito, as
incidências vão atingir 29,4 milhões de novos casos em 2040, uma expansão de
63% nos próximos 20 anos. A mortalidade deve subir de 9,6 milhões de pessoas
hoje para 16,3 milhões em 2040. Essa é a primeira vez desde 2012 que novos
números estão sendo publicados. Há cinco anos, eram 14,1 milhões de novos casos
e 8,2 milhões de mortes.
O que as entidades alertam ainda é que serão os
países emergentes que mais registrarão o aumento de casos, com um salto de 62%
até 2040 e um total de 10 milhões de novos casos.
De acordo com o levantamento, o Brasil somará em
559 mil novos casos de câncer, com 243 mil mortes, em 2018. Mas as projeções da
entidade apontam que a doença pode sofrer um aumento de 78,5% até o ano de
2040, um dos maiores saltos entre as principais economias. No total, 998 mil
novos casos serão registrados.
"Não é uma boa notícia", admitiu um dos
cientistas da agência, Jacques Ferlay. Para ele, os efeitos do tabaco,
obesidade e falta de atividade física podem explicar em parte o salto.
Hoje, o câncer mais frequente no Brasil é o de mama, com 85,6 mil casos, 15,3% do total. O segundo lugar é o de próstata, com 84,9 mil. Mas essa é a doença que mais mata entre os incidentes de câncer, com 30% dos casos.
Hoje, de acordo com o levantamento, um em cada
cinco homens e uma em cada seis mulheres desenvolverão o câncer durante suas
vidas. A taxa de mortalidade é elevada. Um em cada oito homens e uma em cada
onze mulheres morrerão pela doença.
No total, 43,8 milhões de pessoas no mundo estão
vivendo os cinco anos de prevalência do câncer e 1,3 milhão delas estão no
Brasil. Há cinco anos, eram 32 milhões de pessoas nessa situação. Se parte da
explicação é a capacidade de um número maior de pessoas de sobreviver à doença,
ela não é o único motivo.
De acordo com a pesquisa, o envelhecimento da
população e mudanças de estilo de vida ligado ao desenvolvimento social são
dois dos fatores que estão contribuindo para os números cada vez mais elevados.
“Isso é o caso também de economias emergentes que
estão crescendo rapidamente e onde uma mudança é observada de infecções ligadas
à pobreza para câncer associada com o estilo de vida mais parecido a países
industrializados”, indicou.
Alimentação, bebida, falta de atividades físicas e
envelhecimento seriam alguns dos principais fatores. Mas a agência diz não ter
ainda dados que sustentem a teoria de que a introdução massiva de novas
tecnologias e telefones celulares possam ter um impacto no número de doenças.
Ainda assim, as regiões mais desenvolvidas do mundo
são responsáveis por um volume desproporcional de incidentes da doença. A
Europa, com apenas 9% da população mundial, conta com 23% dos incidentes de
câncer no mundo. Na Ásia, com 60% da população mundial, registra 48% dos casos
de câncer no mundo.
Incidência
Juntos, mama, pulmão e colorretal representam um
terço de todos as incidências de câncer no mundo. Em 2018, a estimativa é
de que 2,1 milhão de pessoas serão afetadas por câncer de pulmão e 1,8 milhão
de pessoas vão morrer, 18% de todos os casos. O câncer de pulmão é ainda a
principal causa de morte entre os cerca de 30 tipos de câncer.
Mas um dos alertas se refere ao aumento de
incidência da doença entre mulheres, onde já é a primeira causa de morte em 28
países. As taxas mais elevadas entre as mulheres estão na América do Norte,
Europa (com especial destaque para Holanda e Dinamarca), além de China e
Austrália.
Mas a esperança é de que, nos países ricos, o
câncer ligado ao cigarro deve atingir seu pico em 20 anos e começar a
cair. Já o câncer de mama também afeta 2,1 milhões de pessoas e é o mais
comum em 154 dos 185 países. Mas, por conta de sua alta taxa de diagnóstico, é
apenas o quinto que mais mata, com 627 mil casos por ano. Ainda assim, trata-se
do maior responsável por mortes de mulheres entre os diferentes tipos de
câncer.
O câncer colorretal vem na terceira posição e
atinge 1,8 milhão de pessoas, contra 1,3 milhão de incidentes de
próstata. “Esses números mostram que muito ainda precisa ser feito para
lidar com o aumento alarmante do câncer e que a prevenção tem um papel
importante”, disse Christopher Wild, diretor da agência.
Freddie Bray, chefe do sistema de monitoramento,
também alerta que, hoje, menos de 40 países tem a capacidade de um diagnóstico
de qualidade de câncer para a população.
'Talvez a dieta seja um dos fatores mais
importantes', diz médica
Médica epidemiologista e líder do Departamento de
Epidemiologia do A.C.Camargo Cancer Center, Maria Paula Curado diz que o
aumento dos casos de câncer é algo que deve continuar ocorrendo, não só pelo
envelhecimento da população, mas por causa dos hábitos de vida adotados pelas
pessoas.
"O primeiro fator que influencia nesses
resultados é o envelhecimento, que aumenta o risco por uma mudança da imunidade
do indivíduo, mas, se não houver uma mudança do estilo de vida, esse número só
tende a aumentar. Talvez a dieta seja um dos fatores mais importantes, com o
consume de alimentos superprocessados, fast food, porque o tipo de câncer que
está aumentando mais é do trato gastro intestinal, que é ligado à
alimentação", avalia.
Maria Paula avalia que a prevenção não deveria ser
feita apenas pela população adulta, mas começar na infância. "A prevenção
e a redução do risco de câncer começa na escola. A carcinogênese (formação do
câncer) é um processo lento, para a maioria das pessoas, demora de dez a 15
anos, mas, para que uma pessoa mude os hábitos de vida, tem de começar ainda
jovem."
A médica epidemiologista afirma que, no Brasil, os tipos de câncer que mais atingem a população ainda são os considerados preveníveis, como os causados por tabaco (pulmão) e por infecções, como o de colo de útero.
O empresário Paulo Roberto Al Assal, de 49 anos,
acompanhou a mãe, diagnosticada com câncer de pulmão em 2007, durante cinco
anos e isso fez com que ele mudasse algum de seus hábitos não só para prevenir
a doença, mas para ajudar outras pessoas também. Ele já tinha uma alimentação
saudável e praticava atividades físicas, só não tinha o hábito de fazer
check-up.
"Ela era uma pessoa cheia de vida, trabalhava
com moda, estava feliz por ter tido as duas netas, minhas filhas, foi fazer um
exame de rotina, porque estava com falta de ar e descobriu um tumor gigantesco.
Ela morria de medo de ir ao médico e, quando descobriu, estava em estágio
quatro. Deste momento até hoje, virei um ativista em relação ao câncer
para defender outras famílias para que não passem o que passamos. Virei
voluntário de ONGs como Oncoguia e o Beaba, de câncer infantil."
O empresário diz que, agora, os exames preventivos
fazem parte de sua rotina. "Faço acompanhamento todos os anos e há
três anos, descobri dois nódulos no pulmão, mas não era nada, eram resquícios
de algo que tive no passado. A cada seis meses, faço exames especificamente do
pulmão. Tem de fazer. Se não detecta cedo, o próximo passo pode ser a
morte."
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