09/03 - A cinco meses para o fim do
registro das candidaturas, a corrida eleitoral deste ano começa a
ganhar forma e já reúne pelo menos 11 postulantes ao Palácio do
Planalto colocados oficialmente. Ontem, quinta-feira, os nomes do
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do ex-ministro Ciro
Gomes (PDT) foram lançados por seus partidos.
Analistas apontam o cenário de
incerteza na disputa presidencial, reflexo da crise política, e o fim do
financiamento empresarial como determinantes para a proliferação de
candidaturas. A possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), até agora líder nas pesquisas de intenção de voto, ficar impedido de
concorrer com base na Lei da Ficha Limpa também é considerada um fator para a
pulverização de candidatos.
Algumas dessas candidaturas, porém, são vistas como
tentativa de os partidos se cacifarem nas negociações de alianças eleitorais,
como a do próprio Maia. No evento em que “estreou” como pré-candidato à
Presidência, o deputado foi reverenciado por líderes de siglas do Centrão e até
por tucanos, que já têm no governador Geraldo Alckmin (PSDB) seu pré-candidato.
Eles ainda tentam atrair o DEM para a chapa presidencial.
A exemplo da candidatura do DEM, considerada de
centro, no campo da esquerda a postulação da deputada estadual gaúcha Manuela
D’Ávila (PCdoB) também é vista com ceticismo. Historicamente, o partido tem se
colocado como linha auxiliar do PT e aliados dizem ter dúvidas se ela a manterá
até o fim.
“O quadro está aberto. Partido grande não tem
candidato forte, candidato mais forte está em partido fraco. O primeiro
colocado nas pesquisas está impedido e o outsider saiu. O governo é bom nos
resultados econômicos e pessimamente avaliado. Isso tudo dá muita insegurança
para se apostar em coligações agora”, afirmou o cientista político Rubens
Figueiredo.
A fragmentação vista no campo de centro, que reúne,
além de Maia e Alckmin, o senador Álvaro Dias (Podemos), pode ficar ainda maior
caso o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), concorra. Ele negocia
filiação ao MDB, mas dirigentes da sigla têm dito que a prioridade, em caso de
candidatura própria, é do presidente Michel Temer – que diz não ter a pretensão
de disputar a reeleição.
“Vemos a pré-candidatura do Maia com o mesmo
respeito com que vemos a do Meirelles. E inclusive alguma do MDB que possa ser
lançada”, disse nesta quinta o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
Fator Lula
Na esquerda, a indefinição sobre Lula incentiva a
fragmentação. Além do petista e de Ciro, o PSOL lança neste sábado o líder do
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, como
pré-candidato. Embora considerada mais ao centro, a ex-ministra Marina Silva
(Rede) – oficializada como pré-candidata em dezembro – disputa o mesmo
eleitorado.
No outro extremo, o PSL filiou na quarta-feira o
deputado Jair Bolsonaro (RJ), segundo colocado nas sondagens eleitorais. O
empresário João Amoêdo foi lançado pelo Novo em novembro.
Para o cientista político Vitor Marchetti, da
Universidade Federal do ABC, uma das medidas do que chama de “desestruturação”
de sistema político é o número de candidaturas. Para ele, já é possível
projetar 18 nomes. “Nosso recorde foi em 1989, quando 22 candidatos se
lançaram. A diferença é que em 1989 a descoordenação era reflexo da inauguração
do regime, já 2018 é retrato de sua desconstrução.” Vitorioso na primeira
eleição após a redemocratização, o senador Fernando Collor (AL) é pré-candidato
pelo PTC.
A reportagem adotou o critério de desconsiderar
pré-candidaturas não citadas nos principais institutos de pesquisa, como a da
ex-apresentadora Valéria Monteiro, lançada pelo PMN.
“Com a crise e a ausência de candidatos com poder
de aglutinação, todos os partidos resolveram se aventurar”, afirmou o cientista
político Carlos Melo, do Insper. A consequência, disse, pode ser um 2.º turno
entre nomes com poucos votos. Para Marchetti, “uma candidatura que consiga 20%
dos votos no 1.º turno terá grande chance de sair vitoriosa”.
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