07/01 - Mais
de meio milhão de brasileiros hoje ajuda a reduzir a taxa
de desemprego no país vendendo algum tipo de alimento nas ruas. Em
uma progressão impactante, o número de pessoas que ganham o sustento como
ambulantes de alimentação saltou de 253,7 mil no
terceiro trimestre de 2016 para 501,3 mil no mesmo período no ano
passado.
Em
2015, quando a atividade começava a dar sinais de que seria
uma alternativa à crise, esse patamar rondava os 100 mil, segundo
levantamento feito pelo IBGE a pedido da Folha de S.Paulo com base em dados
aprofundados da pesquisa Pnad Contínua.
A
tendência de queda no desemprego registrada nos últimos meses vem se
sustentando nas vagas informais, sendo que o avanço dos camelôs de comida
correspondeu a aproximadamente 11% da geração de vagas de
emprego informal no trimestre encerrado em outubro.
O
fenômeno foi identificado pelo Credit Suisse, em relatório que traça cenários
para o Brasil. “O forte aumento da população empregada desses ambulantes
começou no terceiro trimestre de 2016, tendo sido disseminado em todas as
regiões, com destaque para o Nordeste e o Sudeste”, diz o estudo.
Esses
trabalhadores estão por toda parte. Vendem sanduíches na praia ou bombons em
porta de faculdades. Carregam caixas de isopor com marmitas na calçada de
empresas no intervalo do almoço. Montam barracas pela manhã para vender café
com leite em locais de grande fluxo, como portas de hospitais ou terminais de
ônibus.
A
explicação para o crescimento dessas atividades está na baixa exigência de
especialização, segundo o economista Sergio Firpo, professor do Insper. Não é
necessário ter treinamento aprofundado para preparar um alimento ou revendê-lo
pronto.
“Você passa a dominar o que precisa ser feito em um tempo relativamente
curto. Essas migrações acabam acontecendo mais para os setores de menor
qualificação“, afirma o professor.
O
aumento da demanda por alimentação mais barata também pode ter impulsionado
esse movimento, de acordo com Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e
rendimento do IBGE. “Para quem
compra, sai mais barato do que o prato no restaurante. Como a crise afetou
muita gente, vender comida na rua virou um nicho.”
A
iniciativa ocorre com mais frequência na modalidade conta própria, em que o
trabalhador vende alimentos de forma autônoma. Dos 501 mil ambulantes de comida
no terceiro trimestre do ano passado, 414,3 mil eram conta própria – ante 221,6
mil em igual período de 2016.
O
modelo sem carteira assinada, quando ele ajuda alguém na atividade e é
remunerado por isso, reuniu 41 mil pessoas no período.
Há
casos de trabalhadores que contratam um ajudante com carteira assinada,
tornando-se empregadores. Mas eles são minoria estatisticamente (3,2 mil no
terceiro trimestre de 2017) porque a atividade em geral tem caráter precário.
O
coordenador do IBGE Cimar Azeredo lamenta, porém, que não se trate de um
movimento empreendedor voluntário do brasileiro, mas sim uma forma de
sobrevivência. “Num país desigual como o nosso,
com baixa escolaridade, são raros os casos que empreenderam assim por escolha
pessoal. Isso é falta de oportunidade em razão do momento
de crise que estamos vivendo. Se você oferecer emprego com carteira a
essas pessoas, elas vão aceitar”, lamentou.
Thiago
Xavier, responsável pela área de mercado de trabalho da consultoria Tendências,
ressalta as adversidades do trabalho informal, como rendimento menor e falta de
benefícios trabalhistas.
“Quem está na informalidade fica mais vulnerável, não tem previsibilidade
de renda, proteção social, seguro-desemprego, 13º. Uma economia que tem
dificuldade para crescer gera vagas em termos quantitativos, mas de pior
qualidade“, diz Xavier.
Com informações FolhaPress
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