11/12 - Há
71 anos dona Mundinha se dedica a contar a história do nascimento de Jesus
Cristo. Na garagem de sua casa, no bairro Mucuripe, a idosa de 93 anos monta
todos os anos a lapinha de Natal, cheia de detalhes e cores. Quando está
pronta, ela faz questão de mostrar a todos a cidade onde Cristo nasceu.
Trata-se de um orgulho.
Com
um sorriso no rosto, Dona Mundinha revela que a ideia de montar uma lapinha de
Natal surgiu quando ainda era criança. Segundo ela, quando tinha cinco anos,
visitou uma senhora que fazia lapinhas de Natal e, ao conhecer o seu trabalho,
ficou encantada.
Desde
esse dia, surgiu a vontade de também contar a história do nascimento do menino
Jesus. “Ela me explicou toda a história. Mostrou o castelo de Erodes, a casa de
Cristo. Aí eu disse: ‘Quando eu me casar, eu vou construir uma lapinha em
casa'”, relembra.
Dona
Mundinha se casou com 20 anos, mas a primeira versão da sua lapinha de natal
foi construída em 1946, quando tinha 22 anos. “Na época, não tinha nem a
Avenida da Abolição”, conta. De lá para cá, a idosa não perdeu nenhum ano.
Os filhos cresceram vendo a mãe montando a lapinha de Natal na garagem
de casa. Ao longo dos anos, a estrutura foi aumentando até chegar na versão
atual. No início, era apenas uma mesa. Hoje, são necessários três mesas e mais
de duas “carradas” de areia.
“Foi preciso aumentar para contar a história completa. A primeira mesa era pequena”, explica a necessidade.
Além dessas peças com mais de 70 anos, a lapinha de Natal tem um sistema elétrico responsável pela movimentação dos personagens da história e com um sistema hidráulico para manter o lago da cidade com seus peixes vivos. De acordo com ela, cada detalhe é de extrema importância para explicar a história do menino Jesus.
Ao contrário dos anos anteriores, Dona Mundinha não pôde ficar à frente da construção da lapinha neste ano. Ela precisou ser submetida a um procedimento cirúrgico de catarata. De acordo com a filha e professora Lucinda Lopes, o médico a proibiu que sua mãe tivesse contato com areia. Por isso, um dos 10 filhos ficou responsável por essa missão. “Ela teve que passar 20 dias fora de casa”, conta.
A professora explica que a construção da lapinha é dividida em vários processos. Primeiro é preciso montar a mesa onde será montada a história de Jesus Cristo. Em seguida, coloca-se um plástico para receber a areia vinda de um morro no bairro Mucuripe. Após esse processo, é instalado a estrutura elétrica e hidráulica e, por fim, montar as casas e os personagens da cidade. “A areia utilizada é devolvida para o morro. A areia não pode ser salgada por conta das plantinhas naturais”, diz Lucinda.
Junto com a lapinha de Natal, Dona Mundinha organiza a festa de Natal no dia 25 de dezembro para as crianças da região há 60 anos. A iniciativa surgiu quando ela percebeu que as outras crianças do bairro não tinham o privilégio de receber presentes no Natal como os seus filhos. Na festa do ano passado, Dona Mundinha e sua família receberam quase 300 crianças. Todos para comemorar a festa cristã e conhecer a história de Jesus.
“Antes, não tinha esses prédios. Havia muitas famílias humildes. Eu sempre comprava presentes aos meus filhos. Um dia uma criança chegou chorando pedindo um presente. Eu disse: ‘Meu filho, no próximo ano, você vai ganhar um presente’. No outro ano, eu comprei muita coisa. Aí disse para eles: ‘Vocês vão lá em casa às 15h que vou ter presentes para vocês'”, conta.
Desde então, a idosa compra presentes e prepara um lanche para as crianças do bairro. Segundo Lucinda, há pessoas que já participaram e estão trazendo os filhos para a festa. Na ocasião, as crianças têm a oportunidade de conhecer a história de Jesus Cristo por meio da Lapinha de Natal e pela encenação do nascimento do filho de Deus, protagonizado pelos seus netos e bisnetos.
Atualmente, por conta do grande número de crianças, a idosa conta com o apoio de colaboradores. Há uns três anos, por exemplo, a família não se preocupa com a compra dos refrigerantes, pois conseguiu uma fornecedora que se responsabiliza por isso.
“Ano retrasado, a mamãe disse que estava muito triste porque estava faltando refrigerante. Eu disse que não se preocupasse. Em um dia de domingo, depois da missa, ela convidou uma mulher para entrar e conhecer a lapinha. Ela contou a história e comentou da festa. Quando a mulher, perguntou como poderia ajudar”, conta Lucinda.
De acordo com a professora, Dona Mundinha comentou que não havia refrigerante suficiente. “A mulher disse que era representante da Coca-Cola e que poderia ficar tranquila que os refrigerantes estavam garantidos”, disse. A festa é sempre comemorada no dia 25 de dezembro na garagem da casa de Mundinha.
Além do lanche, cada criança recebe um brinquedo. São bonecas vestidas com roupas confeccionadas pela idosa, bola, carrinhos entre outros brinquedos. De acordo com Lucinda, para participar, os responsáveis devem fazer a inscrição na casa de Dona Mundinha, no Mucuripe, e trazer o cartão de vacina.
Os interessados em ajudar na festa infantil podem doar brinquedos e alimentos para a festa e entrar em contato com Lucinda, por meio do número (85) 9 8811-2701
Tribuna do Ceará
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