04/12 - Em
meados de 2015, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o FBI e a Receita
Federal americana realizaram em conjunto uma investigação de três anos que
levou à prisão de sete dirigentes da FIFA na Suíça – incluindo o brasileiro
José Maria Marin, ex-presidente da CBF. Aquele era o início de um processo de
investigação que abrangeria todos os setores do futebol, desde as confederações
– e os seus dirigentes – até as empresas de comunicação que mantinham contratos
de direitos de transmissão de eventos esportivos como a Copa do Mundo.
No
último dia 14, o empresário Alejandro Buzarco, ex-homem forte da companhia de
marketing argentina Torneos y Competencias, disse que a TV Globo e outros
grupos de mídia pagaram propina em contratos de transmissão de campeonatos de
futebol. A revelação de Burzaco lança luzes sobre a trevosa relação entre a CBF
e a TV Globo, atualmente detentora de direitos exclusivos de transmissão de
quase todos os campeonatos de futebol organizados pela máxima entidade do
esporte no país.
Ao
delatar a Globo e outras empresas de comunicação que, segundo ele, pagaram
propina para transmitir campeonatos como a Libertadores da América, Copa
Sul-Americana e, inclusive a Copa do Mundo, o argentino Burzaco altera as
atenções da investigação americana sobre os poderosos monopólios midiáticos.
Estes fatos são minimamente capazes de instigar questionamentos sobre a relação
da TV Globo com o futebol, com os cartolas da CBF e com as cúpulas da FIFA e da
CONMEBOL.
Ricardo
Teixeira, que presidiu a CBF de 1989 até 2012, também é um dos personagens
principais desta história de promiscuidade e favores especiais à TV Globo.
Diz-se que Teixeira estaria negociando um acordo de delação premiada com a o
Departamento de Justiça dos Estados Unidos, informação que, se for confirmada,
exaltará ainda mais os ânimos na emissora dos Marinho. Do ponto de vista da
comunicação, a organização tem a sua imagem arranhada com a repercussão da
notícia, ainda que esta não tenha espaço amplo na mídia nacional,
tradicionalmente corporativista.
A TV
Globo encampou o mote da “luta contra a corrupção”, convocando massas para
compor as manifestações contrárias ao governo de Dilma Rousseff em 2015 e 2016.
Mas não apenas isso: foi fiadora principal da Operação Lava Jato na grande
mídia; boa parte dos seus artistas vestiu camisas amarelas (da CBF do Del Nero,
Marin e Teixeira) e foi às ruas apontar o dedo para o governo. Como se a
política fosse o único vetor de corrupção na sociedade.
Se
as investigações da Justiça americana comprovarem que a Globo, ao lado de
outros grupos monopolistas de mídia, orquestrou um mercado de propinas na
cúpula do futebol para deter com exclusividade os direitos de transmissão
ficará também comprovado que a mídia é esta mistura de hipocrisia, poder e
monopólio. Que enquanto o futebol brasileiro “cai pelas tabelas” e os clubes,
endividados, se arrastam para sobreviver, a TV Globo ganha rios de dinheiro com
a divisão de transmissão com canais a cabo do próprio grupo.
O
país do futebol é também o país dos favores especiais. Dos monopólios
midiáticos que se estabelecem historicamente no lugar simbólico da “paixão
nacional”. Parece muito estranho quando quem fala o tempo inteiro dos atos de
corrupção alheia seja alvo de delações premiadas e esteja na mira da Justiça
americana. A investigação terá muito a mostrar, mas uma coisa é certa: o tempo
dos veículos de mídia titânicos e intocáveis parece estar próximo do fim.
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