Em entrevista ao Diário do Centro do Mundo, Ciro
Gomes (PDT), durante o evento do Mídia NINJA chamado “Precisamos Falar de
Política”,ele debateu o golpe, a crise econômica, a construção de Belo Monte e
os problemas sociais recentes. O pedetista que atualmente presta serviços para
a CSN e mora em São Paulo, fala como candidato em 2018, mas não confirma.
VEJA:
DCM: Se o senhor por acaso tentar a
presidência da República, qual será a sua plataforma de governo? Tentará fazer
a reforma política diante do Congresso corrupto?
Ciro Gomes: Não serei candidato por acaso
(risos), só se eu realmente achar que devo tentar. Para chegar ao governo,
proponho duas plataformas. Uma delas se desdobra em três características.
A primeira plataforma que eu vou defender é a
fiscal, que vira também as reformas tributária e previdenciária. Essa minha
defesa é pela recuperação econômica plena depois de uma péssima gestão do
Joaquim Levy no ministério da Fazenda.
A outra grande proposta que quero fazer é a
reforma política. As instituições representam atualmente a nossa sociedade.
Para mudá-la, só colocando o povo na equação. Ao assumir a cadeira
presidencial, você precisa arrumar a casa em seis meses, resolvendo conflitos
inclusive.
Os presidentes precisam se colocar como chefes de
Estado, mediando os embates de ideias. No entanto é necessário não ter paixões
para manter um distanciamento para não fazer uma reforma política na
conveniência do seu projeto de poder. A opinião do presidente não pode ter
prevalência. A dinâmica deve ocorrer dentro do Congresso.
Se o impasse da reforma política permanecer,
deve-se convocar a população. Daí resolve-se através de plebiscito ou
referendo.
DCM: No debate o senhor falou que o
afastamento de Cunha é motivo de comemoração. Por quê? E o fato dele ainda não
ter sido condenado?
CG: Acho que as coisas tem um valor em si.
Estamos todos na eminência de um golpe e isso é passional. E péssimo. Falta um
anjo vingador para nos salvar da tragédia que está se desenhando. Isso eu
entendo.
Só que, quando o Eduardo Cunha é ciclicamente
vitorioso, premiado pelas práticas mais calhordas e gangsteristas já vistas,
ele passa o atestado que a política virou um pardieiro sem exceções. Isso destrói
a cabeça de um jovem que tiver esperança em ter uma participação nesse meio.
Por isso eu acho a saída do Eduardo Cunhatem seu
valor, embora o céu não esteja mais perto em decorrência disso.
DCM: O senhor leu a liminar pedindo a
cassação do ministro Teori Zavascki?
CG: Li as 74 páginas mais cedo e é notável a peça
de Teori. É o único precedente na história brasileira do Supremo Tribunal
Federal afastar o presidente da Câmara durante seu mandato. Isso não foi pouca
coisa, por mais que a gente desejasse tudo antes.
Não há nada comparável na literatura jurídica. O
que ele fez foi um voto irrespondível, mostrando que um ministro do Supremo
recebeu a denúncia e conseguiu afastá-lo de fato. Um presidente da República
poderia ser afastado desta forma. É lastimável que o Senado não tenha passado
por um processo similar.
Essa investida do Teori Zavascki está em sintonia
com o melhor do Direito Constitucional a nível global. Sou ex-professor nessa
área e posso dizer isso. A imunidade do mandato popular deve ser para o
objetivo público, não para fazer ou desfazer e muito menos para achacar
pessoas, como Cunha fez. Vale a pena ler a peça porque eu nem fazia ideia da
quantidade de besteiras do presidente da Câmara havia feito de fato.
DCM: Depois de tudo que o Cunha aprontou
pelo golpe, não é muito fácil o Teori Zavascki agora pedir seu afastamento? O
Supremo não demorou muito?
CG: O STF é o que ele é que ele é. Tirando Marco
Aurélio Mello, recomendação do Collor, o Gilmar Mendes, do FHC, e o Celso de
Mello, do Sarney, todos os ministros foram recomendações do Lula e da Dilma.
Sabe quando uma Suprema Corte de um país como a Suécia atropela os poderes
interdependentes para cassar o mandato do presidente da Câmara? Eu não conheço
nada similar. Fui professor de Direito Constitucional e sei do que falo.
O ministro Teori agiu por conta dos abusos claros
deste bandido chamado Eduardo Cunha e por uma pressão muito clara das ruas, das
manifestações. É só por isso que essa cassação aconteceu no momento em que
aconteceu. Este acontecimento é exótico e não é sequer desejável. O que deveria
ocorrer é a gente eleger corretamente os caras.
DCM: Eduardo Cunha vai mesmo pra cadeia?
CG: Vai pra cadeia sim. A prova é robusta e
insofismável.
DCM: O que o senhor tem a dizer sobre a
investigação que a PGR do Rodrigo Jabot quer abrir contra Dilma e Lula?
CG: O procurador abriu as apurações, mas elas
ainda estão no início do processo e dependem dos juízes do STF.
DCM: O senhor disse em entrevistas que as
cabeças do golpe são o Temer e o Cunha. Há textos na imprensa que apontam para
o apoio do próprio Sergio Moro e de Rodrigo Janot. É verdade?
CG: Não acredito num envolvimento do Janot. Até
vejo o procurador, de forma constrangida, demonstrar distanciamento e isenção
diante do que o Lula tem falado.
DCM: Como assim?
CG: O Lula se sente no direito de falar como se
fosse Deus. Ele criou um constrangimento com as histórias do triplex no Guarujá
e do sítio em Atibaia. O ex-presidente, muito meu amigo, deve explicações e é
honesto.
Ele precisa ter paciência com tudo o que está
acontecendo. Se você tem a indignação dos inocentes, dê provas disso. Não basta
não ser corrupto. Você precisa realmente parecer idôneo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário