Contam à boca miúda nos quatro cantos
de Massapê, de leste (bairro Educador Luiz da Hora Pereira) a oeste (Alto Boa
Vista) e de norte (Rua do Cemitério) a sul (Bandeira Branca), que um
determinado candidato a deputado Federal, no intuito de conquistar o segundo
mandato consecutivo nas eleições 2014, promovia aquelas obscuras e sinistras visitas
domiciliares, via de regra, na calada da noite, e em uma dessas ocasiões que só
acontecem de quatro em quatro anos, o ilustre deputado e sua comitiva vararam a
noite, indo parar em uma aconchegante localidade denominada Paus Brancos.
Ligeirinho, o anfitrião, proprietário de uma casinha de pau-a-pique,
providenciou preguiçosa rede de tucum armada à sombra de uma frondosa
mangueira, plantada no terreiro da humilde residência, terreiro este que não
mais de meia dúzia de galinhas caipiras livremente ciscavam. E, enquanto o político
gozava do merecido e necessário descanso, a seleta comitiva de “saco &
corda” recomendou ao dono da casa que abatesse a mais gorda galinha pé duro
daquele terreiro e preparasse uma suculenta galinha caipira à cabidela (o prato
preferido do deputado) para servir no almoço, tão logo ele ressuscite, ou
melhor, acorde. E assim foi feito. Todos se banquetearam ao sabor da obesidade
mórbida do bípede emplumado, e na hora de pagar a conta, o deputado (muito bem
humorado) deu uma de anfitrião, subiu numa enorme pedra que ali jazia e improvisou
um pequeno, mas caloroso discurso. A seguir, transcrição do diálogo, vazado nos
seguintes termos:
- Meus amigos e minhas amigas! Esta noite eu fui muito bem
recepcionado pelas “mulheres do Riacho Fundo” que prepararam para o jantar, uma
afrodisíaca canja. E hoje, os meus “eleitores dos Paus Brancos”, fizeram da
mesma forma, para servir no almoço uma suculenta galinha caipira que, diga-se
de passagem, estava uma delícia – se justificou o distinto e brincalhão político
aos moradores da casa, que após intermináveis aplausos, emendou – o senhor tem
palitinho de dente?
- Num tem não deputado, mas a gente dar um jeitinho. Menino
vá correndo e volte voando até aquele pé de mandacaru e traga um espinho dos
maiores. E enquanto o deputado cuidadosamente “palitava” os dentes, agradeceu a
generosa acolhida e foi logo perguntando ao seu futuro eleitor:
- Seu Zé o meu tempo é muito curto e haja vigor físico. Aguardam-me,
ansiosas, para um bate-papo informal, as “donzelas da Cacimbinha”, as “moças da
Cacimba Nova“ e as “senhoras da Cacimba Velha”. Diga-me quanto foi a conta!?
Seu Zé, sem trejeitos, pensou alguns segundos com os seus
botões, criando um clima de incógnita no ar.
- Não tenha vergonha não, homi.
Diga quanto eu pago pela despesa do farto almoço, diga?
- E por acaso fartô
alguma coisa, deputado? – tentou se orientar o rude agricultor.
- Não faltou nada. Pelo contrário, até sobrou comida. Mas não
me enrole e diga quanto custou o almoço, diga? Não tenha vergonha, pode cobrar
que eu pago! – perguntou o deputado pela segunda vez, retirando do bolso um
pacote de dinheiro graúdo.
- Vossa Excelência só vai pagar trezentos Reais – respondeu
cabisbaixo, o humilde, mas esperto homem.
- Quanto???
- Trezentos Reais...
Refeito do baita susto, não restou outra alternativa ao
deputado, senão, pagar a conta, indagando:
- Eu vou lhe pagar os trezentos Reais, tome aqui. Mas me
responda uma só pergunta: galinha caipira por estas bandas é raridade?
- Num é não sinhô. Raridade por aqui é deputado.
Do livro: Estórias & Casos com Causos & Histórias de
Massapê – autor: Ferreirinha de Massapê.
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