Há
cerca de alguns anos um amigo de longas datas me faz visitas
periódicas, notadamente nos finais de semana, com o propósito de
saciar seu vício com certa tranquilidade, ocasião que ele, uma vez
muito bem recebido na minha humilde residência, como sempre se sente
em casa, de tal modo que bebe, come, dorme, curte um som, enfim,
desfruta do que mais gosta: é que o bom e pacato rapaz depois de
umas baforadas se sente na pele e no espírito também, do saudoso
Maluco Beleza. Para um bom entendedor meia palavra basta. Afável e
jamais agressivo, diferentemente da maioria dos dependentes químicos,
o meu velho amigo, em momento de alucinação, revelou-me um segredo
de foro íntimo. Segundo ele, por um descuido da genética humana,
tem o nariz avantajado, e que o incomoda muito, mas nem por isso é
complexado; pelo contrário, nos momentos de descontração faz
chacota de si próprio. Certa vez disse-me que “aquilo” não
passava de uma inversão, quiçá, uma mutação congênita: na
devida proporção de tamanho, o de cima era para ficar em baixo e o
de baixo era para ficar em cima. Um descuido da natureza. Dia desse
ele me apareceu muito “doidão” e desabafou confessando em tom de
ironia, que, ultimamente tem dificuldade para dar no couro; que todo
santo dia levanta, mas só da cama; que não mais afoga o ganso com
naturalidade; que não consegue descascar a banana com os cinco
dedos; que tem uma espécie de “moleza” no meio das pernas; que
por semana dar três, sendo duas tentativas e uma desistência.
Apesar de ele ser relativamente jovem, orientei-o para que fizesse
uso daquela pílula milagrosa, o Viagra. Dito e feito. Na semana
seguinte o meu amigo retornou com o nariz empinado (é mole?), se
gabando que agora é viril, de modo que, de capão, se tornou um
galo. “Sai de baixo”, era esse o jargão do dono do terreiro, que
“cobria” todas. O galo, ou melhor, o amigo, se tornou cliente
assíduo da minha CPIN - Clínica Particular de Inseminação
Natural. Foi aí que veio à tona mais um problema (ou um
probleminha?). As galinhas, ou melhor, as mulheres constantemente se
queixavam do tamanho diminuto do órgão genital do rapaz. É que o
símbolo da sua masculinidade era demasiadamente ínfimo, no que eu
lhe disse que tamanho não é documento. Mas não é que ele ficou
deveras impressionado? Na outra semana o amigo aparece cabisbaixo e
taciturno, e eu, antevendo o motivo do seu estranho comportamento,
lhe fiz algumas perguntas. A seguir, eis o teor do diálogo vazado
nos seguintes termos:
-
Amigo qual é o seu maior sonho?
-
Fazer uma cirurgia plástica para alongar o meu pênis - respondeu
curto e grosso.
-
Mas como assim? Eu que pensei que você me dissesse que seria
diminuir o tamanho do seu nariz?
-
E o enxerto de tecido, nervo e pele de onde você pensa que virá? –
indagou com ar de graça. Foi aí que me lembrei de dois grandes
protagonistas, um surreal e o outro, real: Pinóquio, um boneco de
madeira, sem vida, que por mentir demais fazia crescer seu nariz,
lançado nos cinemas dos EUA em 1940, baseado em “As aventuras de
Pinóquio”, e Camões – Luiz Vaz de Camões (1.524 - 1.580), o
maior poeta português, autor do poema “Os Lusíadas”,
considerado pela vã filosofia popular, uma lenda pela avantajada
genitália, daí, o título dessa engraçada e obscura crônica.
Do
livro: Crônicas Alegres & Algo Mais – autor: Ferreirinha de
Massapê.
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