24 de janeiro de 2014

ANTES, ELE. HOJE, ELA!

Delegado, antes e depois Facebook / Reprodução
A Polícia Civil de Goiás terá, em seu corpo de agentes, um delegado que mudou de sexo. Thiago de Castro Teixeira, responsável pela delegacia de Trindade (cidade a cerca de 20km de Goiânia), passou pela cirurgia de troca de sexo no final do ano passado, na Tailândia, e voltará ao trabalho em fevereiro deste ano como Laura. Laura tem 33 anos, já foi casada quando ainda era Thiago e tem dois filhos.

A delegada pediu afastamento do cargo, por três meses, após passar pela operação e pediu para ser enviada à Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM). Segundo o diretor-geral adjunto da Polícia Civil de Goías, Daniel Filipe Adorni, o pedido está sendo estudado, mas depende de remanejamento de agentes.

Para a polícia, a mudança de sexo de Laura não deve ser vista como algo diferente ou que mereça algum tratamento especial. O processo vem sendo acompanhado há cerca de um ano e meio. A assessoria de imprensa da polícia afirma que a decisão de Laura “não altera em nada” a percepção da corporação sobre o trabalho de Thiago antes da cirurgia, que foi elogiado pela Polícia Civil. Ele é considerado “um delegado excelente” e foi elogiado por Adorni.

Na DEAM, a informação de que Laura será uma das delegadas não foi confirmada. Mas a delegada titular, Ana Elisa Gomes Martins, afirma que ter uma transsexual entre as delegadas seria positivo.

- Nós atendemos também travestis e transsexuais. E precisamos de mais delegados. Temos hoje três delegados adjuntos e quatro plantonistas. Precisamos de reforços – disse.

Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia e decano do movimento gay no Brasil, avalia que esse tipo de caso, de um transgênero que assume o sexo oposto sem mudar de trabalho, deve ser comemorado. Ele destaca que esse é o primeiro caso que chega a seu conhecimento sobre uma redesignação sexual com a pessoa mantendo suas funções em um cargo público.

- Há diversos delegados e agentes policiais assumidamente gays e lésbicas, alguns extremamente estereotipados, efeminados no caso dos homens e masculinizadas, no caso das lésbicas. Já participei de encontros de policiais de todo o país em que havia vários assumidos. Mas esse fato de assumir socialmente o gênero oposto, em pleno exercício das funções, eu não me recordo. Acho que é inédito no Brasil e felizmente já existe suporte institucional para garantir o pleno exercício das funções desta nova mulher – afirmou Mott.

Mott vê a possibilidade de Laura trabalhar na delegacia da mulher como algo positivo, e avalia que sua vivência como transgênero poderá ajudar o atendimento de travestis e transexuais que forem vítimas de violência. Porém, Mott afirma que para combater qualquer preconceito, o ideal seria que Laura continuasse no exercício de sua função no cargo que ocupava antes da cirurgia de mudança de sexo.

- Seria bom mantê-la no mesmo setor, inicialmente, para desfazer qualquer preconceito em relação a sua mudança de gênero. Porém, se a delegacia especial da mulher atende também o público LGBT, ela poderia, de fato, colaborar com a sua experiencia para essas pessoas que forem alvo de violência.

A página de Laura no Facebook mostra a imagem de uma Fênix – a ave da mitologia grega que renasce das cinzas - e é ilustrada com uma foto da delegada com os cabelos escovados, vestindo camiseta preta com identificação da Polícia Civil. No dia 30 de outubro foi postada a primeira foto da delegada na conta da rede social. Entre os comentários, amigos e familiares elogiam Laura, dizem como ela mudou e que está bonita. Em outra publicação, Laura responde a uma colega da Secretaria de Segurança Pública de Goiás que voltará ao trabalho em fevereiro.

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