Delegado, antes e depois Facebook / Reprodução |
A Polícia Civil de Goiás terá, em seu corpo de
agentes, um delegado que mudou de sexo. Thiago de Castro Teixeira, responsável
pela delegacia de Trindade (cidade a cerca de 20km de Goiânia), passou pela
cirurgia de troca de sexo no final do ano passado, na Tailândia, e voltará ao
trabalho em fevereiro deste ano como Laura. Laura tem 33 anos, já foi casada
quando ainda era Thiago e tem dois filhos.
A delegada pediu afastamento do cargo, por três
meses, após passar pela operação e pediu para ser enviada à Delegacia
Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM). Segundo o diretor-geral adjunto
da Polícia Civil de Goías, Daniel Filipe Adorni, o pedido está sendo estudado,
mas depende de remanejamento de agentes.
Para a polícia, a mudança de sexo de Laura não deve
ser vista como algo diferente ou que mereça algum tratamento especial. O
processo vem sendo acompanhado há cerca de um ano e meio. A assessoria de
imprensa da polícia afirma que a decisão de Laura “não altera em nada” a
percepção da corporação sobre o trabalho de Thiago antes da cirurgia, que foi
elogiado pela Polícia Civil. Ele é considerado “um delegado excelente” e foi
elogiado por Adorni.
Na DEAM, a informação de que Laura será uma das
delegadas não foi confirmada. Mas a delegada titular, Ana Elisa Gomes Martins,
afirma que ter uma transsexual entre as delegadas seria positivo.
- Nós atendemos também travestis e transsexuais.
E precisamos de mais delegados. Temos hoje três delegados adjuntos e quatro
plantonistas. Precisamos de reforços – disse.
Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia e
decano do movimento gay no Brasil, avalia que esse tipo de caso, de um
transgênero que assume o sexo oposto sem mudar de trabalho, deve ser
comemorado. Ele destaca que esse é o primeiro caso que chega a seu conhecimento
sobre uma redesignação sexual com a pessoa mantendo suas funções em um cargo
público.
- Há diversos delegados e agentes policiais
assumidamente gays e lésbicas, alguns extremamente estereotipados, efeminados
no caso dos homens e masculinizadas, no caso das lésbicas. Já participei de
encontros de policiais de todo o país em que havia vários assumidos. Mas esse
fato de assumir socialmente o gênero oposto, em pleno exercício das funções, eu
não me recordo. Acho que é inédito no Brasil e felizmente já existe suporte
institucional para garantir o pleno exercício das funções desta nova mulher –
afirmou Mott.
Mott vê a possibilidade de Laura trabalhar na
delegacia da mulher como algo positivo, e avalia que sua vivência como
transgênero poderá ajudar o atendimento de travestis e transexuais que forem
vítimas de violência. Porém, Mott afirma que para combater qualquer
preconceito, o ideal seria que Laura continuasse no exercício de sua função no
cargo que ocupava antes da cirurgia de mudança de sexo.
- Seria bom mantê-la no mesmo setor,
inicialmente, para desfazer qualquer preconceito em relação a sua mudança de
gênero. Porém, se a delegacia especial da mulher atende também o público LGBT,
ela poderia, de fato, colaborar com a sua experiencia para essas pessoas que
forem alvo de violência.
A página de Laura no Facebook mostra a imagem de
uma Fênix – a ave da mitologia grega que renasce das cinzas - e é ilustrada com
uma foto da delegada com os cabelos escovados, vestindo camiseta preta com
identificação da Polícia Civil. No dia 30 de outubro foi postada a primeira
foto da delegada na conta da rede social. Entre os comentários, amigos e
familiares elogiam Laura, dizem como ela mudou e que está bonita. Em outra
publicação, Laura responde a uma colega da Secretaria de Segurança Pública de
Goiás que voltará ao trabalho em fevereiro.
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