Advirta-se não se tratar o presente artigo de mais uma análise da
maldição - criador versus criatura
O coronelismo “moderno” no Ceará iniciou-se em 1963
e sobreviveu até 1982, sob a unção do Regime Militar. O primeiro e o último
Governador desse ciclo histórico, Virgílio Távora formou ao lado de César Cals
e Adauto Bezerra um triunvirato aparentemente invencível. Aliança essa que lhes
permitiu o revezamento eficaz no poder por 20 anos, apesar das divergências.
Forçoso é reconhecer-se que tanto a crítica como a reverência a esse período se
igualam: os críticos mencionam o empreguismo, a troca de favores e o clientelismo; os reverenciadores afirmam
que as raízes do desenvolvimento econômico cearense estão aí fincadas,
além do que os chefes políticos
receberiam um tratamento mais personalizado.
Nessa esteira, reforce-se que 1982 é considerado o marco final desse ciclo, como também é verdade que, mesmo assim, o
sopro do coronelismo avança sobre esse limite, posto que Gonzaga Mota
(1983-1986), o sucessor dos coronéis, chega ao Palácio da Abolição sob suas
bênçãos. No entanto, rompe com os mesmos posteriormente, formando um hiato que
ainda não se pode chamar de ruptura. Só na sequência, já na onda da Abertura
Política, quando Mota incentiva e lança na política o jovem empresário Tasso Jereissati, e com a vitória
desse último, vê-se sepultado definitivamente
o ciclo dos coronéis no Ceará.
Observe-se que, após certo
período de transição (o hiato), ocorre com Tasso, em 1986, a primeira ruptura
do poder político cearense, desde 1963. No entanto, deve-se considerar também
que talvez isso não fosse possível, se o mesmo não recebesse o apoio do então
Governador Gonzaga Mota, o patrocinador
estatal.
Com Tasso, inicia-se uma nova era
hegemônica no Ceará, que vai de 1987 a
2006,
durante, por tanto, outros 20 anos. Assim, por sucessivas eleições, ele ditou o
ritmo da política cearense de tal modo que era tido por muitos como um político
imbatível a exemplo dos coronéis, jamais perderia uma eleição. Não se diga que perdeu as eleições de 2006, a
do fechamento do seu ciclo, pois o tassimo ultrapassa esse limite, exercendo
influência no governo estadual até 2010, quando efetivamente é derrotado para o
Senado.
Ainda na mesma trilha, em nome do momento
histórico, deve-se revisitar o ano de 2006 com mais vagar, pois aí pode ser
encontrada a segunda ruptura do poder político cearense, nesse longo período de
cinco décadas. Portanto, no ano em destaque, Tasso exigiu que Lúcio Alcântara
não se recanditasse a governador e apoiasse Cid Gomes. Lúcio recusou-se e
rompeu com Tasso. Contrariado, Tasso fez campanha camuflada para Cid em todo o
interior do estado. Cid como se sabe venceu as eleições.
Observe-se que a segunda ruptura do recorte
em apreço talvez não fosse possível, se assim Tasso não o quisesse. Sem o apoio
de Tasso, o controlador da maior máquina partidária da época – o PSDB - Lúcio
esvaziou-se eleitoralmente. Esse episódio, só a título de argumentação, teve
tanto impacto que poderia mesmo comparar-se ao fato impensável de, repentinamente, Ciro Gomes resolvesse apoiar uma chapa contrária a do seu irmão
Cid nas eleições que se aproximam.
Enfim, chega-se a 2014, e o jogo
político cearense está eminentemente truncado, mas mesmo assim é perceptível
que duas pré-candidaturas ao Palácio da Abolição estão postas momentaneamente:
a governista - a do Deputado José Albuquerque; e a que ainda sonha em ser
governista - a do Senador Eunício Oliveira. E aí, nesse passo, surge a seguinte
indagação: é possível a terceira ruptura? Pode até parecer fácil responder tal
inquietação, por não existir, nem mesmo simbolicamente um Gonzaga Mota (1986)
ou um Tasso Jereissati (2006), como patrocinador de uma latente terceira
fratura. Mas objetivamente não é. Em nome do debate, aqui, ainda nesse ponto, mesmo com outras letras, repisa-se a indagação
anterior: o Cidismo pode ruir? Não se pode saber a resposta de plano. Caso isso
ocorra, seria a primeira ruptura sem a presença de um Governador de Estado ou
de um controlador de uma máquina partidária até então arrasadora. Aí sim tal
evento seria mesmo renovador.
Em tempo, há-se de lembrar que o
Cidismo só tem oito anos e os dois ciclos anteriores duraram vinte. No entanto,
deve-se perceber também que os tempos são outros e falta ao homem comum o poder
de prever a história.
João Tomaz Neto
Advogado e Professor
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