CASA DAS MADALENAS - A palavra cabaré
(casa de prostituição) tem sua origem fruto da linguagem oral de forma sincopada
(aportuguesada) da designação francesa “cabaret”, que nada mais é, casa noturna
de espetáculos variados com música ao vivo e as famosas dançarinas de “can-can”.
“As Madalenas” tem origem da passagem bíblica de uma adúltera, a prostituta
Madalena (irmã de Lázaro), que, ao ser submetida ao castigo de apedrejamento em
via pública por uma multidão irada, foi salva por Jesus, que disse: “Atire a primeira pedra, aquele que nunca
pecou”. Maria Madalena foi discípula devota de Jesus, servindo-o com seus
bens materiais; ajudou a sustentar o ministério do Salvador; esteve ao pé da
cruz no dia da crucificação do Mestre; esteve no sepulcro do Filho do Pai no
dia do seu sepultamento e no da ressurreição, e foi a primeira pessoa a ver
Jesus ressuscitado, inclusive, a tocar nele e anunciar a sua ressurreição aos
discípulos. Dada à estreita relação de amizade entre ambos, alguns estudiosos
do assunto cogitam a hipótese de que Maria Madalena foi amante de Jesus. As
imagens associadas à santa Maria Madalena – a padroeira dos pecadores
penitentes e das prostitutas arrependidas, são na sua maioria, profanas e com
certa dose de erotismo, aliás, não poderia ser por menos. A festa da “Maria
Pecadora” é realizada dia 22 de julho. “Casa das Madalenas” até final da década
cinqüenta era a designação dada ao único prostíbulo de Massapê, estabelecido no
bairro Bandeira Branca. Mulheres que, por desventura social fossem triscadas (desonradas)
fisicamente pelo rompimento do hímen, e não comungassem com o casamento, uma
vez não desposadas, eram automaticamente expulsas das suas residências pelos
próprios pais, não hes restando alternativa, senão, se ampararem no baixo
meretrício, via de regra, no de outra cidade. São resquícios do falso moralismo
e pudor exacerbado oriundo da cultura portuguesa associada ao imperialismo arcaico
da igreja católica romana. Pois bem. Por ocasião do Chitão de Massapê 2013, realizado
dias 19, 20 e 21 de julho, nós, da secretaria de Cultura do município, ao projetarmos
a cidade cenográfica, ornamentamos a Casa das Madalenas com um casal de bonecos
sentado à mesa bebendo cachaça, ouvindo música brega gerada de uma vitrola
PHILIPS, espaço este estrategicamente localizado entre o santuário Santo
Antonio e a gruta Nossa Senhora de Lourdes, exatamente para causar polêmica. Um
contraponto, um paradigma entre o profano e o divino. E o público de certa
forma assimilou, digamos assim, esse contraste. O propósito foi chamar a
atenção. E chamou mesmo. Tanto chamou que, alguns amigos meus, pés-de-cana como
eu, raparigueiros como eu, aos poucos se aproximavam da réplica do prostíbulo,
bebiam um gole de cachaça (de verdade), Xixi de Virgem, Chora no Pau, Amansa
Corno, etc., com tira-gosto de limão, derramavam a do santo no balcão, davam
meia volta, e algum tempo depois retornavam para mais uma “rodada alcoólica
cabareana”, dentre os quais, Zé Bilinga, Arimatéia e Henrique (este último filho
do meu amigo Zé Maria Priquitim ou Zé Maria Madalena). Esses dois apelidos,
frutos exclusivos da sabedoria e vã filosofia populares, retratam fielmente a
verdade, pois, é público e notório que na década 50, José Maria Alves, 73 anos,
até hoje conhecido no seio da sociedade massapeense por Zé Maria “Priquitim” ou
Zé Maria “Madalena” (ele ainda se sente lisonjeado), à época, um vigoroso
rapaz, (nos dias atuais diz ele que ainda se garante), era freqüentador assíduo
da “Casa das Madalenas”, daí os justificados apelidos e título do assunto em
tela.
Do livro: Estórias & Causos com Casos &
Histórias de Massapê - Autor:
Ferreirinha de Massapê.
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Arimateia bebendo cachaça da marca "xixi de virgem |
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Tal pai, tal filho - Henrique (filho do Zé Maria Priquitim ou Madalena |