Em “Crônicas Alegres”
do escritor massapeense Osvaldo de Aguiar – Imprensa Universitária do Ceará,
1960, fls. 104, assim procede:
“Em 1840, Alexandre Herculano escreveu esta frase que ficou célebre: “A língua
portuguesa é o túmulo do pensamento”. De fato, naquele tempo, assim sucedia.
Falado por pouca gente, o idioma de Camões nada significava em face do francês,
do inglês, do alemão, do italiano e do russo utilizados por milhões de bocas na
superfície do planeta. Hodiernadamente, porém, graças ao aumento da população
de Portugal e do Brasil e ao decréscimo do número de analfabetos, a coisa mudou
um pouco. O português deixou de ser o túmulo do pensamento, para transformar-se
em batente de um sepulcro. Não mais oculta inteiramente a imaginação dos nossos
escritores e poetas aos olhos do mundo civilizado, mas, ainda não dispõe de
força capaz de elevá-la bem alto para
ser claramente vista e examinada pelo povo de outras terras. Apesar desse seu
manifesto desprestígio no cenário mental das nações adiantadas, o português
possui, sobre as demais línguas, uma vantagem indiscutível: a riqueza vocabular”.
A referência literária
ilustra um fato inusitado, que aconteceu na Câmara Municipal dos Vereadores de
Massapê, na germinação do século XXI, ocasião que tinha assento àquele
legislativo, um edil, de escolaridade média, mas que tinha, por excelência, o
domínio da oratória. É bem verdade que vez outra o ilustre político maltratava o
vernáculo, sem falar dos vícios de linguagem. Logo no início do seu mandato, o
nobre vereador fez uso da tribuna, para denunciar a gastança desnecessária com
o dinheiro público naquela Casa do Povo, promovida pelo seu presidente. A
seguir, transcrição de um trecho do seu acirrado discurso:
- Chega
de roubalheira! O povo de Massapê não agüenta mais! Acreditem, meus amigos, o
roubo aqui é cotidiário!
Nisso um colega
solicitou um aparte:
- O roubo aqui é o que mesmo, vereador?
- Cotidiário!
- Me desculpe, prezado colega. Vossa
excelência quis dizer “cotidiano”?
- Não senhor. Equivoca-se o nobre
colega. Cotidiano é de ano em ano. Aqui, o roubo é diário, portanto, é
cotidiário!
Ferreirinha, 17 de
julho de 2011.
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