9 de abril de 2013

VIA-EMAIL AO BLOG DE UM DOS NOSSOS COLABORADORES: "ROUBO COTIDIÁRIO"

Em “Crônicas Alegres” do escritor massapeense Osvaldo de Aguiar – Imprensa Universitária do Ceará, 1960, fls. 104, assim procede:

“Em 1840, Alexandre Herculano escreveu esta frase que ficou célebre: “A língua portuguesa é o túmulo do pensamento”. De fato, naquele tempo, assim sucedia. Falado por pouca gente, o idioma de Camões nada significava em face do francês, do inglês, do alemão, do italiano e do russo utilizados por milhões de bocas na superfície do planeta. Hodiernadamente, porém, graças ao aumento da população de Portugal e do Brasil e ao decréscimo do número de analfabetos, a coisa mudou um pouco. O português deixou de ser o túmulo do pensamento, para transformar-se em batente de um sepulcro. Não mais oculta inteiramente a imaginação dos nossos escritores e poetas aos olhos do mundo civilizado, mas, ainda não dispõe de força capaz de elevá-la bem alto  para ser claramente vista e examinada pelo povo de outras terras. Apesar desse seu manifesto desprestígio no cenário mental das nações adiantadas, o português possui, sobre as demais línguas, uma vantagem indiscutível: a riqueza vocabular”.

A referência literária ilustra um fato inusitado, que aconteceu na Câmara Municipal dos Vereadores de Massapê, na germinação do século XXI, ocasião que tinha assento àquele legislativo, um edil, de escolaridade média, mas que tinha, por excelência, o domínio da oratória. É bem verdade que vez outra o ilustre político maltratava o vernáculo, sem falar dos vícios de linguagem. Logo no início do seu mandato, o nobre vereador fez uso da tribuna, para denunciar a gastança desnecessária com o dinheiro público naquela Casa do Povo, promovida pelo seu presidente. A seguir, transcrição de um trecho do seu acirrado discurso:
- Chega de roubalheira! O povo de Massapê não agüenta mais! Acreditem, meus amigos, o roubo aqui é cotidiário!
Nisso um colega solicitou um aparte:
         - O roubo aqui é o que mesmo, vereador?
         - Cotidiário!
         - Me desculpe, prezado colega. Vossa excelência quis dizer “cotidiano”?
         - Não senhor. Equivoca-se o nobre colega. Cotidiano é de ano em ano. Aqui, o roubo é diário, portanto, é cotidiário!
Ferreirinha, 17 de julho de 2011.

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