O hímen - símbolo da virgindade física
feminina, até final do século XX era requisito essencial para a consumação do
casamento, dentre os povos das mais variadas culturas e posições sociais. O
atual Código Civil brasileiro, no capítulo alusivo ao Direito de Família,
aboliu cláusula contida no código anterior, que estabelecia sanção com a
nulidade do casamento civil, em caso do cônjuge casar com mulher já deflorada,
sem o seu conhecimento, no prazo de seis meses. O lacre de segurança feminino
(hímen), no ser humano, é uma peculiaridade da criação divina, diante dos
outros seres. De tal modo, que o seu valor foi difundido ao longo do tempo pela
Igreja Católica Apostólica Romana, em que a noiva, demonstrando sua pureza,
subia ao altar de véu e grinalda. Essa antiga herança herdada e transmitida de
gerações para gerações, ainda se perpetua, com raríssimas exceções.
No nosso sertão cearense, até meados do
século passado, não existia aventuras de amor romanesco. Sertão só conhecia
“causos de amor”, para vingar brios feridos ou lavar no sangue a honra
ofendida. O sertão do padre Antonio Vieira (Eu e os Outros – 1987 – Imprensa
Oficial do Ceará), só conhecia aventuras de cabras machos. “Consta que um
agregado anônimo se dirigiu ao seu patrão e disse:
- Patrão, eu lhe vim dizer que seu fio
ofendeu Zefinha, minha fia.
- Besteira Severino, que honra de moça
pobre é como dente, quando não cai, a gente arranca. Dias depois, a família do
agregado arribou e após um mês, o agregado exibia na ponta do seu punhal, como
um troféu para todo mundo ver, o símbolo da masculinidade do filho do
ex-patrão. Era esta a linguagem que aquele nosso sertão sabia falar, porque morrer seria menos cruel que ser
desmoralizado”.
O atual conceito de virgindade é muito
relativo. A mulher pratica atos sexuais não necessariamente a partir do
rompimento do hímen, mas com sexo anal, sexo oral e outras modalidades,
reveladas somente às quatro paredes. Até sexo cibernético já é possível.
As duas referências, a primeira autoral e a
segunda, do cearense de Várzea Alegre, sacerdote, cômico, político (ex-deputado
Federal cassado), formado em Direito, Filosofia, Ciências, Letras, Jornalismo,
Economia, escritor Padre Antonio Vieira, falecido em 2002 aos 92 anos de idade,
servem muito bem para ilustrar um fato um tanto quanto inusitado, contado
comicamente pelo nosso querido radialista Prudêncio Maranhense, no seu programa
matutino transmitido pela Marques FM de Massapê, cuja audiência é incontestável
e absoluta, no horário. Consta que na década de cinqüenta, o então garoto
Prudêncio, que enterrou o cordão umbilical e perdeu sua dentição de leite no
estado do Maranhão, daí o cognome Prudêncio Maranhense, ouviu, dos mais idosos,
uma história de certa forma cômica, entretanto, trágica.
Ocorreu que, naquela
região paradisíaca dos lençóis maranhenses, os habitantes ribeirinhos para se
deslocarem de uma comunidade à outra, ou até mesmo ao centro urbano mais
próximo, usavam como meio de transporte, canoas a remo, quando não, as voadoras
– espécie de barco motorizado, com capacidade para no máximo dez passageiros,
sem teto e que desenvolve alta velocidade. Parte daquele paraíso natural é
composta de mangues e, quando a maré sobe, dificulta o percurso, de modo que,
nos leitos estreitos, a embarcação é obrigada passar por debaixo das árvores
aquáticas, comprometendo, de certa forma, a segurança dos incautos passageiros.
Em certa travessia, Dona Chiquinha, uma octogenária dentre os passageiros,
deveras, esperta até por demais, apesar da idade, era marinheira de primeira
viajem, que, obviamente, foi alertada pelo piloto, para se agachar, abaixando a
cabeça, no sentido de se livrar dos paus à sua frente, ante ao seu sobreaviso.
Indagada pelo piloto, se tinha netos, a mulher foi taxativa: - “Nem netos,
muito menos filhos. Sou virgem e morrerei virgem. Isto aqui meu amigo, só a
terra há de comer” – dirigindo sua mão para a região “genitaliana”. Não demorou
dez minutos daquela que seria uma viajem tranquila, o precavido piloto, mais
conhecido por Mestre Zé do Mangue Fundo, que acumulava vasta experiência ao
longo do seu ofício, gritou: - Dona Chiquinha, olha o pau!!! Dona Chiquinha,
que estava acomodada bem à vontade, não pensou duas vezes. Ao invés de curvar a
cabeça, a devota de castidade fechou as pernas. Pena que o seu último desejo
não foi realizado, em parte, isto porque, não lhe comeu, a terra; mas, as
piranhas famintas das límpidas e transparentes águas dos lençóis maranhenses,
haja vista, que seu corpo virgem jamais foi encontrado naquela
redondeza.
Do livro: Crônicas Alegres & Algo
Mais – pág. 441. Autor: Ferreirinha de Massapê.
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