A
combinação desses dois fenômenos, literalmente sobrenaturais, dá no que dá: um
tsunami de proporções inimagináveis, com ondas coloridas de até 40, 45 metros
de altura, invadindo casas, ruas, bairros e distritos de Massapê, provocando
uma série de arrastões, carreatas e passeatas. Desde o início da atual campanha
eleitoral, a seguir, um resumo imparcial dos fatos inusitados e curiosos que eu
vi, dos dois lados. Eu vi, um Cabeça-de-Fita que se encontrava em Sobral,
dispensar carona para Massapê em uma ambulância, pagando sua passagem no
transporte coletivo, pelo simples fato de não votar no político do poder
situacionista. E eu perguntei: – Se o
seu pai necessitasse de um transporte ambulatorial para ser socorrido e não
tivesse outro meio, o que você faria? Ele morreria – respondeu-me friamente, o
sem tutano cefálico. Eu vi, por várias vezes, uma idosa “avermelhada” fazer o
“Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, toda vez que algum carro de som da
Onda Azul passava defronte sua residência. Ela, da sua calçada, com um terço
nas mãos (de cor vermelha, é claro), fazia promessas e mais promessas para
todos os santos, notadamente o santo das causas impossíveis e urgentes – Santo
Expedito. E bota fé. Acontece que santo não vota. Eu percebi que nesta época das
eleições municipais, as pessoas pintam a fachada das suas residências nas cores
vermelha ou azul, dependo da sua agremiação política. Eu vi um alcoólatra em
abstinência, jurar que se o Mar Vermelho engolir a Onda Azul, tomará porres e
mais porres durante dias consecutivos; entretanto, se acontecer o contrário,
deveras chateado, beberá somente um dia. Eu vi um Azulão roxo, muito farrista,
completar 40 anos de idade e não comemorar o seu aniversário, simplesmente por
coincidir com o número da coligação oposta. O outro, apaixonado pelo número 45,
estava na fila da agência do Banco do Brasil, ocasião que o painel eletrônico
anunciou sua senha de número 40, ele adiou o atendimento, repassando-a para o
cliente que estava atrás. Até crianças eu vi, nas calçadas das suas casas
cantarem músicas do Lado de Lá e do Lado de Cá, pulando, gritando e por
incrível que pareça, brigando, trocando chutes e pontapés. “Ora, se os adultos
brigam, porque nós também não podemos fazer o mesmo?” – imagino que assim
pensam e indagam. Mas briga feia mesmo, foi a que eu vi, de mulher com mulher.
As duas, rolando ao chão, atracadas pelos cabelos, defendiam seus políticos com
unhas e dentes, ou melhor, só com os cabelos. Nos comícios multicoloridos, nas
emissoras de rádio e nos carros de som, comumente o que se ouve, são expressões pejorativas. Um
diz “é mentira”; o outro exclama “o nosso eterno senador”; um afirma
“ex-suplente de deputado estadual”; o outro se orgulha “eu fiz isso”; um perde o decoro com “seus
marginais”; o outro promete “eu vou fazer aquilo”; um revela “seus
forasteiros”; o outro esbraveja “a presidente do Brasil está do nosso lado”;
enquanto um diz “O Massapeense do Século, está do Lado de Cá”, etc. e tal. A
verdade é ninguém quer ficar por baixo, claro. Eu vi eleitores Ficha Suja
atrasarem e acumularem propositadamente por dois, três meses, suas contas de
água e luz, para levar vantagem diante dos políticos Ficha Limpa. Se esquecem
que a Lei da Ficha Limpa, é o eleitor de cara nova. Ora, até a igreja católica
adiou do dia 3 para o dia 6 de outubro, o final dos festejos religiosos de São
Francisco! Eu vi até um simpático palhaço, pegando carona em uma Onda Azul com
o deputado federal por São Paulo, o cearense Tiririca, com o intuito de
moralizar a nossa política municipal. É o chamado voto de protesto, já
imaginava o grande pensador alemão Berthold Brecht. Se dependesse das crianças,
o palhaço seria eleito. Acontece que criança não vota. Parece até que vivemos
num mundo imaginário de “Alice no País das Maravilhas”. E tudo são flores.
Flores azuis e vermelhas. As primeiras, com o aroma das violetas do “Campo”; as
segundas, com a beleza das orquídeas da “Selva de Pedras”. Teve um “Doidim
Ensapatado”, filhote de Cabeça-de-Fita da gema, que apesar de freqüentar a
escola a semana inteira, foi considerado ausente, pois, quando o professor
fazia a chamada, ele não respondia “presente”. É que o seu número de chamada na
escola era 45. A diretora do estabelecimento educacional teve que substituir
por outro o número do aluno, sob pena de responder criminalmente por bullying. É brincadeira... Revoadas de
Tucanos e Cabeças-de-Fita se debandam e vêm de outras cidades, da capital
cearense e até de outros estados, visitar o habitat natural, para demarcar o
seu território no dia da eleição, com unhas e dentes, ou melhor, com o voto. Eu
vi um filhote de Tucano não comprar um pen-drive em uma lan house, só porque o
dispositivo eletrônico tinha a cor vermelha. Eu vi Cabeças-de-Fita e Tucanos se
agredirem moralmente e fisicamente, ao final, com asas e bicos quebrados,
somente porque um invadiu o território do outro, mas que besteira!. Eu vi
desavenças maritais com promessas e juras de separação eterna, se o candidato
de um dos cônjuges for ou não eleito. O guarda-roupa desses fanáticos
eleitores, ganha novas cores (azul, vermelha e até amarela), e os mais
esperançosos, o verde. Eu mesmo fui vítima de chacota, um certo dia, por ter
saído às ruas de nossa cidade com uma camisa de cor azul, que eu tanto gosto.
“Ferreirinha, virou, né!” – foi esse o comentário. Eu vi um Tucano roxo, por
interesse meramente pessoal, mudar de plumagem da noite para o dia, e nas
grandes concentrações públicas, se exibir posicionado no galho mais alto da
árvore genealógica Cabeça-Fitana, estufando o peito e empinando o bico (ainda
tucaneado), para mostrar a todos o poder do seu peso. Que peso? Quiçá, da sua
consciência, do enorme bico ou da sua crista? Eu vi um octogenário “Vermelho
Sangue de Boi”, que mal consegue se locomover e enxergar, dizer que é uma
questão de honra votar no seu candidato, no dia 7 de outubro. Como que vota? Eu
juro que não sei. Vi outro, “Azul da Cor do Céu”, com graves problemas
cardíacos, registrar testamento em cartório, da seguinte forma: Se o candidato
dele perder, ele também vai para o “beleleu”, mas à estilo e rigor, e com todas
as honras – o funeral azul, com flores azuis, caixão azul, túmulo pintado de
azul e o público presente vestido de azul. “Ah, não se esqueçam de cobrir a
urna funerária com uma bandeira azul” – lembrou o finado, ou melhor, fanático
eleitor. Este sim, nas suas veias, com certeza, corre sangue azul. Eu vi um
eleitor “Tucano Doente”, árbitro de futebol amador, apitar um jogo e deixar
rolar solto, sem aplicar faltas graves só para não usar o cartão amarelo,
imagine o vermelho! A cidade efervesce neste verão, com temperaturas altíssimas
oscilando entre 40º e 45º (na sombra), embalando uma legião de fanáticos que
faz inveja à qualquer grupo radical, extremista e fundamentalista islâmico, por
exemplos, Al Kaida e Talibã. Nas ruas, o
que se vê e se ouve à todo momento, são: Pipocos de fogos de artifício (de dia,
de noite e até de madrugada); propagandas auditivas acima dos decibéis
permitidos; bandeiras coloridas flamulando aos fortes ventos de até 40, 45 km
por hora; espionagem e jogo de contra-informação; panfletagens; propostas de
emprego relâmpago; paródias com letras provocativas; conversas ao pé-de-ouvido;
tapinhas nas costas; visitas domiciliares dia e noite, e de madrugada também;
um vira-vira de eleitores; piadas de mal gosto; peidos na boca; risadas
provocativas; tumultos generalizados; eleitores com a cara de poucos amigos;
bate-boca nos bares e comércio em geral; rogações de pragas e macumbas; e
quando não, ofensas de baixo calão, como por exemplo, a de um eleitor 40 que peidou
na boca provocando um eleitor 45, que revidou dizendo: “Triste da mãe que tem
um filho que faz da boca um monossílabo sintático fétido, formado com as letras
“c” e “u”. No bairro que moro, eu vi um tubarão faminto do Oceano Azul, (agindo
mais com a emoção do que com a razão), dizer que o seu vizinho do Mar Vermelho
– um doente em estado quase terminal, não sobreviverá até o dia 7 de outubro.
Que absurdo! Absurdo que nada. Foi tiro e queda. Três semanas após enterraram o
corpo do Cabeça-de-Fita! Mais absurdo ainda: Eu vi um Cabeça-de-Fita do
Paraguai, revestido de plumagem amarelada, comemorar o trágico fim de um
infeliz Tucano, sob a alegação de que seria um voto a menos. “Isto não é coisa
que se faça!” – reagiu um velho Cabeça-de-Fita, que concluiu: – “Cabeça-de-Fita
que se preza, não muda a cor da plumagem. É escarlate até morrer e ponto
final”. Eu vi, um foragido da Justiça “Sangue Bom”, ou melhor, “Sangue Azul”,
comentar a possibilidade de votar no dia da eleição, para só depois se
apresentar à autoridade competente; conquanto, vi um enfermo já todo
“avermelhado”, sentindo convulsões, no leito hospitalar, com temperatura
corporal de 40º, antecipar sua alta por
conta própria, também para fazer o mesmo. Eu vi o governador do Ceará, no seu
primeiro comício em Massapê, acometer-se de um leve mal-estar no palco e
solicitar água à sua assessoria; conquanto, um curioso e intrometido filhote de
Tucano, que estava ao meu lado, dizer: - “Governador, em Massapê faz tempo que
não tem água”. Pena que o político não ouviu, e de tal sorte, que, os que
estavam à nossa volta, também não ouviram. Um cardume de “Peixes Pequenos” do
Oceano Azul ameaçou realizar protestos pacíficos, com figurantes transportando
baldes e potes com rodilhas na cabeça. Ainda bem que os Tubarões azulados
acharam por bem, que não. Senão, o ato festivo correria o risco de se
transformar num campo de batalha. O outro, mais azulado ainda, desconfiou,
alegando que aquele que estava no palco, era um sósia do chefe do executivo
estadual. E ao final daquele comício, um Cabeça-de-Fita até nas profundezas dos
quintos do inferno, protestou: - “Porque o maior líder político dos 40 não
discursou?” É mole ou quer mais? Nos
três meses que antecedem as eleições municipais 2012, eu vi simpatizantes das
duas aves mascotes se intrigarem de “Sangue a Fogo”, sem mais e nem menos;
conquanto, eles, os políticos dos dois lados, se confraternizarem apadrinhando
seus pupilos na capital alencarina. Em Massapê, nesta época, tudo se acaba em
festa e se aposta de tudo, sem medir consequências: Casa, terreno, carro, moto,
dinheiro, gado, porco, galinha e se possível, até a sogra. É claro, sem antes
deixar de fazer uma visitinha básica ao seu vidente ou terreiro de macumba, e
salve-se quem puder. E por falar em vidente, teve um, que prenunciou a vitória
da coligação “Do Povo para o Povo”, conquanto, pesquisas indicam a vitória da
coligação A Força do Novo Tempo.
Até lá, quem viveu, verás. A verdade é que o
povo, dividido meio a meio, neste período respira política e se alimenta de
política. Tem loucos que fazem promessas diabólicas para vender sua alma ao
Lúcifer, se o seu candidato for eleito. Não fazendo apologia ao crime, eu vi um
eleitor “encarnado” de raiva, se comprometer matar e até se suicidar, no caso
de derrota do seu candidato. Eu lhe sugeri a segunda alternativa. Acredite se
quiser! Eu ouvi uma jovem prostituta dizer que iria pintar a metade do coro
cabeludo que cobre o símbolo da sua feminidade, na cor azul, e a outra metade,
na cor vermelha, para agradar Gregos & Troianos. E digo mais. Eu mesmo
recebi uma proposta um tanto quanto indecorosa e inusitada, de uma “Garota de
Programa”, que me propôs uma aposta da seguinte forma: Manter três meses de
relação sexual comigo, duas vezes por semana, sem nenhum custo financeiro, se o
meu candidato ganhar a eleição. Se o candidato dela ganhar, eu pagarei a aposta
com a minha TV usada e velha, preto & branco, de 14 polegadas, faltando
dois botões, com a antena interna quebrada, feito gambiarra com uma palha de
Bombril, sem controle remoto, sem saída de áudio e vídeo e que só funciona na
porrada. Desespero ou excesso de confiança? Nenhum dos dois. É uma doença
infecto-contagiosa e por incrível que pareça, contagiante e alucinógena, pois,
atinge a todos, sem exceção. Eu diria, uma endemia, com duas grandes forças
políticas, representadas simbolicamente pela coloração exuberante das exóticas
plumagens do Cabeça-de-Fita e do Tucano. É melhor parar por aqui, senão, o que
seria uma crônica, poderá se tornar um
livreto. Enquanto isso, eu, daqui da minha prancha colorida, continuo surfando
na imensidão desse Mar Vermelho, pegando carona em uma enorme Onda Azul,
aguardando a bonança que virá após a tempestade, com a certeza que o Astro Rei
Sol, nascerá no dia 8 de outubro de 2012, restando saber, se os seus raios
surgirão no horizonte massapeense com as cores vermelha ou azul...
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