Parabéns
aos mais jovens eleitos prefeito e vice-prefeita de Massapê, os primos carnais Antonio
José Albuquerque e Kelvya Albuquerque, que conquistaram triunfalmente as
eleições municipais de 2012, com expressiva e histórica vantagem de 1078 votos.
O povo massapeense, desta feita, um “Rei com Memória”, sabiamente escolheu,
para administrar sua cidade no quadriênio 2013/2016, dois jovens que se despontam
na vida pública. Se para eles o primeiro e pequeno passo no universo político, para
nós, um grande salto com relação ao progresso e bem-estar da atual e das
futuras gerações. Tudo, no ciclo da vida, tem o seu tempo, isto é uma concepção
criacionista/naturalista. Após dezesseis anos no poder, a coligação “Do Povo
para o Povo” se despede, diga-se de passagem, de cabeça erguida, quiçá, com a
consciência do dever cumprido. Mas muito tem que ser feito, ainda. E essa é a
bola da vez. Sob todos os aspectos sociais, esperamos avanços na saúde,
educação, segurança, geração de renda e emprego, etc., não se esquecendo da
nossa cultura, que sempre foi renegada ao longo do tempo. A seguir, faço
algumas considerações e referências com conhecimento de causa, sobre a referida
pasta. Uma secretaria da Cultura, que serve apenas e tão somente de cabide de
emprego; que tem no seu quadro de pessoal, mais de dez funcionários e que
apenas uns três batem cartão de ponto, é inconcebível. E os que marcam
presença, ficam, o dia inteiro, coçando o “sapo”. Os demais só aparecem no
final do mês (no banco), para receberem seus proventos, pois que, têm outras
atividades profissionais, portanto, sem tempo para o acúmulo e exercício das duas
funções, gerando, de tal forma, a famigerada concentração de renda. A partir de
2013, espera-se a formação de uma equipe comprometida com o resgate da nossa rica
cultura, que não se restringe às festas juninas, carnaval, reisado e malhação
do Judas. Depoimentos e entrevistas feitas em campo, com cidadãos de idade
avançada e figuras folclóricas com o dom e a arte de contação de histórias, são
necessárias, para trazer à tona, algo mais sobre os fatos e acontecimentos que
chamaram a atenção dos massapeenses, e que ficaram registrados de forma verbal,
na nossa história. Só para ilustrar: O Governo Preto, A Saga de Milton &
Cléa, Cruz da Joana, Gruta da Nega, Aguiar X Cunha – O Confronto Fatal, Índios
Tapuios & Olho D’água da Racha, Os Teixeira - Remanescentes de Quilombolas,
etc., merecem a atenção do poder público, para o resgate e preservação da nossa
cultura, através de apoio logístico com registros escritos e documentários em
áudio e vídeo. A memória do nosso histórico e centenário município, está
intrinsecamente correlacionada com a história do Brasil (pouquíssimas pessoas sabem
disso). Em um dos meus seis livros escritos e não publicados – “Histórias que
me contaram de Massapê”, eu descrevo, justificando com prova documental e
material, que o 1º prefeito (e não o 1º intendente) de Massapê – Coronel João
Arruda (1915 a 1918), é bisneto do português Amaro Dias Arruda – “O Patriarca
dos Arruda no Ceará”. Em qualquer livro de História do Brasil, lemos:
“Em 1807 Napoleão Bonaparte decretou o
chamado Bloqueio Continental, que visava enfrentar e enfraquecer a Inglaterra.
Nessa ocasião, Portugal era governado pelo regente dom João, que governava no
lugar de sua mãe, dona Maria I, reconhecida como louca e, portanto impedida de
governar. Coube a ele a decisão de manter o comércio com a Inglaterra e
desobedecer ao Bloqueio Continental, dessa forma desafiando os anseios de
Napoleão, pois, tal atitude significava a invasão de Portugal pelos franceses.
Para o príncipe regente dom João existiam apenas duas possibilidades: A de
permanecer em Portugal e ser dominado por Napoleão Bonaparte, ou refugiar para
o Brasil, sua maior colônia. A ameaça de invasão determinou a escolha pela fuga
de dom João e toda família Real e da sua Corte para o Brasil, antes da chegada
do poderoso exército francês. Saído às pressas de Portugal, auxiliado pela
Inglaterra, dom João veio para o Brasil acompanhado de mais de 10.000 ( * )
pessoas, entre elas: ministros, conselheiros, oficiais do Exército e da
Marinha, comerciantes, membros da nobreza, entre outros. Foram usadas 8 naus, 5
fragatas e 30 navios mercantes para transportar toda essa gente, com suas
riquezas, documentos, bibliotecas, coleções de arte e tudo mais que puderam
embarcar. Em 22 de janeiro de 1808, após dois meses de viajem, chegaram
primeiramente em Salvador e, em seguida, dirigiram-se para o Rio de Janeiro. E,
no dia 7 de março de 1808, a pequena cidade Carioca foi transtornada pela
invasão repentina de milhares de visitantes ricos e ilustres, que eram membros
da Corte Real portuguesa e que fugiram do avanço das tropas de Napoleão na
Europa”.
( * ) O
português Amaro José Arruda – “O Patriarca dos Arruda no Ceará”, dentre àquelas
10.000 pessoas, foi um dos convidados especiais do rei Dom João VI para
colonizar o Brasil, em 1808 se instalando a noroeste da então província do Ceará, notadamente na margem
direita do rio Raiz do Canto (desde 1907, margem direita do açude Acaraú-Mirim),
na localidade denominada Oiticará, Massapê. Recebeu da Coroa Portuguesa títulos
e mais títulos de terra, tornando-se senhor feudal, dono de vários escravos.
Casas foram construídas num raio de aproximadamente 500 metros do monumento dos
Arrudas, conforme nos deparamos com alguns alicerces. Uma das fontes de renda
dos Arruda consistia no curtimento de couro, conforme catalogamos seis tanques
de pedra, localizados próximos às suas residências.
Vestígios
da mão-de-obra escrava, atualmente em ruínas, é a cerca de pedra para demarcar
divisas, localizada ao lado do Monumento Histórico, Cultural e Religioso dos
Arruda no Oiticará, conforme foto abaixo.
Nos
primórdios da nossa cidade, as residências eram eqüidistantes uma da outra,
formando-se pequenos povoados. Em 31 de dezembro de 1881 com a inauguração da
estrada de ferro interligando Sobral, via Massapê até Camocim, os engenheiros,
sabiamente fizeram o traçado da via férrea em linha reta, passando por onde
hoje é o bairro Nossa Senhora de Fátima, com a construção da estação ferroviária
ao lado da avenida senador Ozires Pontes, dando seqüência em linha reta sentido
Senador Sá, pelo bairro Rodagem. Trajeto esse muito bem arquitetado pelos
engenheiros, por questão de contenção de despesas, com economia de matéria prima,
tempo, mão-de-obra e recursos financeiros, pois, não teria lógica alterar o
traçado para passar pelo Oiticará (em forma de V), tornando o trecho da obra
inviável financeiramente. Ocorreu que os moradores da região do Oiticará,
notadamente os Arruda, migraram e se estabeleceram nas imediações da estação
ferroviária, para usufruírem do progresso, dando início à concentração de um
pequeno povoado. Não fosse isto, a localização da sede do município de Massapê,
seria no Oiticará. A elevação do povoado à categoria de vila provém da lei nº
398, de 25 de setembro de 1897, com o nome de Vila da Serra Verde, tendo sido
instalada a 5 de fevereiro de 1898, com a elevação à categoria de município, ou
seja, se emancipando politicamente, tendo como 1º intendente o cidadão João
Adeodato Ferreira (1898 a 1899). “Intendente” foi uma designação que até o
final do século XX se deu aos chefes do poder executivo municipal, hoje prefeitos.
Placa em auto relevo no busto do coronel João Arruda: “A cidade de Massapê – ao seu primeiro prefeito iniciador do progresso do município”.
Filho do
capitão Miguel Arruda, neto de João José Arruda e bisneto do português Amaro
José Arruda (o patriarca dos Arrudas no Ceará), o prefeito coronel João Arruda,
recebeu merecida homenagem póstuma na administração do prefeito Antony Frota
Aguiar (nomeado em 1945 e eleito de 1951 a 1955), com seu busto, erguido na
praça que leva o seu nome, até meados da década setenta mais conhecida por
Praça da Estação, onde atualmente abriga o Parque das Crianças.
A árvore
genealógica dos Arrudas, consta em auto relevo no monumento dos Arrudas, no
Oiticará, restaurado em 25 de setembro de 2005, com missa campal celebrada por
dom Antonio Fernando Saburido (5º bispo da diocese de Sobral) e padre Zenóbio
Gomes da Silveira. Na alusiva comemoração, estiveram presentes as autoridades
municipais, bem como, expressiva concentração de fiéis católicos massapeenses e
de outras plagas.
“Oiticará: o alicerce de Massapê e o berço
dos Arrudas no Ceará” -
(Ferreirinha).
Cultura, é também resgatar um passado ainda
que longínquo, que remonta séculos, quiçá, milênios, conforme a existência de três
sítios arqueológicos encontrados em Massapê: A Pedra do Sino e a Pedra da
Viola, localizadas no Tucuns dos Arrudas; a Pedra do Pavão na localidade Terra
Nova e o Paredão do Córrego da Onça, com inscrições e gravuras rupestres feitas
pelos índios Tapuios.
Enfim, como já dizia a letra de uma música
da campanha vitoriosa, “é tempo de ter coragem e tomar decisão!” O cidadão
massapeense, aguarda, ansioso, a instalação de um governo municipal, pautado pela
força do trabalho e não pela retórica. Um povo se identifica pela sua cultura,
daí a feliz combinação do título da matéria: Da Idade da Pedra para A Força do
Novo Tempo.
Raimundo
Ferreira Sousa (Ferreirinha) – formado bacharel em Direito, é escritor e
historiador.
Ferreirinha, li o seu artigo todo e vi as fotos maravilhosas. Você é um artista e escreve muito bem
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