PONTE
SEM RIO
Aproveitando o gancho do escritor massapeense Osvaldo Aguiar no seu livro “Massapê em Foco –
1898-1968 (Achegas à sua história, sob vários aspectos)”, ocasião que descreve:
“Nas regiões em estado embrionário de
civilização, a política, longe de ser a mola dinâmica do progresso e do
bem-estar social, é a mãe fecunda da rotina e da discórdia”, me fez lembrar
o que diziam as línguas desocupadas, nas décadas oitenta e noventa, de que um
certo candidato a deputado estadual em plena campanha eleitoral, participava de
um comício no distrito de Mumbaba de Baixo (Massapê), e na euforia do seu discurso
cometeu uma gafe, mas conseguiu se safar de forma inteligentíssima, senão
vejamos:
- ...Meu povo querido do Mumbaba de Baixo, vote em mim, porque se eu for eleito,
mandarei fazer aqui neste acolhedor distrito, uma enorme ponte de cimento,
igualzinha àquela que o meu avô fez por sobre o rio Contendas em Massapê!!!
Os aplausos foram constantes e quase
que intermináveis, quando ali ao lado do palanque, um caboclo mumbabense,
inteligente e curioso, que assistia a tudo, solicitou do ilustre candidato um
aparte. E de posse do microfone indagou:
- Mas deputado, aqui nem rio tem!!!
-
Cale a sua boca caboclo, vote em mim, pois eu mandarei fazer o rio também!
Aplaudido incessantemente, o jovem
político concluiu o seu discurso de forma triunfal, inclusive, conseguindo se
eleger, graças às promessas mirabolantes, absurdas e impossíveis de cumpri-las,
como por exemplo essa, da Ponte sem Rio.
Do livro: Estórias & Casos com
Causos & Histórias de Massapê –
autor: Ferreirinha.
A venda a prazo de
alimentos, cereais, bebidas e produtos diversos, é prática comum no nosso
interior nordestino. A relação freguês X comerciante, na maioria das vezes, é
uma relação de estreita amizade e confiança mútua. Paga-se por semana, por
quinzena, por mês. Paga-se quando pode. O adágio popular é explícito: “Devo e
não nego, pago quando puder”. É bem verdade que tem contas impagáveis, que
ficam penduradas para o resto da vida. São as compras efetuadas pelos
caloteiros de carteirinha, que enganam comerciantes com estabelecido fixo e
vendedores ambulantes, conhecidos por camelôs ou galegos. Enganam-se até as
vendedoras profissionais do sexo. Mas como assim? Até sexo fiado? Isto mesmo.
Um rapaz, bastante conceituado no seio da sociedade massapeense, que diga-se de
passagem, nunca foi caloteiro, na década oitenta era freqüentador assíduo do
cabaré do Ernesto, vulgo Melado, localizado no bairro Rodagem. O garoto ficou
apaixonado pelo o carinho retribuído por uma prostituta muito fogosa – a C 10.
Era esse o seu apelido, alusão ao lançamento de um carro da Chevrolet, muito
robusto, cujo batismo era C-10. Ele gostava tanto dos préstimos sexuais da
mulher, ao ponto de gastar toda a mesada ofertada pelo seu pai, que na época,
assumiu por pouco tempo o cargo de prefeito de Massapê, por intervenção. O
prefeito tomou conhecimento do vício do filho, que foi repreendido, alertado, e
até ameaçado cortar a mesada. Não teve jeito, o rapaz tornou-se um dependente
sexual, pois continuava gastando com a C-10, todo o dinheiro que ganhava. Ele
se tornou um profundo conhecedor dos mistérios da alma feminina. Ao pai, não
restou outra alternativa, senão, cumprir a ameaça. Cortou sua gorda mesada, mas
nem por isso o garotão deixou de frequentar o prostíbulo. Esgotados os recursos
financeiros e físico também, o filho do prefeito reduziu o ritmo sexual para
duas, no máximo três vezes por semana, com sua parceira predileta, a C-10. E a
cada orgia, ou melhor, visita, após a “prestação dos serviços”, o garanhão, uma
vez saciado, emitia e assinava um vale. Ao completar um mês, a garota de
programa acumulou dez vales assinados pelo seu fiel e apaixonado cliente.
Tímida, a humilde mulher foi até a prefeitura, adentrou ao gabinete do
prefeito, com os vales nas mãos, cada um no valor equivalente a R$ 20,00,
totalizando R$ 200,00. A seguir transcrição do diálogo dos dois, vazado nos
seguintes termos:
- Seu prefeito, eu
vim aqui pedir pro senhor trocar esses dez vales assinados pelo seu filho...
- Da compra de quê,
C-10? – indagou o nobre prefeito.
- Eu não sei ler
não. Olhe aí...
O prefeito,
perplexo, leu de viva voz o conteúdo dos vales, que em cada um assim estava
escrito: “Papai, Vale uma F...”.
Do livro: Estórias & Casos com Causos &
Histórias de Massapê. Autor Ferreirinha.
CAPANGA BOLSA OU CAPANGA BACABAL?
Francisco Lopes de Aguiar Neto – o coronel Chico Lopes, foi
prefeito de Massapê por duas legislaturas: 1967/1971 e 1973/1976. “Coronel”,
como assim gostava de ser tratado, adquiriu a genérica patente, outorgada pela
vã filosofia popular. O político tinha passe livre no Palácio do Governo
cearense, notadamente com os governadores: coronel César Cals (1971/1975),
coronel Adauto Bezerra (1975/1978) e coronel Virgílio Távora (1979/1982). José
Deusdete dos Santos - vulgo Bacabal, (falecido aos 56 anos de idade, dia 16 de
novembro de 2007), vez outra se fazia passar por segurança particular do Chico
Lopes. Na gíria nordestina, ele era uma espécie de capanga do tradicional
político, que lhe confiava a entrega da sua carteira modelo Capanga (moda na
época), contendo documentos pessoais, dinheiro, talão de cheques e um revolver
calibre 38. O primeiro, bebia whisk e o segundo cachaça serrana. Em agosto de
1976, famoso e grande parque de diversão – Ibiapaba, de propriedade de Eduardo
Simão, que se dava ao luxo de dividi-lo em três, passou longa temporada em
Massapê, e tinha como uma das suas principais atrações, além da Roda Gigante
que se sobressaia das dos concorrentes, o Espalha Brasa – uma espécie de
carrossel, montado em uma plataforma de dois metros de altura, cujas cadeiras
penduras por correntes, se espalhavam ao giro do potente motor. O brincante
sentando na cadeira de trás, apoiava os pés e as mãos na cadeira do brincante
da frente, flexionando o seu corpo, de modo que, ao soltar a cadeira, esta
fazia traçados aleatórios, injetando grande quantidade de adrenalina no cérebro
do brincante da frente. Na qualidade de prefeito, Coronel Chico Lopes foi dar
as boas vindas ao parque, ocasião que recebeu generosa quantidade de cortesias,
que ali mesmo foram ligeiramente distribuídas. Bacabal, que não tinha nada de
bobo, logo tratou de pegar a sua, depois pediu licença ao prefeito para
conhecer o Espalha Brasa. Foi, juntamente com a bolsa Capanga do “coronel”, que
transportava debaixo do seu braço. Não deu outra: dez minutos após, o serviço
de som do parque anunciava: - “senhoras e senhores! Interrompemos o nosso
musical para noticiar que Capanga do coronel Chico Lopes caiu do brinquedo Espalha
Brasa”! Rapidamente uma legião de curiosos se aglomerou no local do acidente.
Chico Lopes, que àquela altura, já tinha tomado todas, imediatamente foi até lá
e se deparou com o seu capanga Bacabal, em estado de agonia, gemendo não pelo
acidente em si, mas em conseqüência da combinação de álcool com o giro do
carrossel. É que Bacabal foi literalmente ejetado com sua cadeira, de sorte que
caiu cerca de vinte metros adiante, derrapando em um amontoado de areia,
causando-lhe apenas pequenas escoriações nas costas. A seguir, transcrição do
diálogo dos dois e de um curioso que presenciou tudo:
- Veja,
coronel. Capanga no chão – disse o rapaz.
- Mas qual? Capanga
bolsa ou capanga Bacabal? – indagou o coronel Chico Lopes que àquela altura
estava preocupado com a sua bolsa Capanga.
- Os
dois, coronel! – se justificou Bacabal.
- Meu
capanga Bacabal, cadê a minha capanga???
- Coronel, seu
capanga quase morreu! Mas a sua capanga está aqui, debaixo do meu sovaco,
salva, sem nenhum arranhão!
- É por isso que eu
gosto de você, Bacabal. “De primeiro”, tu era meu capanga, depois passou a ser
o meu segurança particular, e agora, com justa e merecida recompensa, eu te
promovo para o ser o meu mais novo guarda-costas!
- Guarde a minha,
coronel, ela está todinha arranhada... – se lamentou o capanga Bacabal, que
caiu ao chão, mas não deixou cair a capanga do seu patrão, o coronel Chico
Lopes.
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