José Maria Azevedo de saudosa memória
(*03/02/1932 +09/08/2009), ingressou na política municipal massapeense em 15 de
novembro de 1970, eleito vereador (cargo não remunerado) com expressivos 408
votos a favor, de um contingente de 2.379 eleitores, filiado a ARENA 2(Aliança
Renovadora Nacional). Em 1972 renunciou ao mandato de vereador e concorreu às
eleições majoritárias para prefeito de Massapê, tendo como companheiro de
chapa, Zé Albino, perdendo apenas com cento e poucos votos de diferença para o
seu opositor Francisco Lopes de Aguiar Neto. Concorreu novamente em 1976 (seu
vice Evandro Rodrigues) e o vitorioso desta feita foi Beto Lira. Em setembro e
outubro de 1988 ocupou a cadeira número 1 do Paço Municipal na qualidade de
interventor. Nas eleições de 1972 o
mascote da sua campanha era uma vassoura, fazendo alusão ao símbolo de campanha
do presidente da República Jânio Quadros (31/01 a 25/08/1961), segundo ele, no
sentido de varrer a sujeita instalada pelo grupo situacionista. Nas passeatas
pelo centro da nossa cidade, se via uma multidão de eleitores, literalmente
varrendo as ruas, cada um com uma vassoura a tiracolo, cantando: Varre, varre, varre vassourinha... Os
eleitores mais fanáticos transportavam na cabeça potes e baldes com água e
sabão Pavão (é o novo!). A Justiça Eleitoral à época, não era tão exigente, e
permitia que os candidatos promovessem festas com Comes & Bebes no interior
das suas próprias residências. E, no “Terreiro da Casa Branca”, animadas festas
com o Forró Chapéu de Rola sob a batuta do sanfoneiro Deca Juvêncio, raiavam o
dia na residência oficial do popular político Zé Maria Azevedo. Abatiam-se bois,
porcos, cabras e galinhas para servir aos convidados em grandes banquetes, que,
via de regra, eram ofertados ao povo logo após a votação. Os eleitores da zona
rural tinham até transporte (pau-de-arara) à disposição, para trazê-los e
levá-los, tudo por conta exclusiva do seu candidato. A figura do cabo eleitoral
– homem de confiança do candidato e de respaldo político junto à sua
comunidade, era peça fundamental e preponderante para o sucesso da campanha
eleitoral e, por consequência, a tão almejada vitória. Um desses cabos
eleitorais era Luiz Oim – que foi incumbido por Zé Maria Azevedo para fazer uma
pesquisa de intenção de votos no distrito Tangente, distante cerca de 20 kms de
Massapê, cuja secção eleitoral à época, atingia aproximadamente 200 eleitores
aptos a votar. Ibope por aqui, muito menos por lá, não existia e tudo era “feito
nas coxas”, como diz um velho adágio popular. Luiz Oim (que além de alcoólatra
era vesgo, daí a justificativa do apelido), passou três dias em campo, visitando
aquele simpático distrito, com estadia, almoço, janta, merenda, aperitivos e
mais algumas mordomias, sem falar nas aventuras romanescas, tudo por conta exclusiva
do seu apadrinhado político. Ao retornar para Massapê, com um caderno
ligeiramente amassado debaixo do sovaco e caneta apoiada por sobre a orelha, Luiz
Oim se dirigiu ao nobre e conceituado político, aos soluços, perfazendo caminho
de formiga, pois havia consumido generosas doses de cachaça serrana, daquelas
de fazer rosário no copo, envelhecida em tonel de carvalho misturada com
bálsamo. A seguir, transcrição do diálogo entre os dois, vazado nos seguintes
termos:
- Luiz Oim, tu fizestes a pesquisa que
eu encomendei lá no distrito Tangente?
- Fi... fi... fiz, seu Zé Maria, hic, Azevedo...
- Lá, a gente ganha ou não ganha, Luiz
Oim?
- Ga... ga... ganha, seu Zé, hic...
- Com quantos votos de vantagem, Luiz Oim?
Luiz
Oim, que mal conseguia se equilibrar, abriu o caderno de anotações contendo
algumas fichas da tão esperada pesquisa, improvisou alguns rabiscos, tentou
arregalar os olhos (como que arregala?), e respondeu taxativamente:
- Seu Zé Maria, hic, Azevedo, segundo meus cálculos, hic, lá no Tangente, o senhor ganha é de lavagem, hic...
- Sim, mas me diga com quantos votos de
diferença?
- Hic...
Pra mais de 500! – respondeu o ingênuo cabo eleitoral sem noções de números
absolutos. O experiente político, que tinha como traços de personalidade,
humildade e paciência franciscanas, deu largo sorriso e alfinetou:
- Luiz Oim, abre o olho. Além de vesgo,
cego e bêbado, tu também é um doido “varrido”. No Tangente não tem 200
eleitores, como é que eu ganho por lá com mais de 500 votos de diferença?
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Mazim
Lira (1º), pref. de Moraújo Raimundo Lúcio (2º), Zé Maria Azevedo (5º), ver.
Manoel Coelho do Tangente (6º), pref. Beto
Lira e presidente da Câmara, o ver. Chico Machado (7º e 8º) – por ocasião do 1º
seminário para novos prefeitos do Ceará, ocorrido em Fortaleza, de 10 a 14 de
janeiro de 1977.
Fotografia
- fonte: Chico Machado.
Do livro:
Histórias que me contaram de Massapê – autor: Ferreirinha.
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